Cinema

Estação Cabo Branco exibe ‘Zuzu Angel’ em versão para deficientes visuais

Inclusão


26/03/2013



A Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes exibe nesta quarta-feira (27), às 14h, mais uma sessão de cinema audiodescritivo (voltada para deficientes visuais ou pessoas com baixa visão). O filme escolhido é ‘Zuzu Angel’ (2006), cinebiografia da estilista brasileira que fez sucesso nos anos 1960, com Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira e Leandra Leal no elenco.

As mostras inclusivas são realizadas sempre nas últimas quartas-feiras de cada mês na Sala de Audiovisual da Estação, localizada no segundo pavimento da Torre Mirante. A entrada é gratuita, e os acompanhantes dos portadores também têm acesso livre.

‘Zuzu Angel’ – A ditadura militar faz o Brasil mergulhar em um dos momentos mais negros de sua história. Alheia a tudo isto, Zuzu Angel (Patrícia Pillar), uma estilista de modas, fica cada vez mais famosa no Brasil e no exterior. Paralelamente, seu filho, Stuart (Daniel de Oliveira), ingressa na luta armada, que combatia as arbitrariedades dos militares.

As diferenças ideológicas entre mãe e filho se aprofundam. Ela, uma empresária, ele, lutando pela revolução socialista e Sônia (Leandra Leal), sua mulher, partilha das mesmas ideias. Numa noite, Zuzu recebe uma ligação, dizendo que Stuart tinha sido preso pelos militares. As forças armadas negam e Zuzu visita uma prisão militar e nada acha, mas viu que as celas estavam tão bem arrumadas que aquilo só podia ser um teatro orquestrado pela ditadura.

Pouco tempo depois, a estilista recebe uma carta dizendo que Stuart foi torturado até a morte na aeronáutica. Ela então inicia uma batalha para localizar o corpo do filho e enterrá-lo. Zuzu vai se tornando uma figura tão incômoda para a ditadura que declara a chance de ser morta em um "acidente" ou "assalto".

Audiodescrição – A audiodescrição é uma ferramenta importante para a compreensão das obras audiovisuais por quem não enxerga ou tem baixa visão. Como o próprio nome diz, é o ato de descrever o que se vê na tela – só que é usada nos momentos de pausa nos diálogos dos personagens (um narrador). Serve para situar o espectador, em palavras sucintas, sobre os cenários, as situações dos enredos e as reações dos personagens imprescindíveis para o entendimento da história.

Isso poupa o deficiente visual de apelar para exercícios imaginativos que frequentemente levam a entendimentos errôneos sobre o fim de uma obra, como aponta o estudante e cantor gospel William Veras, atendido pelo Instituto dos Cegos de João Pessoa: “Seria muito bom se a TV brasileira oferecesse a opção da audiodescrição para nós, que não enxergamos. Decididamente, uma possibilidade inclusiva”.

A lei – Uma lei publicada em 2011, em atendimento a uma portaria de 2006 do Ministério das Comunicações, já regulamenta a veiculação de uma cota de pelo menos duas horas semanais de programação com audiodescrição em canais que transmitem em sinal digital. Falta só cumprir.

“Se nós temos uma ferramenta que pode facilitar a vida de deficientes visuais, se ajuda na inclusão dessas pessoas na sociedade, por que não utilizá-la? É mais uma luta pela igualdade que nossa sociedade vem travando há anos”, diz o estudante de Comunicação Social Vitor Pessoa, um dos coordenadores do projeto Estacine Audiodescrição, ao lado de Ana Carla Jaqueira.

A assessora de eventos da Estação Ana Carla teve uma experiência mais pessoal que a motivou a criar o projeto, a partir de um estudo de caso que desenvolveu para conclusão do curso de Turismo. “Por volta dos 50 anos, a minha avó, que era enfermeira, sofreu um deslocamento de retina e ficou cega. Até então morávamos juntas, no interior. Após isso, nos mudamos para João Pessoa e ela começou a ser atendida pelo Instituto. Não parou de trabalhar em momento algum – inclusive morava com outra amiga cega. Este senso de independência me inspirou muito”, conta.

Deste momento em diante, para ambas um novo mundo de adaptações às dificuldades se abriu, e a consciência quanto aos direitos, para Ana Carla, é a maior arma contra os abusos: “Durante a pesquisa, percebi que muitos cegos não têm sequer conhecimento de seus direitos mais básicos, o que torna a luta muito mais árdua. Somos fiscalizadores do nosso próprio bem-estar”, diz.



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