Saúde

Hidrogel pode ser usado, mas com cuidado!

Polêmica


26/02/2015



 O hidrogel é um polímero que trabalha na função de preenchimento pela absorção de substâncias através principalmente de sua solução aquosa. É uma substância que tem em sua composição 98% de água e 2% de microesferas de poliamida, semelhante ao plástico.

A principal característica do hidrogel é ter um custo baixo, por esse motivo ele passou a ser usado em preenchimentos em larga escala, em regiões como glúteos e coxas. O problema disso é que o hidrogel pode se infiltrar nos tecidos do corpo, causando processos inflamatórios, que podem evoluir para processos infecciosos. Isso pode causar uma série de complicações.

O hidrogel é autorizado para seu uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde o ano de 2008, mas com restrições. A Anvisa esclarece que existem duas empresas no Brasil que possuem os produtos, contudo até o momento nenhuma delas está apta a comercializar o produto por problemas de regulamentação.

Indicações do hidrogel

O hidrogel é utilizado para corrigir pequenas cicatrizes, deformidades da pele e rugas e preenchimento de áreas como rosto e pescoço, para amenizar rugas e flacidez. Alguns pacientes utilizam o produto para preencher áreas maiores como nádegas e coxas, mas esse tipo de procedimento causa muito mais riscos. Portanto, preenchedores permanentes devem primeiramente ser indicados como tratamento de deformidades faciais congênitas ou adquiridas por algum acidente ou no caso de lipoatrofias da face, como ocorre com pacientes com aids.

Como o hidrogel é usado

O hidrogel é aplicado diretamente por meio de uma microcânula na região entre o subcutâneo e a fáscia muscular (tecido que envolve os músculos), sem a utilização de um dispositivo indireto como próteses. Imediatamente após a aplicação é realizada uma massagem na área.

Assim que é realizada a aplicação do produto, o hidrogel provoca uma reação inflamatória, natural de defesa do organismo que o protege de uma infecção. Depois de injetado, o produto adquire consistência gelatinosa e o corpo produz uma cápsula que envolve a substância garantindo assim a sua permanência maior no local de aplicação, o que evita que a substância se espalhe pelo corpo.

Riscos do hidrogel

Por mais que o corpo produza uma cápsula que envolve o hidrogel, ainda assim a risco de que a substância se espalhe pelo corpo ou que seja reconhecida como um objetivo estranho pelo sistema imunológico. Isso faz com que diversos problemas apareçam, como reações alérgicas, endurecimento dos tecidos com formações de granulomas ou nódulos, deformidades, imperfeições, infecções localizadas e sistêmicas, necrose, problemas circulatórios como embolia pulmonar e até o óbito. As reações nem sempre aparecem logo após aplicação: como o hidrogel demora muito tempo para ser eliminado do corpo, os efeitos colaterais podem se manifestar até 10 ou 15 anos depois de seu uso inicial.

Além disso, existem complicações relacionadas à técnica de aplicação. Por exemplo, com a utilização de seringa os riscos de perfurar algum vaso e causar embolia pulmonar aumentam.

 

Não obstante, devido à posição de aplicação do hidrogel e por ele ter propriedades que se ramificam no tecido, se houver algum processo infeccioso associado ao músculo, é preciso fazer a retirada de parte dele.

Por fim, quando o hidrogel é inserido no organismo, algumas bactérias podem entrar junto com ele, formando uma camada chamada biofilme. Na maior parte dos casos, os micro-organismos não causam prejuízo, mas alterações no sistema imunológico, por exemplo quimioterapia ou até um estresse maior, podem fazer com que as bactérias comecem a se proliferar, causando uma infecção generalizada.

Cuidados antes do uso do hidrogel

Como o produto não está devidamente regulamentado no Brasil, é muito importante questionar o médico quanto ao seu uso e saber o histórico do profissional que vai aplica-lo. Além disso, peça ao médico para ver o produto e observe a procedência, data de validade e a autorização da Anvisa. Uma boa dica é fotografar o rótulo do produto. Observar se o ambiente é seguro de ser realizada a aplicação e com condições de higiene necessárias para evitar contaminação. Questione também a quantidade de produto que será aplicada, o ideal é que sejam baixas dosagens.

Cuidados após o uso do hidrogel

Como a aplicação é menos invasiva, o pós-operatório é mais tranquilo, contudo apresenta grandes riscos de complicações que podem perdurar por anos. A aplicação de hidrogel é considerada um procedimento cirúrgico médico, complicações são possíveis. É comum pelo processo inflamatório. O hidrogel após ter sido aplicado com cânula fica agregado ao músculo e faz com que ele inche. É esperado edema após o procedimento, que deve diminuir nas próximas horas até 24 horas após o procedimento.

Contraindicações

O ideal é que o hidrogel seja usado apenas em aplicações pequenas e principalmente em cirurgias de reparação, e não procedimentos estéticos. Para esse tipo de procedimento, existem alternativas melhores, como o ácido hialurônico. Aplicações em grandes quantidades devem ser substituídas por próteses de silicone, que são muito mais seguras.

Além disso, é contraindicada a aplicação do produto em áreas com doença inflamatória aguda, pacientes portadores de doenças sistêmicas como doenças reumatológicas e colagenoses, infecções bacteriana ou fúngicas ou alérgicas na área tratada, doenças circulatórias ou hematológicas relacionadas a distúrbios de coagulação e a presença de tumorações nas áreas aplicadas.

Substitua o hidrogel por…

Prótese de silicone Esse método é mais seguro, pois o silicone, apesar de ser um plástico, está protegido na prótese, não havendo risco de se espalhar pelo corpo. Seu uso pode ajudar no aumento dos glúteos, na gluteoplastia.

Ácido hialurônico Esse preenchedor é considerado muito mais seguro pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Isso ocorre, pois o ácido é uma substância natural da pele, que com o tempo é absorvido pelo organismo, sem danos. Além disso, ele raramente causa alergias, e quando isso ocorre há uma enzima, chamada a hialuronidase, própria para removê-lo.

Fontes
Cirurgião plástico João de Moraes Prado Neto (CRM-SP 17.425), presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (Biênio 2014/2015).
Dermatologista Valéria Campos (CRM-SP 73.176), assessora do Departamento de Laser da Sociedade Brasileira de Dermatologia.Dermatologista Stela Cignachi (CRM-SP 29.481), membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.



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