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Ex-atleta defende reforma geral na conjuntura do esporte nacional

Tem que mudar


09/07/2014



Após a eliminação vexatória do Brasil na Copa do Mundo em sua casa, muitas foram as críticas à conjuntura do esporte. Muitos defendem que precisam ser repensadas a base, as ligas nacionais, a formação dos nossos treinadores, a gestão do nosso futebol. Os mais críticos opinam que o futebol do Brasil parou no tempo.

Porém a ex-atleta de natação Luciana Rabay escreveu um artigo, no qual ela faz uma análise mais profunda da conjuntura do esporte no país, incluindo o futebol. Sua interpretação vai desde como a nossa cultura encara os esportes de maneira geral, até o planejamento que inexiste em nossas categorias. Ela defende uma reforma nos esportes, de maneira geral.

Reforma dos Esportes Brasileiros

Criticando a Seleção Brasileira de Futebol? Envergonhado? Triste?
Então pare para pensar: “o que eu fiz nos últimos 2, 5 ou até 10 anos para incentivar o esporte brasileiro? Eu fui assistir a um evento esportivo? Eu valorizei o atleta brasileiro? Eu motivei meu filho ou filha a ser atleta?” Ou eu disse que isso era perda de tempo e que ao fazer 15 anos meu filho tinha mais que parar de jogar para estudar para o vestibular, pois esporte não leva a nada?

Interessante ver que na hora de disputar uma Copa do Mundo todos torcem pela Seleção e quer que ela brilhe acima de tudo. Mas o que fizemos durante os anos para fazer com que a seleção tivesse uma base esportiva apropriada para tal feito?

E digo mais, e isso é uma das razões pelas quais estou escrevendo: o que eu fiz para os atletas brasileiros no geral terem condições de se desenvolver?

A Alemanha está bem agora no futebol por quê? Por que fracassou em 2006 e depois os clubes alemães decidiram investir em atletas alemães formando escolas de base para formar esses atletas. Clubes alemães que são prestigiados por seus fãs, lotam os estádios, e seus dirigentes não desviam o dinheiro que é para ser investido no esporte, e tem PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO. O que é para ser feito, precisa ser feito pensando no futuro e não no ano que vem.

Planejar estrategicamente leva tempo, e não pode ser pensado para resultados imediatistas, e nesse caso o Brasil não é o único a errar. A Espanha, a Inglaterra, e a Itália têm os melhores times do mundo de futebol, mas seus clubes e equipes estão cheios de jogadores estrangeiros. Para eles dá mais resultado comprar um jogador bom já feito e em sua glória, do que formar novos jogadores nacionais, apesar de que também investem em suas equipes de base. Mas esses países devem estar se perguntando o que fazer para mudar o resultado de terem saído na primeira fase da copa do mundo. A questão será ver a resposta que eles darão daqui a oito anos, e não daqui a quatro, pois talvez não dê tempo de mudar o que já está sendo feito. Ele também tem muito que pensar.

Mas vamos voltar para o Brasil. Se você está com vergonha agora? E por que não ficou com vergonha em 2012 quando o Brasil ganhou apenas 17 medalhas na Olimpíada de 2012? E que 17 foi o número máximo de medalhas que já ganhamos numa Olimpíada. Nas Olimpíadas anteriores ganhamos 15, 10, 12, e 15… Um país do tamanho do Brasil só ganhar em média 12 medalhas por Olimpíadas isso sim é vergonha.

A Inglaterra apesar de não ter ser saído bem na Copa de 2014, veja sua atuação como Grã-Bretanha nos jogos Olímpicos. Em 92 conseguiram 20 medalhas, mas em 96 em Atlanta foram para 15 medalhas o que gerou uma crise nos esportes Britânicos e os líderes foram chamados para discutir o que tinha acontecido. 15 medalhas para eles em 96 foram tidas como uma vergonha. Em 2000 esse número subiu para 28 medalhas, e em preparação para atuar em casa, em Londres, as próximas Olimpíadas viram a Grã-Bretanha (GB) atingir 30, 47, e o recorde de 65 em casa nas Londres. Ou seja, eles souberam aprender com os erros, e mudar em longo prazo com planejamento e investimento em equipes de base.

E o Brasil? O que estamos fazendo para incentivar os esportes brasileiros competitivos? Não só os dos nossos filhos de 5 a 10 anos, mas durante sua adolescência, onde o esporte ajuda a manter os jovens longe das drogas, e ensina disciplina, foco, dedicação por que tirar o jovem do esporte? Ele não teria capacidade de estudar e focar no esporte? Claro que sim. No resto do mundo isso existe por que não aqui no Brasil?

Eu com ex-atleta vivenciei isso pessoalmente. A equipe de natação ia se reduzindo ano a ano, e quando chegávamos à idade do vestibular, nossa turma quase que se extinguia. Eu continue praticando esportes e passei no vestibular, mas ao entrar na Universidade Federal encontrei o que? Nada. Nada de estrutura para incentivar o esporte em nível universitário. Só os clubes.

Nos Estados Unidos os esportes universitários atraem milhares de pessoas para seus jogos. Os jogos da NCAA, a liga de esportes universitários dos Estados Unidos, a média de fãs que vão as jogos para assistir Basquete ou Futebol Americano gira em torno de 50 mil pessoas. Na final do basquete universitário teve um recorde de 79 mil pessoas. Mas os outros esportes também tem grande audiência como atletismo, natação, voleibol, entre outros. E dos esportes universitários saem à maioria dos atletas das Olimpíadas por que atleta olímpico estuda e faz universidade sim.

Aqui no Brasil temos um sistema de ensino público deficiente, e claro que temos que mudar nosso sistema educacional como um todo, mas isso levará décadas. O que chamo atenção é para inclusão de mais professores de educação física com apoio aos esportes em todo o nosso território nacional de forma que possamos de agora fazer a diferença na vida de nossa juventude.

E saindo das escolas e universidades, quantos vão ao estádio apoiar o time local de sua cidade quando tem jogo? Quantos vão assistir jogo do Botafogo da Paraiba, do Treze ou Campinense? Quantos vão assistir campeonatos regionais e nacionais de outros esportes como vôlei, basquete, natação, ginástica olímpica, ciclismo, judô, entre outros?

Mas se você não quer ir ao evento pelo menos apoie o esporte como forma de melhorar a vida de nossos jovens. Existe para isso a LIE – LEI DO INCENTIVO AO ESPORTE, onde empresas e pessoas podem doar parte do seu imposto de renda para projetos esportivos. Ou seja, dinheiro que tem obrigação de pagar de imposto ao governo, e que não sabem o destino que será dado, pode ser doado para projetos aprovados pelo Ministério do Esporte e ser usado em esportes locais, de sua cidade, do seu bairro.

No Brasil existem centenas de projetos da LIE, mas falarei da Paraiba por conhecer de perto. Aqui na Paraiba temos poucos projetos aprovados na LIE, não chegam a 10 projetos em toda a Paraiba. E a razão de tão poucos projetos é por que não conseguimos empresas e pessoas que apoiem tais projetos. Dos projetos da FEAP – Federação de Esportes Aquáticos da Paraiba, existem apenas 3 empresas da Paraiba, e 1 em nível de Nordeste que apoiam. Ou seja, quatro empresas apoiam projetos, e os demais projetos aprovados não conseguem captar recursos por falta de apoio das empresas e pessoas. A FPV – Federação Paraibana de Vôlei tem um projeto para levar o vôlei de praia para todo o estado. O projeto está aprovado a meses e não consegue captar recursos por falta de interesse das empresas e pessoas.

E por que essas pessoas não apoiam o esporte através da LIE? Falta de interesse, falta de tempo, falta de vontade de fazer a diferença.

Podemos sim fazer a diferença nos esportes do Brasil, mas precisamos dedicar um pouco de nosso tempo para que isso aconteça.

Não dá mais tempo de mudar o resultado da Copa do Mundo de 2014 para o Brasil. Como não dá mais tempo e mudar o resultado por completo das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro – não dá mesmo. Mas podemos mudar um pouco o resultado das Olimpíadas procurando apoiar de agora os esportes e equipes que estão se preparando para tal. Vamos prestigiar os eventos esportivos, vamos apoiar os projetos locais, vamos dedicar um pouco do nosso tempo para a melhoria do nosso esporte. Vamos apoiar o Esporte Brasileiro para que tenhamos um futuro melhor.



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