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Jovial, Ney faz 75 anos sem aparentar a idade no palco, nos discos e na vida

JOVIALIDADE


01/08/2016

Ney Matogrosso faz 75 anos hoje sem aparentar a idade no corpo esguio e na obra artística ainda indomável. Nascido em Bela Vista (MS) em 1º de agosto de 1941, o cantor insiste com êxito na juventude. O cidadão Ney de Souza Pereira nunca escondeu a idade, mas, no palco e nos estúdios de gravação, se recusa a envelhecer.

Matogrosso é o tipo de cantor que segue em frente na vida artística sem olhar para trás. Tanto que é o único grande cantor do Brasil que nunca gravou DVD de caráter retrospectivo. Ney continua em cena sem fazer concessão ao próprio público que o segue com fidelidade canina.

O atual show do cantor, Atento aos sinais (2013 / 2016), confirma a habilidade do artista para estar antenado. É espetáculo pop em que Ney usa a rara voz com tessitura de contralto – ainda em boa forma – para projetar músicas de nomes da nativa cena indie contemporânea como a banda paulista Zabomba, o compositor carioca Rafael Rocha, o rapper alagoano Vitor Pirralho e o compositor paulistano Dan Nakagawa.

Ney geralmente anda pelas margens do mercado da música, ainda que tenha feito (grandes) discos mais acessíveis na primeira metade da década de 1980 sob a batuta do produtor Marco Mazzola. Tem sido assim desde 1973, ano em que o cantor foi meteoricamente alçado ao posto de ídolo nacional no posto de vocalista do trio transgressor Secos & Molhados.

Facho de luz que a (quase) todos seduz desde então, a voz de tons andróginos brilhou em período de trevas ditatoriais. Ao sair em carreira solo em 1975, Ney foi homem com H para escancarar a sexualidade em disco e shows que às vezes já explicitavam a libido nos títulos, caso de Pecado (1977).

O cantor emplacou eventuais sucessos radiofônicos no período de 1976 a 1984. Mas Ney nunca foi um cantor de hits. A fidelização do público, ainda hoje farto, aconteceu naturalmente por conta do shows. Mais do que shows, Ney sempre fez verdadeiros espetáculos – mesmo quando opta pelo tom camerístico dos recitais. Tanto que atravessou os anos 1990 e os anos 2000 – décadas mais refratárias para vozes da geração dele – sem perda de público e vitalidade. Talvez por nunca ter se associado definitivamente a uma MPB que passou a soar datada a partir daqueles anos 1990.

Ney até aborda os repertórios de cantores e compositores da MPB, mas sempre com atitude pop. A ponto de ter dedicado disco em 1994 ao cancioneiro supostamente kitsch da cantora fluminense Angela Maria e de ter preservado incólume o prestígio que sempre manteve junto às elites culturais.

A chegada da idade – inacreditável para quem o vê no palco – jamais provocou mudanças no fluxo da criação. A produção de shows e discos continua ininterruputa. Se Ney concretizar a ideia de lançar disco com músicas de compositores marginalizados pela indústria da música, como Jards Macalé e Jorge Matuner, o artista vai continuar seguindo por trilhas tão imprevisíveis quanto as percorridas pelo reservado cidadão Ney de Souza Pereira quando este se embrenha nas matas.

Amante da natureza, zeloso da intimidade que sempre preservou longe dos holofotes, Ney ainda é de certa forma o sujeito estranho alardeado no título da capa de álbum de 1980. Mas é dessa estranheza que o cantor parece extrair o combustível para continuar em cena como artista sem aparentar a idade que efetivamente tem. Aos (improváveis) 75 anos, Ney Matogrosso insiste na juventude, permanecendo altivo, esguio e pop em cena e na vida.



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