Saúde

Febre Oropouche expande-se para além da amazônia no Brasil

A febre oropouche, transmitida pelo maruim, deixou de ser uma doença restrita à Amazônia e já causou 11.805 infecções e cinco mortes em 18 estados e no Distrito Federal em 2025, impulsionada por nova linhagem do vírus e mudanças climáticas.


27/07/2025

Redação WSCOM com informações da Agência Brasil

A febre oropouche, uma doença viral transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora, tem apresentado uma significativa expansão territorial no Brasil. Antes predominantemente restrita à Região Amazônica, a infecção agora soma 11.805 casos confirmados em 18 estados e no Distrito Federal em 2025. Até o momento, cinco óbitos foram associados à doença, sendo quatro no Rio de Janeiro e um no Espírito Santo, com duas mortes ainda sob investigação.

Em 2024, o total de casos foi de 13.856, com quatro mortes registradas (duas na Bahia, uma no Espírito Santo e uma em Santa Catarina). Os números de 2025 já superam as ocorrências do ano passado em praticamente todas as semanas, e o total de mortes já é maior. O Espírito Santo, a quase 3 mil quilômetros da Amazônia, tornou-se o estado com o maior número de registros este ano, totalizando 6.318 casos. Pesquisadores e gestores de saúde buscam compreender os fatores que levaram a essa disseminação e estratégias para controlar a doença em populações sem imunidade prévia.

Entenda a Doença e sua Propagação

A febre oropouche causa sintomas semelhantes aos da dengue e chikungunya, como febre e dores na cabeça, músculos e articulações. A infecção também pode gerar complicações na gravidez, incluindo microcefalia, malformações e óbito fetal, similar ao Zika vírus. Diante disso, o Ministério da Saúde orienta que gestantes em áreas com casos confirmados reforcem a proteção contra mosquitos e que pessoas sintomáticas usem preservativos, embora a transmissão sexual ainda não esteja comprovada.

Segundo Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), estudos genéticos indicam que a atual proliferação é causada por uma nova linhagem do vírus, que surgiu no Amazonas e se espalhou. A dispersão estaria ligada a áreas de desmatamento recente no sul do Amazonas e norte de Rondônia, que serviram como pontos cruciais para a saída do vírus da região.

O maruim, vetor da doença, está presente em todo o país, mas depende de ambientes úmidos e com matéria orgânica em decomposição para se reproduzir, sendo mais comum em áreas florestais, de plantações (especialmente banana) e regiões periurbanas.

Fatores Ambientais e Resposta das Autoridades

Um estudo internacional recente, que analisou dados de seis países sul-americanos, incluindo o Brasil, sugere que variáveis climáticas, como mudanças nos padrões de temperatura e chuva, são os principais fatores (60%) que influenciam a disseminação da oropouche. Eventos climáticos extremos, como o El Niño, são apontados como prováveis contribuintes para o surto iniciado em 2023.

O Ministério da Saúde intensificou o monitoramento, promovendo reuniões e visitas técnicas aos estados para orientar sobre notificação e investigação de casos. Em parceria com a Fiocruz e a Embrapa, a pasta realiza estudos sobre o uso de inseticidas para o controle do vetor, buscando estratégias eficazes, especialmente durante surtos. As medidas preventivas incluem uso de roupas compridas, sapatos fechados, telas em janelas e eliminação de matéria orgânica acumulada.

No Espírito Santo, o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, explica que as características periurbanas de muitos municípios capixabas, com áreas de plantação, facilitam a reprodução do maruim. A alta população de mosquitos e a falta de imunidade prévia na população criaram um cenário favorável para a disseminação do vírus. A chegada de trabalhadores de outros estados para a colheita do café também é um fator considerado na propagação.

No Ceará, a doença também é uma novidade, com 674 casos este ano, concentrados inicialmente em distritos rurais e agora com transição para cidades maiores, como Baturité. O estado investe em manejo clínico e vigilância laboratorial, com atenção especial a gestantes devido ao risco de óbito fetal e anomalia congênita. O controle do maruim, diferentemente do Aedes aegypti, demanda soluções como barreiras químicas entre plantações e áreas urbanas, algo ainda em estudo.



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