Artes
Irapuan Sobral lança seu novo álbum ‘AÍ tem Forró’
14/04/2025

Da Redação
Depois de lançar, juntamente com o parceiro Demétrius Faustino, o excelente álbum de estúdio Jatobá, Irapuan Sobral traz, de dentro do universo digital, este novo trabalho sobre seus poemas, utilizando a inteligência artificial para arranjos, vozes e melodias.
O título já vem com uma mensagem: AÍ tem Forró. Como a querer dizer que o forró (aqui como símbolo universal da música nordestina) não teme enfrentar este novo mundo, como já o fez em outras oportunidades, desde que Luiz Gonzaga libertou essa cultura popular do filtro dos rádios dos ‘coronéis’, divulgando-a para todos. Para ele, a IA é pentecostal.
A capa do álbum bem traduz isso, com seus traços rudimentares, cores fortes destacadas e a face que se desenha sobre um pandeiro usando um triangulo, um fole, um zabumba e um chapéu de couro. Um trabalho assinado pelo seu irmão Neto Sobral.
Como sempre acontece com a música de raiz, os poemas escolhidos tocam a alma na libertação pelo ouvido, como uma canção divina.
A primeira música, Saudade (cujo poema é dedicado ao pai do autor), é literalmente cortante, como são as homenagens a Rainha do Xaxado, Marinez, ao grande Antônio Barros, com Céu do Xenhenhém, e a Zé Tomaz, um tocador de fole da sua Jatobá, São José de Piranhas, a doce cidade natal, essa referência que segue homenageada por Irapuan, de uma forma sublime em Meu Pé de Jatobá, Sertão de Jatobá (que é uma espécie de ‘forraxé’- mistura de forró com Axé), Poço Cajueiro, Tanto Mais e o gostosíssimo Forró em Jatobá, onde ele desfila pelas noites de sua amada terra.
O Sertão, como um lugar de ser, merece estar no disco, na canção homônima, que é uma referência de saudade e nostalgia.
Nesse ambiente telúrico, há duas jóias extraídas do íntimo amor à terra, agora à Paraíba: em Para ir bê a bá e Paraíba, céu de sol, cantos de louvor à pequenina, tão grande em história e tradição. Ele insiste que o céu bebe estrelas no mar da Paraíba, cuja cor é turmalina.
Como o disco é todo de forró, Irapuan inventou de circular o forró de universo e o universo de forró, sem temor. Parece uma insistência dele esse querer que o mundo seja essa colcha de retalho que Deus criou sem se repetir em nada: tudo é diferença integrando-se. Por isso, têm duas faixas com forrós em inglês e francês (Repto e La Nostalgie (essa, a última, traduzindo ao modo a primeira música do álbum: Saudade). Repto parece que pode pegar pela chamada provocativa: ‘If you give it all back to me’ (se você me devolver todo ou se você devolver tudo a mim). Parece que o autor mandou um forró ao estrangeiro para que ele voltasse cheio de mundo, mas voltasse forró.
Os mistérios das canções aos amores deixam sempre uma pista que sai da praça de Jatobá e chega nas ruas de Paris, mas cobram um esforço para ser revelados. Nesse campo estão coisas boas de dançar agarradinho: como Mil Amores, Xaxado de Chachá, Forró ao Luar, Você é!, Previsões Róseas, Pretérito Imperfeito, Serra da Ilusão. Mas dançar lá nos forrós de Seu Moreno, no Alagamar, Expedito Barreto, na Barra, Dero, na Lagoa e Vitório, na Serra, lá no seu sertão – em Jatobá!
Pro Riachão de Sá Mariinha, a sua avó, ele dedicou, como se falando com seus irmãos Oscar Sobral e Marah: Oscarzinho, Lembrar de Você, Estrada do Riachão e Cancelas. É de se escutar – viajando.
Com Gente de Mim, Irapuan se provoca, trazendo do fundo da memória as imagens de pessoas que eram tratados como ‘doidas’, à sua época de criança; e ele pinta essa tela com o seu olhar infantil completamente distinto. Onde se viam ‘doidos’, ele põe acento e vê ‘doídos’.
Forró ao luar parece que descende da sonata de Beethoven, exigindo um estado de transe e uma boa companhia para ser ouvida.
Em A Meta da Liberdade, o trabalho chega no apogeu da ideia: ‘Quem escolhe a liberdade como meta vai sofrer de chegar eternamente.’
Graças a Deus que Irapuan Sobral vive esse sofrer, porque chegar pode pará-lo. É um álbum pra ouvir vivendo, como a música nordestina sobrevive resistindo ao tempo.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.