Economia & Negócios

Estagiário de engenharia é o mais valorizado

Carreira


08/09/2013

 Formada em engenharia elétrica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Alice Barbosa, de 24 anos, sempre se interessou pela área de exatas. No entanto, além da vontade de entender melhor o funcionamento de equipamentos elétricos, a alta remuneração do setor também foi um fator decisivo para que a trainee da companhia petroquímica Braskem optasse pelo curso de engenharia. “Com certeza isso foi levado em conta na minha decisão. Eu sempre procurei conciliar uma coisa que eu gostasse e que desse uma perspectiva de um futuro equilibrado em termos financeiros”, conta Alice.

Confirmando a escolha da engenheira, a pesquisa realizada com 162 empresas pela consultoria global de gestão de negócios Hay Group mostra que 67% das empresas com programas de trainee priorizam a entrada de novos engenheiros. Esta carreira também se destaca entre os programas de estágio, com os alunos do curso sendo 15% mais bem remunerados em relação aos demais.

Para Adriana Teixeira, da consultoria RH Across, isso se deve ao fato de que as empresas notaram que estes estudantes podem ser aproveitados por outros setores. "Antes, o estudante de engenharia fazia estágio na área de manufatura, produção, por exemplo. Hoje em dia, eles são selecionados para diversas áreas das empresas", conta.

Veja também: De estagiário a CEO: empresas começam a treinar hoje os líderes do futuro

Roberto Bonito, recrutador especializado na área de Engenharia e Logística da consultoria Talenses, tem opinião semelhante: “Engenharia é uma faculdade muito completa. Ela prepara muito bem o profissional e dá uma linha de raciocínio muito forte. Os engenheiros trabalham muito bem com números. Isso, atrelado a um bom perfil pessoal, se encaixa bem em muitas áreas”.

Porém, essa versatilidade pode se tornar um problema. Alice conta que os colegas que se formaram junto com ela tiveram dificuldade de encontrar emprego na área. “Isso foi uma surpresa para mim. Muita gente não conseguiu emprego. As empresas estão querendo contratar os engenheiros recém-formados como analistas e não como engenheiro júnior. Os engenheiros ainda têm uma restrição quanto a isso”, diz a trainee.

Para o executivo da Talenses, esta é uma tática das empresas para equiparar os salários dos jovens engenheiros com os profissionais formados em outros cursos. Segundo a pesquisa, entre as empresas que estabelecem um cargo no momento da efetivação, 22% optam pelo nível de analista.

Veja também: Jovem britânico é obrigado a dançar em entrevista de emprego

Porém, a variação de salário ocorre desde antes do término da graduação. A média de pagamento para estagiários de todos os cursos com carga horária de quatro horas diárias e de R$ 860 mensais para alunos do penúltimo ano é de R$ 918 mensais para alunos do último ano. Nos estágios com carga horária de seis horas diárias, o valor médio aumenta para R$ 1.111 para alunos do penúltimo ano e R$ 1.184 para os do último ano.

O valor médio da bolsa auxílio também varia de acordo com o Estado onde o estagiário trabalha. Para estágios com alunos do último ano de curso e com carga horária de seis horas diárias, o Estado com o maior valor médio de remuneração continua sendo São Paulo, com salários médios de R$ 1.330 em empresas situadas no interior e R$ 1.341 na capital. A Bahia e a Paraíba foram os Estados que apresentaram o menor valor médio da bolsa auxílio, ambos registrando R$ 1 mil mensais.

Segundo a gerente de atratividade da Braskem, Daniela Panagassi, a empresa realiza pesquisas anuais para identificar quais os valores mais adequados para cada região onde a empresa atua. Essa prática também é comum na Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul. “A gente faz pesquisas salariais, entendendo o mercado e a região. É com base nessa referência que chegamos ao valor”, conta Fernanda Leal, gerente de desenvolvimento organizacional da multinacional.

Divulgação
"Engenharia é uma faculdade muito completa. Ela prepara muito bem o profissional e dá uma linha de raciocínio muito forte", diz Roberto Bonito, da Talenses
A pesquisa aponta ainda que os valores da bolsa auxílio apresentam variações de acordo com o setor de atuação da empresa na qual o estagiário trabalha. Companhias do setor químico, petroquímico e de óleo e gás pagam em média R$ 1.391 mensais para os estagiários, seguidas de empresas do setor de engenharia e construção civil (R$ 1.254) e industrial geral (R$ 1.215). Já as empresas que apresentaram a média salarial mais baixa foram as que atuam no setor de energia (R$ 1.000) e agronegócios (R$ 910).

Efetivação

Segundo os dados do Hay Group, nas 162 empresas consultadas, cerca de 49% dos estagiários são efetivados. Este percentual é considerado positivo por Thiago Silva, consultor e condutor da pesquisa. “A rotatividade é muito grande. Tem uma questão dessa geração nova, que se o estágio não é muito o que eles querem, eles vão embora mesmo. É uma turma que não fica insistindo e vai procurar o que gosta mais”, conta ele.

Veja também: Redes sociais mudam a dinâmica por busca de empregos

Ainda segundo a pesquisa, 86% das empresas apontaram que a efetivação do estagiário pode acontecer antes do término do contrato, e que tudo depende da disponibilidade da vaga e do desempenho do estudante.

No caso dos trainees, a taxa de efetivação é de 82%. Ao entrar no programa, o recém-formado recebe em média R$ 4.579 mensais das empresas. Esse valor vai para R$ 5 mil quando o profissional é integrado ao quadro de funcionários da empresa.

Critérios de seleção

Com programas de estágio e trainee cada vez mais estruturados, as empresas realizam processos seletivos com diversas etapas para filtrar os melhores profissionais. No entanto, a busca por um profissional com valores próximos aos da companhia ainda é apontada como o critério fundamental de seleção.

A fluência na língua inglesa, por exemplo, é critério eliminatório em 58% dos processos seletivos para trainees, queda de 4% em relação à 2012. Confirmando esta tendência, a Braskem não considera mais o inglês como fundamental na escolha dos profissionais. “Nós levávamos isso em conta e realizávamos testes no passado. Porém, se você admitiu um jovem com potencial, por mais que ele não saiba, ele vai aprender aqui”, conta Daniela Panagassi. Os testes só são realizados, segundo ela, para candidatos às vagas em que existe contato com a língua.

E mais: Setores formais abrem espaço para tatuagens e outras expressões visuais

“Nós esperamos que [os jovens] venham adicionar, tragam conhecimento e estejam dispostos a aprender. Apesar de parecer clichê, o que é muito importante e faz a diferença é a questão dos valores. Se o jovem não tem [nosso] perfil, ele assusta. Ele tem que ter a nossa cara", diz a gerente.

Fernanda Leal, da Whirlpool, lembra que os programas de estágio servem como uma fonte de atração e retenção de profissionais, para que futuramente eles ocupem cargos essenciais na companhia. “[O jovem] não é simplesmente uma mão de obra operacional”, diz ela.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.