Economia

“Falta diversificação e gestão técnica”: economista comenta dados da Firjan sobre desenvolvimento socioeconômico no Brasil


12/05/2025

Paulo Nascimento

Um levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgado em 8 de maio, revela um cenário preocupante para o desenvolvimento socioeconômico no Brasil. Cerca de 60 milhões de brasileiros vivem em municípios com desenvolvimento considerado baixo ou crítico, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de 2023. Para o economista Werton Oliveira, a situação evidencia o que já é sentido diariamente por quem mora nas regiões Norte e Nordeste: carência de infraestrutura, educação precária, economia mal diversificada e ineficiência da gestão pública.

A metodologia do IFDM foi revisada em 2025 para refletir com mais precisão os desafios atuais, levando em conta fatores que extrapolam a gestão municipal. O índice considera agora a articulação entre os poderes locais, estaduais e federal como essencial para o avanço socioeconômico. A média nacional do IFDM subiu 29,8% na última década, saltando de 0,4674 em 2013 para 0,6067 em 2023. Ainda assim, os dados apontam que 4,5% dos municípios brasileiros estão em situação crítica (pontuação inferior a 0,400) e 42,8% em situação de desenvolvimento baixo (entre 0,400 e 0,599).

“O índice só confirma o que a gente já sente na pele. A gente percebe que esses números estão ligados a uma educação precária, saúde deficitária, economia pouco diversificada e infraestrutura insuficiente — especialmente na região Norte”, afirma Werton. Segundo ele, o principal problema enfrentado por essas regiões hoje é a baixa diversificação econômica. “Dependemos muito de atividades de baixo valor agregado, como agricultura e extrativismo, e isso limita a geração de riqueza”, avalia.

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A pesquisa também revela disparidades regionais profundas. No Norte e Nordeste, 87% dos municípios apresentam baixo ou crítico desenvolvimento. No Amapá, todos os municípios estão nessa situação. Maranhão (77,6%), Pará (72,4%) e Bahia (70,5%) seguem a mesma tendência. Já nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, menos de 20% das cidades enfrentam essa realidade. Entre os extremos, Águas de São Pedro (SP) lidera com o melhor índice (0,8932), enquanto Ipixuna (AM) tem o pior, com 0,1485.

Para Werton Oliveira, é possível mudar esse cenário com políticas públicas integradas e planejamento de longo prazo. “O índice é importante para os gestores porque permite um diagnóstico preciso. Dá para identificar gargalos — seja em saúde, educação ou infraestrutura — e priorizar recursos de forma técnica”, diz. Ele defende ainda que os governos locais utilizem o indicador para monitoramento contínuo e foco na atração de investimentos.

“É preciso ter vontade política, gestão técnica, combate à corrupção e foco em resultados. Precisamos atrair indústrias, que geram valor agregado, e integrar políticas regionais de desenvolvimento. A tecnologia e a inovação também são fundamentais nesse processo”, afirma.

Um ponto positivo revelado pelo IFDM foi a evolução na área da educação, que teve um avanço de 52,1% nos últimos dez anos, especialmente nos municípios com até 20 mil habitantes. Oliveira atribui essa melhora a uma combinação de fatores: “Tem havido um aumento nos investimentos, especialmente em creches, fortalecimento de políticas educacionais e uso crescente de tecnologia na rede pública de ensino. Tudo isso, aliado às metas do Plano Nacional da Educação, vem contribuindo para os avanços que vemos nos últimos anos”.

Apesar dos avanços pontuais, o relatório da Firjan e a análise do economista convergem ao apontar que, para romper o ciclo de estagnação, será necessário ir além de ações pontuais e adotar estratégias integradas, sustentáveis e de longo prazo que envolvam todos os entes federativos.

 



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