Futebol

Na volta ao Botafogo, Paulo Autuori se declara: “Tudo o que eu sou no Brasil devo à instituição”


13/02/2020

Por GloboEsporte.com

A quinta-feira foi de apresentação oficial no Botafogo. Velho conhecido do torcedor, Paulo Autuori falou como treinador do Alvinegro em coletiva no Nilton Santos. Campeão brasileiro em 1995, ele chegou para o lugar de Alberto Valentim, demitido depois da derrota para o Fluminense na Taça Guanabara.

– Abri mão daquilo que defini para a minha carreira no Brasil porque é o Botafogo e tenho que dar uma reciprocidade para o clube que tudo me proporcionou. Tudo o que eu sou no Brasil é devido à instituição, ao Botafogo. Contribuir para que possamos passar por algumas mudanças e transformações e dar meu contributo junto com o Espinosa – disse Autuori.

Esta será a quarta passagem do treinador pelo Botafogo. Além de 1995 e este ano, o novo técnico também dirigiu o time em 1998 e em 2001. Será, portanto, um reencontro entre o profissional e o Alvinegro após praticamente duas décadas.

Autuori foi tratado como plano A pela diretoria desde a saída de Alberto Valentim. O treinador assinou contrato sem fim de vínculo determinado, com valor dentro do teto de cerca de R$ 200 mil.

– Ele foi o técnico que nos deu o título de campeão brasileiro em 95. Sempre acompanhamos o trabalho de Autuori tanto nacional quanto internacionalmente. Foi uma escolha que nós fizemos através do comitê do futebol e ficamos muito contentes com essa escolha. Tenho certeza que irá nos trazer grandes alegrias conquistas e títulos. Desejamos muito sucesso e que seja bem vindo novamente a sua casa – disse o presidente Nelson Mufarrej.

Veja outras declarações:

Retorno

“Há um orgulho muito grande de poder estar aqui. Meu objetivo é contribuir nesse momento pra que o clube possa ganhar tranquilidade em relação ao seu núcleo de futebol. Esse é o principal motivo do início desse trabalho. O que posso trazer é aquilo que sempre fui ao longo da minha trajetória profissional e pessoal. Me incomoda ouvir “nasci para ganhar”. Ninguém nasce para perder. Momentos da vida nos fazem ter vitórias e outros não. O grande exercício diário é procurar esse equilíbrio e saber estar em ambos os lados. Já não sou o profissional que fui naquele tempo, as coisas mudam. É dar início a esse trabalho e ter tranquilidade para que as coisas aconteçam de acordo com os objetivos que todos sabem quais são”.

Valdir Espinosa

“Não posso começar a falar sem dizer a satisfação e honra de estar ao lado do Espinosa. Sempre nos mostrou que é possível ganhar com vontade e caráter. É um orgulho e satisfação estar no Glorioso. Tudo o que eu sou no Brasil é devido à instituição, ao Botafogo”.

Dificuldades financeiras

“Chego ciente das dificuldades que tem a ver com o futebol brasileiro. O que não posso aceitar (no futebol brasileiro) é que essas coisas se tornem corriqueiras. São valores e princípios inegociáveis. Aceitei o Botafogo porque devo tudo a esse clube. No Fluminense as pessoas envolvidas comigo foram de um caráter extremo, reconheceram a minha saída de lá. Em relação ao Santos, iria ferir meus valores e princípios. Tenho maior orgulho do ambiente criado por dirigentes e profissionais”.

Honda

“Foi uma contratação muito bem feita. É um profissional exemplar e precisamos de referências assim. Vai agregar muito ao grupo em termos técnicos. Foi uma tirada de mestre do clube. Se eu falar japonês com ele, vou contra aquilo de pensar no futebol como um todo. A gente pode falar em outro idioma, ele fala quatro. Num deles posso dar uma beliscadinha”.

Brasileirão de 95

“A partir de hoje não vou mais me referir a esse tempo. Já foi, é a história do clube. Queremos criar um solo fértil. Nosso olhar tem que ser para a frente e dentro dessa nova oportunidade que existe para o Botafogo”.

Calendário

“O futebol brasileiro perdeu coisas importantes que tinha. Possibilidades de participar campeoanto na Europa, até clubes médios faziam. Isso por si só já possibilitaria um intercâmbio. Você via o que acontecia por lá. O calendário do futebol brasileiro é insano. Nós temos que combater isso. O calendário brasileiro é o grande vilão. Em relação aos treinadores brasileiros, você joga a cada três dias e isso é o ano todo. O calendário brasileiro gera pro treinador a necessidade de focar só aqui porque não tem tempo pra nada a não ser pra focar. Isso por si só já gera uma atrofia no reportório em treinos. O calendário exige que a gente foque só na nossa realdade. Isso fez com que ficássemos longe do que estava acontecendo em mudanças no futebol”.

Clube-empresa

“Sinceramente, minha visão é completamente sistêmica. É óbvio que vou estar envolvido, vou me referir ao que tem a ver com o futebol. Uma coisa é informação, outra é conhecimento. Como eu falaria algo sobre o que tenho, de maneira superficial, informações? Agora pra falar de futebol podemos mergulhar fundo”.

Análise de jogadores

“Em nenhum clube que eu passei exigi vinda de jogador. Meu trabalho tem como característica o desenvolvimento do jogador. Outra característica que tenho é usar jogadores com sangue do clube. Cada vez mais o futebol precisa de um trabalho de base bem feito. O Botafogo passou por isso e se hoje o Botafogo tem muitos jogadores da base no clube é muito trabalho do Renha (VP de base). Nem toquei na situação de nomes a serem analisados”.

Perfil dos jogadores

“O importante é que a vinda tenha um critério de necessidade de criar um perfil como Honda e também Marcelo, Carli e que sirva de referência para os mais novos. Principalmente tem que ter uma análise de mercado muito bem feita e tem que ter características claras sobre o que o clube pensa de jogo. Tenho a ideia de unificar, e isso é o que eu gosto, o futebol do clube”.

Como está o Autuori?

“Chego com 63 anos, bem diferente daquele. Clube me proporcionou a oportunidade de ter um título brasileiro com 39 anos. Aquele grupo de 95 foi formado ao longo da competição. Eu chego diferente. A essência do futebol não mudou, que é o talento. Hoje tem muito uma questão de terminologia, último terço, transição. O contexto é completamente diferente. As comparações são odiosas, como se fala em Portugal. Como eu chego? Prefiro expressar nos gestos, atos e atitudes no dia a dia”.

Tempo para trabalhar

“Vou ter o “privilégio” do tempo. Essa indefinição de datas da Copa do Brasil, eu critico. Por isso que acho que temos que entender que enquanto não houver uma visão sistêmica envolvendo as partes, dificilmente veremos espetáculos como temos no futebol europeu. Os projetos de sócio-torcedor têm mostrado que as pessoas estão vendo mais o clube do que apenas o time. Dentro dessa ideia, não vejo dificuldade nenhuma. Ter que jogar dentro de 4, 5, 6 dias é a coisa mais natural e nefasta que tem”.

Rotatividade dos técnicos

“Nada me faz acreditar nisso a não ser a coragem de enfrentar desafios. Falar em pressão no futebol é a coisa mais vulgar do mundo. Quem não estiver preparado para isso, não entre”.



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