Brasil
Mãe não vê filha há seis meses após ser denunciada depois de levar filha ao candomblé
Marcas são superficiais e são sinais de iniciação em alguns locais
17/07/2021
UOL
A mãe Juliana Arcanjo Ferreira, de 33 anos, está há seis meses sem ver a própria filha de 11 anos após ter sido denunciada pelo Ministério Público de São Paulo após levar a filha em uma cerimônia de iniciação no candomblé. Ela foi denunciada por violência doméstica e lesão corporal contra a menina.
Tudo começou quando o pai registrou um boletim de ocorrência na 2ª Delegacia de Defesa da Mulher da cidade acusando a ex-esposa de agredir a filha. Depois disso, o Conselho Tutelar de Campinas, no interior de São Paulo, entregou a criança aos cuidados dele, em 22 de janeiro.
O pai da criança, o design gráfico Bruno Henrique Penedo, 34, declarou que, enquanto sua filha passava o fim de semana com ele, percebeu algumas cicatrizes na menina e a indagou sobre isso. No boletim de ocorrência, as marcas foram registradas como cicatrizes “referentes a cortes feitos por navalha durante ritual religioso” em uma “seita de quimbanda”.
Um exame de corpo de delito do IML (Instituto Médico Legal) apontou que as marcas na menina, localizadas no ombro direito e esquerdo, eram lesões corporais de natureza leve e não causaram incapacidade. Não houve conclusão sobre terem sido feitos sob tortura ou outro meio cruel.
Filha e mãe explicaram que as marcas surgiram após as duas participarem de um rito tradicional no candomblé também chamado de “cura”, realizada no dia 9 de outubro de 2020, em São Paulo, quatro meses antes do registro do boletim de ocorrência. Neste intervalo de tempo, Juliana conta que a filha e o ex-marido estiveram juntos várias vezes e nunca houve nenhum comentário sobre as cicatrizes.
A ialorixá (mãe de santo) Omilade, do terreiro Ègbé N’la Yemoja, na zona Sul de São Paulo, explica que o processo iniciático de alguns segmentos de religiões de matriz africana incluem a escarificação (pequenas incisões praticadas sobre uma superfície), chamadas de “Gbére”, ou, popularmente, como “curas”. Ela explica que o procedimento e as marcas não são danosos e, quando feitas, seguem protocolos de segurança.
“São marcas da comunidade, como acontece em algumas etnias africanas. As Gbére não são profundas, não doem, são marcas importantes designadas na consulta oracular”Ialorixá Omilade, do terreiro Ègbé N’la Yemoja
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