Paraíba

Escritor paraibano lança novo romance em João Pessoa

Em JP


22/09/2015



O jornalista e escritor paraibano Alexsander Carvalho lança, no próximo dia 26, o seu terceiro livro: ‘Recortes de uma vida atormentada’. O lançamento ocorre às 19h30, no Jardim do Café Galeria, localizado na Avenida João Maurício, 1443, na Praia de Manaíra, em João Pessoa.

O romance conta a história de Bernardo, que está de volta à sua cidade natal nove anos depois de ser expulso de casa. Essa volta ocorre após a morte do pai, com quem sempre teve um relacionamento conflituoso.

Enquanto vai reencontrando os familiares, em especial os irmãos que sempre o odiaram, Bernardo vai contando partes de sua vida naquele lugar, sua família, seus conflitos com o pai e os irmãos, seus amores, suas paixões e desejos, suas tragédias pessoais. O reencontro com a família é uma oportunidade para Bernardo, não apenas acertar as contas com o passado, mas também definir o caminho futuro.

Natural de Cabedelo, município localizado na Região Metropolitana de João Pessoa, capital paraibana, Alexsander Carvalho tem dois livros publicados: ‘A jornada’, de temática religiosa e que foi vencedor do ‘Prêmio Emílio Conde’, em 2006; e ‘Delírios’, uma das obras vencedoras do ‘Prêmio Novos Autores’, promovido pela Prefeitura de João Pessoa, também em 2006. Atualmente, Alex, como é mais conhecido, é servidor do Ministério Público da Paraíba (MPPB).
Serviço: Devido ao pequeno espaço do local de lançamento, o evento será restrito a apenas 50 convidados, com acesso por meio de senhas. Mais informações com o autor, Alexsander Carvalho, pelo telefone (83) 98828-7481.

CRÍTICA

Por Jorge Rezende

A inteligência contra a força

A obra ‘Recortes de uma vida atormentada’, a terceira na ainda imberbe carreira de escritor do jornalista cabedelense Alexsander Carvalho, é uma daquelas criações que se pode chamar de instigante e que, talvez não de forma intencional, faz uma ode disfarçada de prosa à ambiguidade do ser humano. E nos obriga a repetir o clichê: você começa a ler e não quer parar; quer saber do capítulo seguinte…

A ambiguidade da obra começa no gênero e na categoria do texto. É extremamente flexível. Tem todas as características de um romance, mas em certos momentos os desfechos das ações ocorrem na velocidade de um conto, até mesmo de uma crônica. Em outros trechos, a poesia povoa a narração – até musicada às vezes. Mas o clima é de novela. Uma boa novela. A tensão é de um texto teatral, mas observa-se no desenrolar da narração (apesar de ser na primeira pessoa) a forte presença da reportagem jornalística. Em algumas partes da obra, há a sensação de que se está lendo um livro-reportagem.

Não importa o gênero, a categoria, a ambiguidade… A história de Bernardo, a personagem principal e seus tormentos, é um roteiro pronto. Sem exageros, é um roteiro para uma daquelas novelas que mexem com a alma e curiosidade do leitor (ou espectador), ou que se destina a uma peça teatral e, agora exagerando bastante, até mesmo para uma produção cinematográfica.

A ambiguidade é a marca de Bernardo. Ele consegue ser ao mesmo tempo romântico e amargo; sonhador e realista; sensível e endurecido; amoroso e rancoroso… Aliás, a ambiguidade é a marca registrada do ser humano. Por isso é fácil identificar-se com a história de Bernardo. Todos, em vários momentos da narrativa, se veem na pele de Bernardo… Na maioria das vezes até previsíveis… Como se diz na linguagem futebolística: Bernardo “telegrafa” o que vai fazer e o leitor até imagina o que irá ocorrer, porém essa previsibilidade não diminui a ânsia pelo imprevisto e até causa uma maior expectativa de quem está lendo.

Outra característica forte de ‘Recortes de uma vida atormentada’ é a tinta carregada no comportamento e perfil das personagens, sempre permeando a ambiguidade. É a inteligência contra a força. Os personagens masculinos, com raríssimas exceções, são fortes, toscos, violentos, ditadores… Mas fracos na alma, no intelecto e nos sentimentos. Já as personagens femininas são fracas na vida, nas atitudes, nos sentimentos… Mas fortes nas suas decisões: abandonar amores, deixar os sonhos e até partir da vida corporal.

A obra ainda se caracteriza por certo incentivo às artes, à cultura, ao conhecimento. Quem lê ‘Recortes de uma vida atormentada’ faz um passeio, simples, mas um passeio, pelo desenho, pela música e, principalmente, pela literatura. Como o próprio personagem Bernardo cita num momento do livro: “Era um pouco de orvalho na terra seca das mentes e corações daquela gente ignóbil”.

Acreditem!… No livro, como numa manifestação mágica, o leitor divagará de Antoine de Saint-Exupéry a Graciliano Ramos; de Augusto dos Anjos a Adriana Calcanhoto; de Odair José a Monteiro Lobato; de Álvares de Azevedo a Reginaldo Rossi; de Jessé e Roberto Carlos a Castro Alves e Casimiro de Abreu; de Cruz e Souza a Jane e Herondy… Mas ainda esbarra em Edith Piaf, Machado de Assis, Manuel Antônio de Almeida, Raul Pompéia e até numa blogueira dos tempos do Facebook: uma tal de Marina C. Isso sem falar nas alusões a livros e textos bíblicos.

Por fim, é bom ressaltar que a obra é atemporal, mas a impressão que se tem é que a história acontece nos dias de hoje, onde o “petralha” Bernardo é perseguido, xingado, esculhambado e injustiçado pelos três irmãos “coxinhas golpistas da direita”: Geraldo Filho, Marcos Antônio e José Pedro. Os três sempre perpetrando o ódio e os atos mais absurdos para agradar a “um tucano revoltado por não admitir derrotas”: o pai, Seu Geraldo, que na verdade não é um tucano, mas um touro, e dos bravos, louco pra chifrar.

As atitudes tresloucadas e esquizofrênicas dos “coxinhas golpistas” é bem retratada por um pensamento de Bernardo expressado pelo autor: “Marcos Antônio era um fraco, um débil, um cachorrinho sempre a balançar o rabo para o irmão mais velho. Ria das piadas sem graça de Geraldo, se envolvia nas brigas do irmão. Era uma pessoa sem vontade própria, dessas que vieram ao mundo para serem escravas dos outros, cuja maior realização da vida é serem escravas dos outros.”.



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