Automobilismo

Nasr e Sauber falam sobre perspectivas do time em 2015

2015


27/01/2015

À medida que se aproxima o primeiro treino do novo carro da Sauber, o modelo C34-Ferrari, cresce a ansiedade de Felipe Nasr, brasiliense de 22 anos, próximo brasileiro a estrear na F-1. “Fiz tudo certo até aqui, segui, com sucesso, a formação passo a passo de um piloto e no ano passado já fui piloto de testes da Williams, por isso me sinto preparado.

Estou contando os dias que faltam para acelerar o carro, o meu primeiro F-1, já que será com ele disputarei o campeonato”, disse Nasr, em Londres, com exclusividade, ao GloboEsporte.com.

A Sauber já divulgou o programa de testes no Circuito de Jerez de la Frontera, na Espanha, de domingo a quarta-feira, local da primeira série de testes da F-1. Nasr vai pilotar o C34 dias 2 e 3, enquanto o seu companheiro, o sueco Marcus Ericsson, com uma temporada de experiência na Caterham, no ano passado, testa dias 1.º e 4. O assessor do time suíço, Hanspeter Brack, disse que “a equipe trabalha em tempo integral para apresentar o C34 no autódromo, antes de os treinos começarem”, como farão Mercedes, RBR e STR.

Nasr deu mais detalhes antes da estreia na Sauber: “Tenho conversado com o meu engenheiro (o inglês Craig Gardiner) todo dia, trocamos muitas informações. Ele me diz que está tudo dentro do cronograma da equipe. Eu e o Marcus vamos para Hinwil (sede da Sauber, próxima a Zurique), esta semana, e depois iremos todos juntos para Jerez. O ânimo da equipe é incrível. Eles querem de todas as formas ter um ano oposto ao que foi 2014”.

Desde a sua estreia na F-1, em 1993, a Sauber nunca havia deixado de marcar pontos, como ocorreu no ano passado, o pior da sua história. Em 2014, a organização suíça ficou atrás da Marussia e à frente apenas da Caterham, na décima colocação. A Sauber já foi vice-campeã, em 2007, quando a maior sócia era a BMW, seu orçamento, outro, e os pilotos eram Robert Kubica e Nick Heidfeld.

Os muitos problemas da Sauber, em 2014, decorreram principalmente das exigências financeiras elevadas da tecnologia das unidades motrizes híbridas, da falta de competitividade do chassi do modelo C33 e da unidade da Ferrari, utilizada pela escuderia. Hanspeter Brack disse que a Ferrari cumpriu, este ano, o cronograma de desenvolvimento inicial da nova unidade motriz, permitida pelo regulamento. “Eles nos entregaram no prazo combinado também.” Um atraso teria implicações na construção do modelo C34.

Orçamento melhor que o de 2014 para a Sauber

Com os dois pilotos levando importantes somas dos patrocinadores, o orçamento da Sauber, este ano, será melhor que o de 2014, o que abre a perspectiva de o C34 poder ser desenvolvido ao longo do campeonato. Apesar do décimo lugar entre os construtores, no ano passado, a Formula One Management (FOM) repassou para o time US$ 40 milhões (R$ 100 milhões). O novo Pacto da Concórdia, em vigor este ano, garantiu aporte de dinheiro às escuderias bem maior que até então.

A FIA não distribui dinheiro na F-1, ele vem sempre da FOM, empresa do grupo responsável pela exploração dos direitos comerciais. A FIA cobra, não paga, e muito dos times pela taxa de inscrição, como foi o caso da Mercedes, que destinou à entidade nada menos de US$ 4 milhões e 706 mil (R$ 11,7 milhões) para ter o direito de disputar o Mundial que vai começar dia 15 de março na Austrália. A Sauber, por não ter marcado pontos, recolheu para a FIA a taxa básica, US$ 500 mil (R$ 1 milhão e 250 mil).

O repasse da FOM para a Sauber já foi feito, o que permitiu à organização dirigida por Monisha Kaltenborn pagar alguns débitos atrasados, potencialmente capazes de atrasar a conclusão do C34 e comprometer uma melhor participação da equipe no campeonato. O principal credor é a Ferrari, que cobra 20 milhões de euros (R$ 62 milhões) pelo fornecimento da unidade motriz, mais 6 milhões de euros (R$ 18,6 milhões) pelo sistema de transmissão.

A relação entre Ferrari e Sauber, no entanto, é antiga e amistosa, remonta aos anos 90, ainda, e mesmo com o atraso nos pagamentos pelo uso da unidade motriz e transmissão, em 2014, nunca os italianos ameaçaram não entregá-los aos suíços. Já a Mercedes mostrou-se mais dura com a Force India. Não fosse a intermediação de Bernie Ecclestone e Vijay Mallya, sócio da Force India, pagar parte do débito aos alemães, a Force India não disputaria o GP da Alemanha do ano passado, pois não teria as unidades motrizes da Mercedes.

“Para as escuderias privadas, o dinheiro sempre teve um papel fundamental”, afirmou Hanspeter Brack. Hoje na F-1 as privadas são Sauber, Force India e Lotus. A RBR, Williams e STR também não têm atrás de si uma montadora de automóveis, que lhes garante um orçamento elevado e a possibilidade de planejar sua participação no Mundial a longo prazo. Mas RBR e STR não têm dificuldades financeiras e não é difícil para a Williams, também, encontrar investidores, diante da sua estrutura de equipe grande e história de sucesso.

Hanspeter Brack comentou, para mostrar as consequências de disputar uma competição tão desigual: “Quanto mais você tem, mais pode investir no desenvolvimento do carro e melhor tende a ser a sua performance”. A esse respeito, Nasr deu ao GloboEsporte.com uma informação promissora: “Temos no programa levar já para a primeira corrida, em Melbourne, um pacote aerodinâmico estudado a partir dos ensinamentos nos testes”. Provavelmente já é um reflexo da condição mais favorável dos suíços.

Apesar do orçamento um pouco melhor este ano, todos na Sauber sabem que será muito importante o modelo C34 ser bem concebido, o que também não foi o que aconteceu em 2014. Se isso acontecer, o carro mostrar-se veloz desde os primeiros momentos, as chances de o orçamento crescer se elevam, pois atrairá novos patrocinadores.

Mesmo assim, é preciso entender que esse orçamento deverá ser modesto. Com o fim da Marussia e possivelmente o da Caterham, a Sauber deverá dispor de algo semelhante ao que terá a STR, estimado em 80 milhões de euros (R$ 250 milhões). Isso representa cerca um terço do que investirão Mercedes, Ferrari, RBR e McLaren-Honda.

Sauber busca fugir do último lugar

Assim, as possibilidades de Sauber e STR disputarem, com regularidade, as últimas colocações, são reais. As duas se equivalem ainda na juventude e quase total falta de experiência de seus pilotos. A STR assinou com o holandês Max Verstappen, de 17 anos, e o espanhol Carlos Sainz Junior, 20 anos, ambos estreantes. Verstappen, inclusive, se tornará o piloto mais jovem da história da competição. Na hipótese de a Sauber andar lá atrás, como faz sentido o fã da F-1 esperar, Nasr terá de aproveitar de todas as formas as corridas ou mesmo sessões de classificação especiais, como disputadas sob chuva, para mostrar seu talento. Ao longo de uma temporada, sempre ocorre uma condição favorável para um piloto, mesmo dispondo de equipamento limitado, demonstrar ser capaz. Fazer a diferença.
Concorrência com companheiro de equipe

E há o parâmetro da concorrência com o companheiro de equipe, a primeira disputa do piloto. Vencê-lo, com alguma frequência, é imperioso. É isso que os profissionais da F-1 observam, não necessariamente a conquista de resultados.

Nunca é demais lembrar que Fernando Alonso, Jarno Trulli e Mark Webber começaram na Minardi, Daniel Ricciardo, a sensação de 2014, na ainda mais carente de recursos HRT, e Kimi Raikkonen e Felipe Massa na própria Sauber. E todos, sem exceção, acabaram depois competindo por escuderias vencedoras, capazes de serem campeãs. Alonso e Raikkonen chegaram ao título.



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