Saúde

Epidemia silenciosa do burnout em 2025: por que os jovens estão entre os mais afetados?

Especialistas do Núcleo de Psicologia Clínica da CASULU coworking analisam os impactos, causas e caminhos para a prevenção da síndrome que desafia o mundo do trabalho.


08/07/2025

(Foto: divulgação/Unimed-JP)



A síndrome de burnout deixou de ser um tema restrito aos consultórios psicológicos para se tornar uma preocupação global. Em 2025, ela já é reconhecida como uma das principais síndromes ocupacionais do nosso tempo, e com um agravante: atinge cada vez mais pessoas jovens, que estão no início ou auge de suas trajetórias profissionais.

Siga o canal do WSCOM no Whatsapp.

De acordo com o Recontar Núcleo de Psicologia da Casulu, o crescimento expressivo dessa condição se deve a uma combinação de fatores sociais, culturais e organizacionais. “Vivemos em uma sociedade que cobra de forma intensa o sucesso profissional, financeiro e pessoal. Essa pressão, especialmente entre os jovens, tem gerado níveis alarmantes de estresse, ansiedade e desgaste mental”, explica a psicóloga Monique Barbosa.

Por que os jovens estão sofrendo mais?

Uma pesquisa recente do Moodle revelou que 66% dos trabalhadores norte-americanos relatam estar em burnout, e entre os jovens de 18 a 34 anos, esse número ultrapassa os 80%. Para Monique, isso reflete as inúmeras demandas que recaem sobre essa faixa etária: construção de carreira, equilíbrio emocional, incertezas sobre o futuro, múltiplas jornadas e insegurança financeira. “Muitos estão tentando equilibrar vida acadêmica, entrada no mercado de trabalho e ainda lidar com padrões inatingíveis de produtividade e realização”, afirma.

Ambientes de trabalho tóxicos e a cultura da hiperprodutividade

Segundo o psicólogo Lucas Braz, a cultura da hiperprodutividade segue como uma das grandes vilãs desse cenário. “Ambientes que valorizam apenas o desempenho, metas inalcançáveis e jornadas longas, sem reconhecimento ou acolhimento, são os principais catalisadores do burnout. E é importante lembrar: não se trata de fraqueza individual, mas de um sistema disfuncional que adoece”, reforça.

Ele alerta ainda para outros fatores agravantes, como falta de clareza nas funções, assédio moral e ausência de apoio psicológico nas empresas. “Tratar burnout como algo resolvido com um dia de folga ou um ‘vale terapia’ é simplificar uma condição complexa. É preciso uma mudança cultural e estrutural nas organizações”, completa.

Como reconhecer os sinais?

O psicólogo Rogério Franco ressalta que o burnout costuma se manifestar aos poucos, muitas vezes de forma silenciosa. “Queda de produtividade, isolamento, dificuldade de relaxar, irritabilidade constante, distúrbios do sono e sintomas físicos como dores de cabeça ou falta de ar são alguns sinais frequentes. Em casos mais graves, pode haver despersonalização e sensação de estar ‘fora de si’”, explica.

Identificar esses sinais precocemente é fundamental para evitar o agravamento da condição. “Um olhar atento para si e para os colegas de trabalho pode ser determinante. O autocuidado e a rede de apoio fazem diferença”, acrescenta.

Burnout não é cansaço comum

Diferenciar burnout de cansaço pontual também é essencial. “O cansaço melhora com descanso. Já o burnout é persistente. A pessoa se sente exausta, improdutiva e distante emocionalmente do trabalho, mesmo após períodos de pausa”, destaca Lucas Braz.

E as empresas, estão preparadas?

Apesar dos avanços nas discussões sobre saúde mental, a maioria das empresas ainda está despreparada para lidar com o burnout, aponta Lucas. “Ainda vemos ambientes onde falar sobre sofrimento emocional é tabu. É urgente investir em lideranças mais humanas, criar canais de acolhimento e colocar o bem-estar no centro da cultura organizacional”.

Além disso, novas legislações reforçam essa urgência. A partir de 2025, com a adoção da 11ª versão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), o burnout passou a ser oficialmente reconhecido como um fenômeno ocupacional (QD85).

E o que podemos fazer individualmente?

Para a psicóloga Janaina Albuquerque, embora a responsabilidade principal seja das empresas, existem práticas individuais que ajudam na prevenção: estabelecer limites entre vida pessoal e trabalho, fazer pausas conscientes, ter uma boa rotina de sono, praticar atividades físicas, manter hobbies e desenvolver o autoconhecimento.

“São atitudes simples que, se feitas com consistência, podem reduzir significativamente o risco de esgotamento. E, claro, procurar ajuda profissional não deve ser visto como último recurso, mas como uma medida de cuidado e prevenção”, orienta.

O impacto do trabalho remoto

Com a popularização do trabalho remoto e do modelo híbrido pós-pandemia, os efeitos foram ambíguos. “Empresas que oferecem autonomia e limites claros podem melhorar a qualidade de vida. Mas sem estrutura adequada e valorização do bem-estar, o home office pode acentuar o isolamento e a sobrecarga”, alerta o psicólogo Anderson.

Uma epidemia corporativa silenciosa

De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, os afastamentos por burnout cresceram mais de 1000% na última década no Brasil. Só em 2023, foram 421 casos registrados — contra 178 em 2019. A tendência, segundo os especialistas da Casulu, é que esse número continue crescendo, caso nada seja feito.

“A pressão por performance, hiperconectividade e falta de propósito podem tornar o burnout a maior causa de afastamentos no futuro. Reverter esse cenário exige políticas públicas, cultura organizacional mais humana e incentivo ao autoconhecimento”, afirma a psicóloga Ylsa.

Para quem já está em burnout, o que fazer?

O primeiro passo é buscar ajuda especializada. “Terapia é essencial não só para tratar, mas também para prevenir o agravamento. É preciso um espaço seguro para elaborar esse sofrimento e encontrar caminhos possíveis”, finaliza Lucas Braz.

O Recontar Núcleo de Psicologia da Casulu segue atuando no cuidado com a saúde mental de forma ética, acolhedora e integrada. Para mais informações sobre atendimentos, rodas de conversa e ações educativas, entre em contato conosco. Mais informações entre em contato conosco e faça seu agendamento.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.