Em novo artigo, o professor Éder Dantas, da UFPB, comenta a morte do professor Luiz de Sousa Júnior, ex-Chefe de gabinete do Reitor Rômulo Polari e ex-Secretário de Educação do município de João Pessoa. Destaca também sua contribuição à luta em defesa do ensino público, como professor, pesquisador, além de cidadão partícipe da vida cultural da cidade.

Luiz Júnior: uma vida dedicada à educação pública

“O sol há de brilhar mais uma vez; a luz há de chegar aos corações; do mal será queimada a semente; o amor será eterno novamente”.

Do poema do Nelson Cavaquinho e ao som de um samba tão amado pelo amigo, consegui vencer o abatimento e retirei a energia para homenagear, neste artigo, o professor, pesquisador, gestor e brilhante intelectual Luiz de Sousa Júnior, falecido esta madrugada, vítima do Covid19. Ele estava internado no Hospital da Unimed, em João Pessoa.

Natural da quente e intrépida Cajazeiras, no Alto Sertão de nossa Paraíba, Luiz Júnior foi meu orientador de doutorado e pude conviver mais intensamente com ele desde que ingressei na UFPB em 2009. Começando sua atuação no movimento estudantil, ele foi um exímio professor e pesquisador na área de financiamento da Educação, com forte atuação junto à Associação Nacional de Política e Administração da Educação –   ANPAE. Atualmente, era coordenador-adjunto para mestrados profissionais da área de Educação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Como gestor, foi Chefe de gabinete do Reitor Rômulo Polari, tendo coordenado a implantação do maior programa de expansão da história da UFPB, o  Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, lançado pelo presidente Lula. Foi Secretário de Educação do município de João Pessoa, tendo iniciado o maior programa de construção de creches que a cidade já viu, numa parceria da prefeitura com o governo Dilma Roussef.

Na militância política, foi ativista do Partido dos Trabalhadores em João Pessoa,  participando de inúmeras reuniões, encontros e palestras ministradas sobre educação e como presidente municipal do partido. Nos movimentos sociais, esteve sempre presente, junto aos sindicatos, grêmios e fóruns em defesa da escola pública, com destaque para a construção e defesa do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB.

Como amigo, lembro de nossas conversas em mesa de botequim. No Bar do Baiano, quantas vezes não nos encontramos para bebemorar e nos deleitarmos ao som de belos chorinhos e conversar sobre política, sobre samba e sobre futebol, em que ele fazia questão de ressaltar sua paixão pelo glorioso Fluminense Futebol Clube. Participante assíduo da vida cultural de João Pessoa, era presença garantida no Carnaval de Rua, em particular, no bloco As Raparigas de Chico Buarque.

Sua morte ocorreu depois de dois meses de resistência contra o vírus da Covid19. Em algumas de suas últimas palavras, ele se colocou como o exemplo de que não poderia haver retorno às aulas sem a vacinação. Vivemos a pior fase da pandemia do Coronavírus e o Brasil, que parece estar em transe, circula normalmente pelas ruas, aglomerando e sem máscara, Enquanto as mortes se multiplicam, em progressão geométrica, o Presidente da República dá a entender que nada tem a ver com o assunto.

Que o exemplo de luta e de resistência de Luiz de Sousa Junior sirva para nos inspirar na defesa do direito à educação como uma peça-chave da construção da democracia, como tem sido a luta, desde os tempos do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, de 1932. Que a sua tragédia pessoal nos sirva de alerta para a necessidade do fortalecimento do sistema de saúde pública e, mais particularmente, do Sistema Único de Saúde – SUS, da ampliação das medidas sanitárias de proteção à vida e de isolamento social.

Viva Luiz Júnior! Viva a escola pública! Viva a universidade pública! Vidas humanas importam! Luiz Júnior, presente!

Éder Dantas – Professor da UFPB.