Política

Escola se inspira em matéria do Portal WSCOM e abre as portas para a inclusão

Premiada


19/03/2013

Até o ano de 2012, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Hugo Moura, localizada na Cidade Padre Zé, não tinha matriculado nenhum aluno com necessidades especiais. Embora houvesse procura, a escola não se sentia preparada para trabalhar com essas crianças e sempre as encaminhava para outras instituições. A situação mudou quando inspirada por uma matéria veiculada no Portal WSCOM Online (http://www.wscom.com.br/noticia/educacao/ESCOLAS+DIFICULTAM+INCLUSAO+DE+ESPECIAIS-138520), a diretora Sonja Maria de Oliveira Cabral, decidiu encarar o desafio.

De acordo com a diretora, ao ler a matéria ela percebeu que o único modo de aprender a lidar com crianças especiais seria abrindo as portas para elas. Atualmente, a escola tem cinco alunos nessa situação: dois tem problemas mentais, dois tem TDAH (Distúrbio de Déficit de atenção e Hiperatividade) e um possui Distúrbio Desafiador e de Oposição, que leva a criança a manifestar uma agressividade extrema e comportamento antissocial. “Só se aprende a lidar com esses problemas no cotidiano. Nenhuma mãe se prepara para ter um filho deficiente, mas ela aprende a fazer o que tem que ser feito, da mesma forma a escola precisa acolher essas crianças e aprender a trabalhar com elas”, defende Sonja.

A diretora explica que antes era contrária a inclusão, mas quando decidiu abrir às portas da escola, só iria promovê-la de maneira correta e para isso os professores precisavam fazer com que as outras crianças entendessem que existem pessoas diferentes. Uma equipe especializada da Secretaria de Educação do Município foi à escola e conversou com os professores. “É preciso que a escola esteja aberta para trabalhar a inclusão e abrir o coração independente do conhecimento que se tem. A gente precisa tentar, o que não podemos é simplesmente fechar as nossas portas”.

As dificuldades de adaptação são muitas, os professores precisaram de muita dedicação e até vir à escola fora dos seus horários de trabalho para se preparar, mas esses novos alunos já vem demonstrando um potencial e uma capacidade de aprendizado que surpreende até os educadores. Além disso, para Sonja, os demais alunos se beneficiam com esse contato, pois aprendem a respeitar e lidar com as diferenças e limitações de cada um. “Melhora até o comportamento, desperta um amor maior pelo outro”, defende.

A Secretaria de Educação enviou no início do ano uma equipe para dar um treinamento aos docentes e a mesma equipe deve retornar à escola na próxima terça-feira (19) para auxiliar as professoras no processo de inclusão. “Apenas um encontro já ajudou bastante e achamos que com essa segunda reunião podemos avançar ainda mais”.

Dificuldades

A professora do terceiro ano Daniele Dantas é uma das que tem um aluno especial na sua turma. Ela também acredita que o aprendizado dos docentes acontece no dia-a-dia e que é necessário conversar muito com as outras crianças. Mesmo assim, a convivência e os estímulos adequados fizeram com que crianças com diagnósticos desfavoráveis fizesses avanços surpreendentes.

Entretanto, apesar da boa vontade, é preciso mais do que isso para fazer dar certo. Ela lembra que a lei de inclusão já tem mais de 18 anos, mas até hoje há dificuldades de implementação. Uma das maiores dificuldade para o professor é preparar atividades diferenciadas para que a criança com alguma deficiência consiga se desenvolver no seu próprio ritmo. Daniele sugere que os poderes públicos montem, com o apoio de especialistas, uma cartilha para orientar os professores na condução das atividades de estudantes com os mais diferentes tipos de deficiência.

A professora Maria Rosilete, concorda com a ideia da cartilha. Ela explica que mesmo acompanhada de um cuidador, às vezes fica difícil trabalhar o cognitivo dessas crianças, pois algumas não conseguem acompanhar o conteúdo que vem no material didático. “Ás vezes fica difícil. Aqui a gente trabalha, mas seria necessário um plano adaptado por um psicopedagogo e outras pessoas para fazer atividades paralelas”, sugere.

Quem enfrentou o convívio com alunos especiais sem um treinamento adequado hoje sabe o quanto é importante. “O único apoio é o da escola. Eu acredito que os poderes públicos precisariam ter uma postura mais ativa e ir até as escolas onde sabem que tem crianças assim com um projeto que ajudasse”, opina Helena Rodrigues, que integra o grupo de professoras que trabalha com a inclusão na sua sala de aula. Um ponto importante levantado pela professora Elália Cabral é a necessidade de treinar os cuidadores junto com o professor e que esse treinamento precisa ser continuo. “Trabalhar em equipe nesses casos é importante para que a criança não entre na escola apenas por entrar, mas que ela se beneficie”, argumenta.

Mas mesmo dentro da própria escola, a ideia de inclusão enfrenta resistência, como é o caso da supervisora pedagógica Desivânia Alexandre. Ela trabalha com educação há 10 anos e acredita que nem a sociedade nem as escolas estão preparadas para inclusão. Ela defende que para isso, o professor teria que lecionar apenas um expediente e usar o outro para poder se preparar e também que a escola possuísse uma sala de recursos para trabalhar com essas crianças. “Nós países que já passaram por essa preparação funciona, mas aqui acredito que ainda não”.

A matéria “Escolas ainda encontram dificuldades para incluir crianças com necessidades especiais no ensino regular”, foi premiada com o segundo lugar no Prêmio de Jornalismo Criança PB. Para o editor do Portal WSCOM, Marcos Wéric, é esse tipo de jornalismo que deve ter mais ênfase nas redações, “ao invés do fuxico político que infelizmente faz parte do nosso dia a dia”

Ainda segundo o editor, a  repórter Mônica Melo, responsável pela matéria, se disse muito realizada com o alcance que a matéria obteve, não apenas pelo prêmio, mas, pelo mais importante que é o efeito social que ela causou.
 

 



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