Educação

Em Honduras, gangues controlam escolas

Tensão


15/12/2014



 Em escolas de ensino fundamental e média de Tegucigalpa, capital de Honduras, os professores são coagidos por integrantes de gangues a pagar um "pedágio" antes de entrar nas salas de aula. Professores que não pagam, não podem dar aula.

Enquanto a política de prevenção a entidades criminosas distribui panfletos sobre maneiras como gerenciar sua raiva em dois terços das 130 escolas públicas da cidade, membros de organizações criminosas passam nas escolas catálogos de garotas oferecendo serviços sexuais por dinheiro.

Em um país com poucas oportunidades, estudantes querem fazer parte de grupos criminosos como o Mara Salvatrucha e o 18th Street. Assim como esses grupos comandam a maior parte dos bairros da capital hondurenha, também dão as ordens em boa parte das escolas públicas.

Grafites nos muros das escolas apontam a gangue que comanda aquela unidades. O grupo criminoso monitora a polícia que tenta monitorá-lo.

"As escolas são a base da organização para as gangues, e o ponto pelo qual todas as crianças da comunidade passam", diz o tenente Santos Nolasco, porta-voz da junta militar responsável pela segurança do país de 8,2 milhões de pessoas.

Com falhas na educação, muitos estudantes repetem diversas vezes antes de serem aprovados, e a polícia dizem que alguns membros de quadrilhas repetem intencionalmente diversos anos escolares para se manter no comando de operações ilegais dentro da escola –seu modo de vida. Como resultado, jovens entre 11 e 17 anos frequentam as mesmas salas de aula.

Apesar de a maior parte da violência acontecer fora da escola, há casos de estupro e sequestros dentro das unidades, além da recorrente extorção. Em algumas escolas, os professores são obrigados a pagar 1.000 lempiras por mês (cerca de US$ 50) para dar aulas, o que significa mais de 10% de seus salários.

"A extorção acontece através do diretor da escola. Os criminosos marcam encontro com o diretor e ele tem de levar o dinheiro", conta Liliana Ruiz, representante do Ministério da Educação em Tegucigalpa.

Em muitas escolas, o poder das gangues é onipresente e toma conta de todo o ambiente escolar, conta Ruiz. Segundo ela, os professores têm de seguir as orientações dos grupos criminosos ou são removidos para outra unidade.

Prostituição e estupros

Durante uma visita a escola Instituto Jose Ramon Montoya, a oficial de polícia Yojana Corrales conta um pouco do cotidiano de violência nas unidades escolares. Ela trabalha no programa de prevenção à violência nas escolas e entrega panfletos nas salas de aula.

Do lado de fora, um grafite do MS-13 indica a presença do grupo criminoso Mara Salvatrucha. Até recentemente, o segundo andar desta escola de ensino fundamental e médio era comandado por membros desssa gangue e ali havia venda de drogas e prostituição.

"Eles levam as garotas a um shopping para comprar novas roupas. Dão-lhes um celular e pagam oir tratamentos de beleza. Se as meninas querem sair dessa, elas estão em débito por serviços prestados e são ameaçadas", conta Corrales.

O dinheiro ganho com a prostituição é atraente. Uma garota de 14 anos pode ganhar US$ 400 por mês dessa maneira, mais do que um policial recebe como salário, indica Corrales.

No ano passado, três estudantes engravidaram após serem estupradas no segundo andar do Instituto Montoya, de acordo com um professor. A polícia foi acionada e houve conflito entre os membros da gangue e policiais.

Os policiais, então, decidiram fazer uma aproximação diferente: colocou oficiais na porta da escola para vigilar os estudantes. As gangues, então, deixaram a unidade, por enquanto.

"Nós pintamos as paredes dentro da escola há três semanas. Elas vão voltar e colocar suas marcas nelas novamente, e nós vamos repintar novamente", explica o professor Marcio Pastrana. É uma rotina que ele conhece bem, após 35 anos de trabalho na instituição.

"Há mais garotos bons que ruins", afirma. "Fazemos tudo o que é humanamente possível, mas o problema não é a escola, é a sociedade."



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