Economia

Greve dos auditores da Receita Federal ultrapassa o limite e ameaça o comércio exterior, alertam entidades

Paralisação já dura mais de cinco meses, provoca atrasos generalizados e pode causar crise estrutural na economia; delegados aderem ao movimento e setor produtivo exige solução imediata


13/05/2025



A greve dos auditores fiscais da Receita Federal, iniciada em novembro de 2024, entrou em uma fase crítica e já ultrapassou o limite do que pode ser suportado pela sociedade e pelo setor produtivo. O alerta vem do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), que cobra do Governo Federal uma solução urgente para o impasse.

“A sociedade brasileira não pode continuar refém dessa discórdia. Já passou do limite do razoável”, afirma Rafael Cervone, presidente do Ciesp e vice da Fiesp. Ele ressalta que os impactos da paralisação estão se agravando, afetando diretamente a economia, o abastecimento e o comércio exterior. Entre os efeitos mais preocupantes estão os atrasos na liberação de cargas, a retenção de documentos e a estagnação dos processos aduaneiros, com reflexo direto em setores essenciais, como o de medicamentos e alimentos perecíveis.

A situação se deteriorou ainda mais com a deflagração da operação “Desembaraço Zero”, que suspendeu quase todas as liberações aduaneiras. Só em fevereiro, mais de 75 mil remessas foram retidas. Em abril e maio, a operação foi retomada, e os efeitos ameaçam colapsar o sistema logístico do país.

Na fronteira de Roraima, os auditores anunciaram nova paralisação até 16 de maio, comprometendo a fiscalização de mercadorias não perecíveis que entram e saem do país. Apenas os 30% de efetivo legalmente exigido estão sendo mantidos para liberar cargas vivas, perigosas ou medicamentosas.

Seis meses de greve

O movimento grevista, que já chega a 163 dias, ganhou força com a adesão inédita de delegados e chefias da Receita Federal de todas as regiões fiscais. As lideranças também decidiram registrar greve oficialmente nas folhas de ponto em dias alternados. Na 7ª Região, por exemplo, a paralisação está prevista entre os dias 12 e 16 de maio.

A insatisfação da categoria se intensificou após o governo reduzir os bônus de eficiência, sem apresentar propostas concretas de negociação. Os auditores reivindicam a recomposição inflacionária do vencimento básico e acusam o governo de descumprir acordos firmados ainda em 2023.

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Na última semana, 97,7% dos auditores aprovaram uma moção de desconfiança contra o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, e pediram também as demissões da secretária-adjunta Adriana Gomes Rego e do subsecretário Juliano Neves. A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, também foi alvo de repúdio pela condução considerada autoritária das tratativas.

O Ciesp adverte que, se não houver uma resolução imediata, a greve poderá transformar um problema pontual em uma crise estrutural no comércio exterior brasileiro. “Os danos podem ser irreversíveis, e medidas como a liberação urgente de medicamentos, insumos e produtos perecíveis precisam ser tomadas imediatamente”, reforça Cervone.

Com o risco de desabastecimento, aumento de custos operacionais e pressão sobre a inflação — que pode subir até 2,1% neste período —, cresce a pressão de empresários, parlamentares e governadores para que o governo federal atue com urgência, reabra o canal de diálogo e evite um colapso logístico e econômico de grandes proporções.



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