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Goleiro no futebol para cegos, Vinícius é alvo de chacotas
FUTEBOL PARA CEGOS
02/09/2016

{arquivo}Você sabia que o goleiro é o único no futebol de cinco que não é cego? Sabe o que leva alguém a ser "os olhos de um time" neste esporte? É o caso de Vinícius Tranchezzi. Ele explica sua função dentro e fora de campo e como encara perguntas indiscretas por ter uma profissão "incomum".
O jovem de 23 anos defendia as categorias de base do São Bernardo e sonhava em ser jogador profissional. Aos 15 anos, porém, optou pelos estudos e largou o esporte. Pouco depois, indicado por um professor de educação física, já estava de volta e hoje é um dos goleiros da seleção brasileira que disputará a Paralimpíada do Rio de Janeiro a partir do dia 7 de setembro.
No futebol de cinco, a bola tem um guizo para que os quatro jogadores de linha se orientem pelo som, e o goleiro é o único atleta que enxerga. As partidas acontecem em uma quadra cercada e são realizadas em silêncio, enquanto os jogadores só podem ser orientados pelo técnico, pelo goleiro e pelo "chamador", que fica atrás do gol adversário. Não é tão simples quanto parece.
{arquivo}O goleiro conta que é muito comum ouvir brincadeiras e até que algumas pessoas acreditam que sua profissão é voluntária. "A maioria das pessoas tem essa reação: ‘Como você joga isso?', ‘Leva gol de cego?'. Mas é muito fácil disso passar. Basta ver um jogo e logo as pessoas percebem que é um esporte muito difícil. A gente tem que se adaptar. É bem alto nível e hoje eu vivo disso. As piadinhas sempre existem, mas com a divulgação isso vai diminuindo cada vez mais", afirmou Vinícius.
"E outras vezes eu dizia que era goleiro de futebol de cinco, e falavam: ‘Que bacana fazer trabalho voluntário'. Mas não é voluntário. A gente auxilia, mas nós somos atletas também. É uma pressão muito grande em cima dos jogadores e em cima da gente", acrescentou.
A rotina é como a de qualquer goleiro convencional. Muitos treinos, viagens e competições. Tudo na base da comunicação com os jogadores cegos tanto dentro quanto fora de campo.
"A gente se adapta na comunicação, que é 60% do futebol de cinco. A gente é o olho deles dentro de quadra. Fora de quadra é importante, e a gente acaba criando muita amizade. Eu ajudo no que eles precisam, mesmo eles sendo independentes. Aqui não tem ‘trairagem' como no futebol convencional, e a gente acaba criando um laço de amizade", disse.
A ajuda que Vinícius se refere pôde ser vista no documentário ‘Paratodos', quando o goleiro apareceu "narrando" a semifinal do Mundial de 2014, no Japão, entre Argentina e Espanha, enquanto seus companheiros de time ficaram ouvindo atentamente.
"Não foi muito bem uma narração, né? Eu estava mais ‘secando' os argentinos", brincou. A ‘secada' não adiantou muito, e a Argentina foi para a final. Porém, na decisão, os brasileiros venceram e conquistaram o bicampeonato mundial.
Títulos, inclusive, viraram especialidades do Brasil, que não perde um torneio desde 2007. A equipe conquistou o ouro paralímpico nas três edições desde que o esporte entrou no programa, em Atenas 2004, e é a favorita para repetir a dose no Rio.
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