Educação

Exceção, cotista de GO aprovado no Sisu passaria pela concorrência geral

Notas


24/03/2014

 Aos 37 anos, o prestador de serviços gerais Josiel Corrêa Teixeira diz jamais ter parado de estudar. Após ter prestado sete vezes o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ele viu neste ano finalmente o resultado do esforço em manter a disciplina de estudos diários, mesmo sem acompanhamento profissional ou ajuda de cursinhos. Josiel foi um dos aprovados no curso de sistemas para internet no Instituto Federal Goiano (IF Goiano), em Morrinhos, no Sul de Goiás.

Josiel foi aprovado pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) concorrendo pelo sistema de cotas para candidatos autodeclarados negros, pardos ou indígenas, com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escola pública.

Contrariando as próprias expectativas, ele não só passou no Sisu como fez 579 pontos, nota superior à de corte de quem concorria pela ampla concorrência, que foi de 570,50. "Não esperava", admitiu o novo calouro ao G1. O caso de Josiel é uma das poucas exceções no Sisu: apenas em 11 cursos cotistas raciais de escola pública e baixa renda tiveram nota de corte maior que os candidatos da ampla concorrência.

O povo critica, acha que a gente está roubando uma vaga de quem tem capacidade, mas muita gente não tem como entrar se não for por cotas. Quem é pobre, quem é negro, tem uma renda que não pode pagar um curso pré-vestibular, tem dificuldade para entrar, sim".

Apesar de a nota comprovar que ele não precisava do benefício para conquistar a vaga, Josiel defende o sistema de cotas. "O povo critica, acha que a gente está roubando uma vaga de quem tem capacidade, mas muita gente não tem como entrar se não for por cotas. Quem é pobre, quem é negro, tem uma renda que não pode pagar um curso pré-vestibular, tem dificuldade para entrar, sim."

O pai de família não é o único cotista da turma a ter conquistado uma boa nota. O curso de sistemas para internet é um dos dois únicos do país em que as duas faixas de cotistas raciais (com e sem renda baixa) conseguiram uma nota de corte maior que a da ampla concorrência na primeira chamada do Sisu. O outro foi letras-espanhol na Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O Instituto Federal Goiano afirma que a realidade da seleção em que o candidato cotista tem nota superior não é exclusividade do curso de sistemas para a internet do campus de Morrinhos. Há outros, como agronomia, pedagogia e química, em que ao menos uma das faixas das cotas raciais obtiveram o feito na primeira chamada.
Josiel Teixeira é um dos alunos do curso que teve nota de corte maior para cotistas raciais .

"Isso acontece porque estamos no interior. Os alunos mais preparados priorizam o ingresso nas universidades dos grandes centros e os estudantes que nos procuram são provenientes, grande parte, de escolas públicas, com formação básica diferente dos estudantes dos grandes centros", afirma Marina Rodrigues, diretora de Desenvolvimento Educacional do IF Goiano.

Ela diz ainda que a situação é mais comum em cursos menos concorridos. "Em cursos que temos grande procura, como engenharia civil e medicina veterinária, essa realidade não aparece."

Sonhos

O sonho de Josiel em concluir o ensino superior já foi interrompido uma vez: depois de três anos estudando biologia no Centro de Educação Superior do Estado do Rio de Janeiro (Cederj), em Angra dos Reis, onde nasceu, ele decidiu abandonar o curso "em nome do amor". Mudou-se para Morrinhos em 2008, onde estava a atual companheira.

A rotina intensa e cansativa do trabalhador, que tem três crianças em casa e uma mulher grávida de 7 meses do quarto filho, não o impediu de persistir nos estudos. "Fiz o Enem sete vezes. Eu estava sempre estudando, sempre tentando uma nota maior para conseguir um curso melhor", conta. Josiel afirma também que já se candidatou a vários concursos públicos e tem a expectativa de que, com a conclusão de um curso superior, consiga cargos e salários melhores.

Assim, a escolha por sistemas para internet foi feita de forma racional, diz. "Acho que a gente precisa desse tipo de conhecimento, tanto no pessoal quanto dentro do mercado de trabalho, para ganhar uma vantagem sobre os concorrentes." Ele confessa, no entanto, que se fosse para seguir o coração, escolheria engenharia. "Eu queria muito, mas sei que, para cursos como esses, precisa de nota muito alta para passar", lamenta.

 



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