Economia & Negócios

ENTREVISTA: Presidente do CONFEA revela os bastidores da tramitação de matérias relativas ao futuro da engenharia, no Congresso Nacional


04/06/2021

Joel Krüger, é presidente do Confea

Revista NORDESTE

Um dos principais destaques da nova edição, de nº 172, da Revista NORDESTE é a entrevista com o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Joel Krüger, que avalia a atual conjuntura política e econômica brasileira, e revela os bastidores e possíveis cenários relativos à tramitação de matérias importantes que envolvem o futuro da engenharia, no Congresso Nacional.

A nova edição da NORDESTE já está disponível para leitura virtual no site da Revista (www.revistanordeste.com.br) e também no Portal WSCOM. (CLIQUE AQUI para acessar).

Leia a matéria na íntegra:

O TIMING DE MAIS LUTAS DA ENGENHARIA BRASILEIRA EM TEMPO DE MUITOS DESAFIOS

Presidente do CONFEA avalia conjuntura, revela cenários de inquietação no Congresso Nacional e projeta futuro da engenharia

Por Walter Santos

O presidente do CONFEA, Joel Krüger, anda com sua agenda tomada de compromissos que lhe levam a acompanhar atentamente muitas matérias polêmicas no Congresso Nacional a afetar a engenharia e sua representação legal, da mesma forma que ainda vive criando situações para o sistema da engenharia se mantenha modernizado para conter os efeitos da conjuntura e da pandemia. Eis a entrevista do dirigente, a seguir:

Revista NORDESTE – O Brasil convive desde 2020 com a mais forte pandemia de todos os tempos, já passando de 330 mil óbitos. De que forma a Covid afetou a engenharia e a agronomia em termos efetivos, de números econômicos?

Joel Krüger – A economia foi bastante afetada em todas as regiões do país. Claro que por consequência as atividades relacionadas a nossas profissões também sofreram. Porém, o impacto não foi tão significativo. Em 2019 o Sistema Confea/Crea emitiu mais de cinco milhões de ART, Anotações de Responsabilidade Técnica e realizou mais de 500 mil fiscalizações. Em 2020, mesmo com a saída de profissionais de nível médio do nosso Sistema e com a pandemia os números ainda não totalmente consolidados não apontam uma queda significativa. Isso é explicado por nossas profissões terem sido consideradas desde o início da pandemia como serviço essencial. Tivemos uma demanda grande por tecnologia, por acesso a internet, por smartphones e computadores mais sofisticados. No entanto, os maiores impactos, sem dúvida, referem-se às vidas perdidas, um prejuízo imensurável e irreversível que não poupou vidas de toda a sociedade, incluindo profissionais da Engenharia, Agronomia e das Geociências. Muitos desses profissionais chegaram a contribuir para a redução dos impactos sociais da pandemia e, infelizmente, sucumbiram à infecção.

NORDESTE – Conceitualmente e pragmaticamente, como o passado recente no País, afetado por operações do nível da “Lava Jato”, atingiu o mercado da engenharia em nível nacional e internacional? Ao que parece, perdemos a competitividade no exterior…

Joel Krüger – As grandes empresas de engenharia brasileiras foram consideravelmente afetadas neste sentido. Empresas públicas como a Petrobras, maior empresa brasileira, tiveram sua imagem fortemente afetadas, com consequente perda de investimento. Ao mesmo tempo, o setor de engenharia também foi duramente afetado, com paralização de muitas obras e o desmonte ou a falência de grandes empresas. Somos totalmente contrários a qualquer forma de corrupção, mas entendemos que as pessoas acusadas de atos lesivos deveriam ser afastadas de suas funções. Porém é importante a preservação das empresas, que geram milhares de empregos e não poderiam ser responsabilizadas por atos de pessoas. Temos uma necessidade absurda por infraestrutura, de pesquisa, de desenvolvimento. Tudo isso foi duramente afetado e, sem dúvida, o Brasil vem perdendo competitividade. Há dez anos, tínhamos uma perspectiva bastante otimista para a engenharia, com alta procura e abertura de vagas em universidades de cursos na área. Infelizmente hoje o cenário não é esse.

NORDESTE – Do ponto-de-vista orgânico, como os efeitos da pandemia foram sentidos no Sistema Confea/Crea e Mútua, a partir dos Conselhos Regionais? A inadimplência chegou a que estágio?

Joel Krüger – Como disse anteriormente, nossas atividades não sofreram uma grande perda de arrecadação. Desde o início da pandemia foram tomadas ações para minimizar os impactos junto aos nossos profissionais. As anuidades não sofreram qualquer tipo de reajuste e os prazos para o pagamento das mesmas foram estendidos. Dessa forma, os níveis de inadimplência também não sofreram alterações significativas.

NORDESTE – Dentro deste contexto, quais os desafios mais urgentes do sistema representativo da categoria?

Joel Krüger – É importante que a engenharia brasileira volte a ser protagonista e tratada como prioridade. Um exemplo de como o trabalho de nossos profissionais pode ajudar o desenvolvimento do país é a agricultura. Tivemos uma revolução nesse segmento nos últimos 50 anos. Saímos de importadores de alimentos para sermos exportadores e um dos players importantes no cenário mundial. E esse aumento da produtividade agrícola brasileira veio com a tecnologia, com o uso de técnicas de manejo sustentável do solo, de novas máquinas e equipamentos. E isso é fruto do trabalho de nossos profissionais. A engenharia brasileira já viveu uma grave crise nos anos 80 e 90 do século passado. Não podemos ficar mais uma década patinando, o Brasil tem enorme potencial para uma indústria de alta tecnologia. Temos dialogado com o governo federal e ministérios neste sentido. Precisamos interferir mais. Qual o projeto de Brasil que a gente quer? A engenharia é, acima de tudo, resolver problemas. É transformar e construir qualidade de vida com sustentabilidade.

NORDESTE – Como o ensino e a formação de novos profissionais têm sido afetados nesta nova fase?

Joel Krüger –
A pandemia demonstrou que é inevitável a valorização do ensino a distância. Essa modalidade de formação dos profissionais ainda apresenta muita resistência de um lado, e um açodamento ainda preocupante, de outro. Ainda precisamos descortinar um diálogo maior no Sistema e com o ministério da Educação para definir os rumos dessa compatibilização, mas a certeza que temos hoje é de que não é mais possível deixar de lado essa ferramenta. Temos feito trabalhos internos, preocupados ainda com a certificação profissional e a acreditação de cursos, mas também avançamos muito ao participar junto das discussões com o Conselho Nacional de Educação – CNE quanto às Novas Diretrizes Curriculares da Engenharia e da Agronomia. Esse processo ainda está em continuidade, mas estamos certos de que obteremos bons resultados, o que retoma o ciclo de discussões sobre o EaD, demonstrando ainda a necessidade de continuarmos marcando a nossa posição e de aprofundarmos as nossas considerações a respeito desses parâmetros.

NORDESTE – É no Congresso Nacional onde tramitam muitas matérias a afetar o conjunto da Engenharia e Agronomia nacional. Quais os projetos de lei que mais preocupam a classe representativa e dirigente do setor?

Joel Krüger – Partindo do ponto positivo primeiramente, chamo a atenção para o PLC 13/2013, que cria a carreira de Estado para Engenheiros, Arquitetos e Engenheiros Agrônomos ocupantes de cargo efetivo no serviço público federal, estadual e municipal, e ainda ao PLS 303/2018, que institui a Engenharia, Arquitetura e Urbanismo Geral da União. Seria uma enorme valorização para os engenheiros que atuam no serviço público e a demonstração de valorização de nossas profissões. Temos imensas demandas e nossas profissões sofrem ataques diversos. Um deles é a Proposta de Emenda à Constituição 108/2019 que pretende tornar os conselhos entidades jurídicas de direito privado e tira o poder de polícia dos conselhos profissionais, não podendo exercer a sua atividade precípua, a fiscalização. Isso prejudica toda a sociedade. Outro ponto é que ela desobriga os profissionais de realizarem suas inscrições nos respectivos conselhos, apostando na desordem, a custo econômico e social alto, precarizando os serviços e gerando ainda mais insegurança. Nessa linha, somos favoráveis à aprovação do Projeto de Lei 6699/2002 que criminaliza o exercício ilegal das profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrônomo.

NORDESTE – O Estado tem se apresentado ao longo do tempo como indutor da produção, a exemplo do programa “Minha Casa, Minha Vida”, ultimamente desaquecido. Como o CONFEA analisa o governo atual no fomento econômico de setores como a engenharia?

Joel Krüger – É preciso investir com mais assertividade no setor da construção civil, que apresentou déficit de 2,5% do PIB do ano passado, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O programa que substituiu o Minha Casa, Minha Vida, lançado no ano passado, o Casa Verde e Amarela, tem sido debatido pelo Confea. Fizemos um termo de cooperação técnica com o ministério do Desenvolvimento Regional para a prestação de serviços de assistência técnica para famílias de baixa renda por meio do programa Casa Verde e Amarela. Esperamos que o mesmo tenha êxito em reduzir o déficit habitacional com qualidade e acompanhamento técnico.

NORDESTE – O que dizem os estudos existentes sobre a retomada da produção e economia na ótica e interesse do CONFEA?

Joel Krüger – A expectativa do setor seria de que houvesse uma mudança, sinalizando a revisão de uma postura mais condizente com as necessidades do setor produtivo, que continua sem ser efetivamente ouvido pelo governo. Temos nos mantido abertos ao diálogo. Também tomamos a iniciativa de criar um Ciclo de Debates sobre Engenharia e Infraestrutura, no qual temos ampliado a nossa atuação junto aos ministérios, inclusive por meio de Acordos de Cooperação Técnica. Foi por meio desse diálogo que acabamos convencendo o governo da necessidade de descontinuar a Resolução nº 64, do ministério da Economia, voltada à implementação do piloto do Licenciamento Urbanístico Integrado para liberação de alvará de construção, bem como do habite-se – documento de autorização para uso e ocupação da edificação – para atividades consideradas de baixo risco. A proposta acabou sendo revogada, durante o diálogo mantido com o setor. E agora estamos discutindo bastante a Resolução nº 4.754/2019, editada pelo Banco Central – Bacen e que dispensou a necessidade de perícia de engenharia para financiamento de imóveis. Há ainda outras linhas de negociação, inclusive junto ao Congresso Nacional, apesar das dificuldades de manter a intensidade das atividades parlamentares, diante da pandemia. Portanto, temos procurado manifestar nosso posicionamento por meio de uma atuação ancorada na participação de todos os profissionais, das empresas e de todas as lideranças do Sistema.

NORDESTE – Qual a mensagem que resta a todos os segmentos da área na direção do futuro?

Joel Krüger – Estamos unidos e conscientes das dificuldades que ainda iremos enfrentar, mas essa é uma rotina que faz parte da própria essência da Engenharia, da Agronomia e das Geociências: somos movidos a desafios. Esse é um momento de prepararmos novamente as bases para que possamos alcançar novamente rumos para o crescimento. O Confea em conjunto com todos os Creas e entidades de classe representativas de nossas profissões estão dispostos a colaborar e fazer com que a engenharia, a agronomia e as geociências sejam os propulsores deste desenvolvimento.



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