Brasil & Mundo

Família de menina baleada no Alemão nega confronto entre PM e traficantes


21/09/2019

Agatha Félix, de 8 anos, morava no Complexo do Alemão



Familiares da pequena Agatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, baleada na noite desta sexta-feira no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, negam a informação dada pela Polícia Militar de que, na hora do disparo que acertou a criança, equipes policiais da UPP Fazendinha foram atacadas de várias localidades de forma simultânea. Elias César, tio da criança, rebate a troca de tiros e afirma que houve apenas um disparo, o que atingiu Agatha pelas costas.

— A ação da PM se deu porque os policiais haviam mandado um motociclista parar, mas ele não atendeu à ordem. A kombi estava no Largo da Birosca (na Fazendinha) e os policiais atiraram na moto. É mentira que teve tiroteio , foi um tiro só. Nenhum PM foi atacado — garante o tio, apontando a presença de, pelo menos, cinco militares.

A nota enviada pela corporação destaca que, na esquina da Rua Antônio Austragésilo com a Rua Nossa Senhora, equipes foram atacadas e os policiais revidaram à agressão. “Os policias foram informados por populares que um morador teria sido ferido na localidade conhecida como ‘Estofador’. Uma equipe da UPP se deslocou até o Hospital Getúlio Vargas e confirmou a entrada de uma criança de 8 anos ferida por disparo de arma de fogo”, diz a nota.

Ainda segundo a PM, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) irá abrir um procedimento apuratório para verificar as circunstâncias.

Na manhã deste sábado, parentes e amigos foram até o Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, para a liberação do corpo. Ainda não há informações sobre o local e o horário do velório e sepultamento da menina. Segundo a família, os pais estão passando mal, ainda em estado de choque, e não tiveram condições de comparecer ao IML.

Segundo Elias César, uma mulher esteve no instituto e se apresentou como funcionária do governo estadual, oferecendo ajuda para custos de funeral. Porém, a família não aceitou a ajuda e recusou o contato.

A Defensoria Pública do Rio emitiu uma nota de solidariedade: “A defesa do direito à vida é um dos princípios basilares da nossa instituição. Por esta razão, acreditamos em uma política de segurança cidadã, que respeite os moradores das favelas e de qualquer outro lugar. A opção pelo confronto tem se mostrado ineficaz: a despeito do número recorde de 1.249 mortos em ações envolvendo agentes do estado apenas este ano, a sensação de insegurança permanece. No caso das favelas, ela se agrava”, diz o texto, que lembra também a morte do policial Leonardo Oliveira dos Santos, atingido em Niterói.

A nota reforça ainda que, “se coloca à disposição dos familiares de Ágatha — e de todo cidadão fluminense” — para auxiílio jurídico.

Manifestação reúne moradores no Alemão

Na manhã deste sábado, dezenas de moradores e ativistas sociais fazem uma manifestação pacífica pelas ruas do Complexo do Alemão. Carregando faixas e cartazes, eles pedem pelo fim das mortes de crianças e jovens em comunidades do Rio. Com a ajuda de um carro de som, os manifestantes também pedem a presença do governador Wilson Witzel. Além disso, citam os nomes de moradores mortos em ações policiais seguidos pelo termo “presente”, grito que ganhou destaque após a morte da vereadora Marielle Franco.

— Em todas as comunidades se perdem vidas inocentes por essa política montada pelo governo do Estado. O Complexo do Alemão está presente, sim! Não queremos que a Agatha venha a ser apenas mais uma foto estampada. Vamos lutar pelos nossos direitos dentro da comunidade, onde vários inocentes são atingidos por ‘balas achadas’ todos os dias — afirma um manifestante sem se identificar.

Nas janelas e varandas da Avenida Itararé, onde a manifestação ocorre, moradores agitam panos brancos como sinal de paz. Mototaxistas também acompanham o grupo. O coletivo Mães de Manguinhos também participa do ato para apoiar a família de Agatha.

— Nós estamos cansados desses caveirões aéreos, desses caveirões terrestres. Basta do sangue do povo negro derramado na favela. Viemos aqui para lutar por essas vidas, crianças que vocês estão levando. Nos deixem viver em paz, sem essa falácia da guerra contra as drogas. Chega, são os nossos jovens que estão morrendo — afirma uma das mães do coletivo durante a caminhada pacífica.


Por Extra



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //