Educação

Escolas enfrentam roubo de computadores e até de merenda

Problema


18/01/2015

 A qualidade do ensino nas escolas da rede pública de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, vai mal. O município não atingiu as metas de desempenho do Ministério da Educação em 2013. Os alunos estão abaixo da média do Rio de Janeiro e da nacional. Mas não é só com o aprendizado que os professores da rede pública da cidade precisam se preocupar. Assaltos na porta da escola, furtos de fiação, de computadores e até de merenda escolar atrapalham o cotidiano escolar.

"A violência piorou no ano passado, foram dez furtos. Nos primeiros, roubavam apenas o bebedor e a fiação elétrica. Até que em setembro, roubaram computadores, ar-condicionado, micro-ondas da sala dos professores, geladeira e até talheres", conta a professora Wanderleia Monteiro, de 46 anos, que dá aulas no Ciep 328 Marie Curie, na Chácara Arcampo. Parte da merenda escolar também foi levada nessa invasão.

Segundo ela, a cada roubo de fiação elétrica as aulas eram suspensas por um ou dois dias devido à falta de luz. O último furto mudou a programação dos professores, que ficaram sem computadores para usar em atividades escolares até dezembro.

No mesmo bairro, o Ciep Municipalizado Henfil foi alvo de cinco roubos em 2014. Em outubro, levaram computadores, televisão e outros equipamentos. O prejuízo foi calculado em aproximadamente R$ 18 mil.

"Escolas em áreas de conflito sofrem com a violência que não é da escola, é do entorno. As escolas são invadidas à noite e levam o que podem levar, de computador a merenda", explica Ivanete Conceição da Silva, coordenadora do sindicato dos professores (Sepe-RJ) em Duque de Caxias. "Em alguns lugares, a escola é o único espaço público do local e muitas delas não têm porteiro ou vigia e não há policiamento na região."

Outros casos:

Em um levantamento feito pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal, 23 de 202 escolas que responderam disseram que a escola não oferecia condições de segurança para os alunos pelo controle de circulação de pessoas.

"Normalmente, a violência no entorno está diretamente relacionada ao domínio que o crime organizado exerce sobre o território", afirma a promotora de Justiça Elayne Rodrigues, responsável por um processo sobre qualidade de educação no município que está em andamento no MP.

Sequestro de professor

A realidade se repete em diversos bairros. Professores e alunos ouvidos pela reportagem contaram casos de assaltos, invasões e até sequestro-relâmpago de professores em escolas de Chácara Arcampo, Santa Lúcia, Parada Angélica, Sarapuí, Mangueirinha, Vila Ideal e Vila Operária.

A falta de segurança de profissionais e estudantes do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) culminou no sequestro-relâmpago de um professor no estacionamento do campus, em Sarapuí, em agosto de 2014.

"Há algum tempo os professores começaram a perceber que havia uma invasão na quadra do instituto para uso do crack e tráfico no noturno. No entorno do campus, alguns alunos já haviam relatado assaltados. Até que aconteceu o roubo e o sequestro-relâmpago de um colega no estacionamento do instituto durante o dia", conta o professor de história Fabiano Faria, de 40 anos.

Segundo ele, depois do sequestro-relâmpago, a situação ficou ainda mais dramática e começou um conflito entre os invasores e os profissionais da escola. "Nossa diretora chegou a receber uma ameaça de morte."

Os professores, então, paralisaram as aulas e conseguiram uma reunião com o prefeito do município, que garantiu que haveria policiamento na região. A partir de então, a polícia passou a fazer a segurança da unidade. No entanto, após algum tempo, a frequência foi reduzida.

"Estamos em aula agora e já não tem mais policiamento. A sensação de insegurança permanece porque sabemos que não há nenhuma medida de segurança para que seja reduzida a violência. Estamos à margem das circunstâncias", diz.

Para Solange Bergami, da Associação de Pais e Alunos da Escola Pública, os casos mostram a necessidade de mais policiamento na área das escolas. "Isso indica a necessidade mais policiamento. Os professores e os alunos estão expostos a uma situação de insegurança."

Outro lado

Sobre os assaltos em frente a escolas estaduais do município, a Secretaria do Estado da Educação afirmou que 30% das escolas da rede em Duque de Caxias participam do Programa Estadual de Integração na Segurança e tem policiais dentro das unidades.

Procurada pela reportagem, a secretaria municipal de Educação não havia respondido até a publicação da matéria.



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