Economia & Negócios

Investidor estrangeiro retoma bom humor em relação ao Brasil

internacional


03/10/2013



Para especialistas, o negócio entre a Portugal Telecom (PT) e a Oi, anunciado na nesta quarta-feira (3), pode ser mais um sinal de que, aos poucos, o sobressalto atribuído aos investidores estrangeiros em relação ao Brasil não tem a proporção imaginada. A fusão das duas companhias de telecomunicações resultou na criação da CorpCo, uma gigante do setor com receita de R$ 37,5 bilhões em 2012 – uma das maiores multinacionais do setor. "Os investidores gostam do País. E segmentos como o móvel e o 3G ainda têm uma disseminação baixa no Brasil", disse Zeinal Bava, CEO da nova companhia durante teleconferência com analistas.

Para Luiz Miguel Santacreu, economista da Austin Rating, essa fusão é mais um indicativo do potencial que o País ainda guarda, a despeito do pessimismo retratado por veículos da imprensa internacional – caso da revista "The Economist", que recentemente trouxe reportagem de capa sobre o Brasil na qual trata a economia nacional com completo pessimismo e desconfiança. “O Brasil é uma fronteira econômica invejável, especialmente para o setor de serviços”, afirma Santacreu.

O economista acredita em um cenário otimista. “Algumas empresas estrangeiras estão vendo a oportunidade de fincar a bandeira no Brasil agora”, diz. “Elas querem estar aqui quando o mercado melhorar, quando os marcos regulatórios saírem e quando surgirem as novas oportunidades de investimentos.”

O mercado de telecomunicações é apenas um dos setores na mira do capital estrangeiro – especialmente europeu, que ainda enfrenta um cenário recessivo no seu continente.

O setor automotivo também está animado e nas últimas semanas anunciou cerca de R$ 1 bilhão em aportes no País. Na última segunda-feira (30), a Mercedes-Benz disse que fará um investimento de R$ 500 milhões em nova fábrica em Iracemápolis, no interior paulista. No mês passado, a Audi anunciou um investimento de R$ 500 milhões no País. E são esperados mais R$ 700 milhões da Volkswagen.

A opinião de Santacreu também é compartilhada por quem observa o mercado de fora. “Mesmo em um processo de abrandamento, a economia brasileira continua a inspirar confiança a longo prazo, dado o perfil de consumidores e acontecimentos econômicos que estão no horizonte”, avalia presidente-executivo da corretora portuguesa Dif Broker, Pedro Lino. A antecipação da fusão entre PT e Oi, que já era prevista pelo mercado, demonstra esse interesse do investidor pela economia brasileira. "Era algo que os operadores de mercado esperavam, embora apenas em 2014”, diz.

Beltran Simo, associado em Bogotá da Delta Partners, consultoria de investimentos baseada em Dubai e especializada em telecomunicações, aposta, inclusive, numa retomada do crescimento.

"É certo que a economia brasileira tem problemas estruturais que devem resolvidos, como alta inflação, infraestrutura deficitáira, sistema fiscal demasiado complexo. Mas a volta a taxas de crescimento interessantes unida a uma ainda complexa situação em mercados mais maduros faz pensar que o Brsail seguirá sendo um foco importante de investimento", afirma o analista.

Para Simo, a reação inicialmente positiva da fusão PT/Oi também por parte do governo brasileiro pode servir de estímulo a outros investimentos estrangeiros no País.

"O importante do caso PT/Oi talvez tenha sido a acolhida favorável por parte das autoridades locais que, ainda que influenciadas pelo fato de que a maioria do capital permanecerá em mãos brasileiras e a sede no Rio, poderá mandar um sinal de beneplácito a possíveis processos de integração em outros setores", diz.

Intimidade com o mercado nacional

Para Otto Nogami, professor de economia do Insper, empresas que conhecem profundamente o mercado nacional sabem que esse arrefecimento faz parte de um ciclo que não é novo. “Essa fusão mostra que o interesse do mundo no Brasil é um fato”, afirma. “Os olhos estão todos voltados para cá, pois enxergam um grande potencial nessa população majoritariamente consumista e com demanda reprimida.”

“O mercado brasileiro de telefonia móvel tem a melhor perspectiva de médio a longo prazo entre os emergentes, mas a tendência é que essa consolidação siga para outros setores”, completa Nogami.

Isso porque o ganho de eficiência continua sendo a principal preocupação das empresas nacionais. “Fusões geram volume e redução de custos, com ganhos importantes em produtividade”, diz o professor. A avaliação do analista da corretora portuguesa Fincor, Albino Oliveira, é semelhante. “As sinergias são o principal motivo pelo qual as ações da Portugal Telecom responderam dessa maneira [no pregão desta quarta-feira, dia 2].”

As ações da portuguesa na Bolsa de Lisboa chegaram a disparar 20% nas primeiras horas da manhã (no horário local) – resultado da expectativa de ganhos de cerca de R$ 5,4 bilhões com as sinergias resultantes do negócio.

Telecomunicações entre Brasil e Europa

Para Santacreu, da Austin Rating, é natural que o mercado de telecomunicações nacional seja assediado por empresas estrangeiras, como Portugal Telecom, Telecom Itália e a espanhola Telefónica. “Esse serviço já tem uma presença grande no País”, explica.

Na Europa, a tendência também é de consolidação, na opinião de Eduardo Tude, presidente da Teleco, consultoria em telecomunicações. “A Portugal Telecom buscou essa fusão também para se posicionar como uma estrutura de maior porte, evitando o assédio de alguma concorrente local”, diz o especialista. No entanto, para Tude, os maiores esforços deverão estar direcionados para a operação brasileira, onde o potencial de crescimento é maior.

 



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