Paraíba
Elizabeth Teixeira: heroína das Ligas Camponesas na Paraíba completa 100 anos
O festival é uma homenagem à vida de Elizabeth Teixeira, uma mulher que se tornou símbolo de resistência e liderança na luta camponesa.
10/02/2025
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Elizabeth Teixeira, ícone da resistência camponesa, terá seu centenário celebrado em festival na cidade de Sapé.
Portal WSCOM
Uma das lideranças camponesas mais importantes da história do Brasil e militante das Ligas Camponesas Elizabeth Altino Teixeira completa 100 anos. Nasceu em 13 de fevereiro de 1925 na comunidade de Anta do Sono, em Sapé-PB.
O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas localizado na Comunidade Tradicional de Barra de Antas (Sapé-PB), vai realizar o Festival da Memória Camponesa em celebração ao centenário de Elizabete Teixeira, símbolo histórico da luta pela terra e pela justiça social no Brasil.
A casa onde viveu João Pedro Teixeira e sua família, no sítio Antas do sono, zona rural do município de Sapé, foi tombada por Ricardo Coutinho, ex-governador do Estado da Paraíba.
O festival é uma homenagem à vida de Elizabeth Teixeira, uma mulher que se tornou símbolo de resistência e liderança na luta camponesa. Sua coragem e dedicação à causa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo marcaram a história da lupa pela terra, inspirando gerações na busca por direitos, dignidade, justiça social e memória.
13 de Fevereiro: O primeiro dia será marcado pelo reencontro de Elizabeth Teixeira com familiares e amigos. Lançamento da exposição Elizabeth Teixeira: 100 faces de uma mulher marcada para viver e apresentação cultural. 14 de Fevereiro: O segundo dia trará a Marcha da Memória Camponesa, abertura oficial da exposição e apresentações culturais. 15 de Fevereiro: Feira Cultural da Agricultura Familiar Camponesa, ato político com presença de autoridades e atividades culturais.
Perfil da liderança camponesa Elizabeth Teixeira
Elizabeth Teixeira, mulher branca, filha mais velha de Altina Maria da Costa, de origem latifundiária, e de Manoel Justino da Costa, de família de pequenos proprietários de terra, ambos naturais da região de Sapé/PB e Pilar/PB. Desde jovem, ela demonstrava inconformismo com as injustiças praticadas pelos grandes proprietários de terra contra as famílias camponesas. Em 1940, Elizabeth Teixeira conheceu João Pedro Teixeira, um trabalhador negro e evangélico que trabalhava em uma pedreira próxima à sua casa e se casaram em Cruz do Espírito Santo/PB.
Não obstante a resistência de seu pai, que desaprovava o relacionamento, Elizabeth Teixeira desafiou a realidade social da época, casando-se com João Pedro. Juntos, construíram uma vida de amor e luta, dedicando-se à defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. João Pedro Teixeira tornou-se uma das principais lideranças das Ligas Camponesas de Sapé-PB, organização criada nos anos 1950 para combater as violações do latifúndio e defender os direitos dos trabalhadores do campo.
Elizabeth Teixeira quando decidiu se relacionar com João Pedro Teixeira, camponês, negro, operário (trabalhava em uma pedreira) e pobre, a família foi contra. Após o casamento, a primeira criança nasceu em junho de 1944, e devido às dificuldades, Elizabeth Teixeira, em janeiro de 1945, foi morar em Jaboatão dos Guararapes-PE, localizado na Região Metropolitana do Recife, onde teve mais quatro filhos. Na cidade pernambucana, João Pedro Teixeira ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores da Construção.
Por conta de seu envolvimento com questões trabalhistas, ele tinha dificuldade de arrumar emprego.
Por conseguinte, Elizabeth Teixeira começou a trabalhar em uma mercearia nos anos de 1950, 1951 e 1952, permanecendo três anos como trabalhadora urbana e vivenciando as dificuldades que a vida na cidade submetia sua família.
A família retornou para a Paraíba em 1954, onde recebeu apoio de um irmão de Elizabeth, indo residir na comunidade de Barra de Antas, Sapé/PB. Foi lá que o casal liderou a Liga Camponesa do estado. Elizabeth e João Pedro tiveram onze filhos. Na tarde de segunda-feira, no dia 2 de abril de 1962, em uma emboscada, o latifúndio tirou a vida de João Pedro Teixeira, marido de Elizabeth.
O líder campesino João Pedro Teixeira ao descer do ônibus, no qual voltava de uma viagem à capital paraibana, João Pessoa – entre Café do Vento e Sapé – foi assassinado a tiros, pelas costas, por tiros de fuzil aos 44 anos. No dia da do sepultamento do líder campesino João Pedro Teixeira, cerca de 5 mil camponeses tomaram as ruas de Sapé em protesto. Em janeiro de 2018, o nome de João Pedro Teixeira passou a figurar no Livro os Heróis e Heroínas da Pátria, que homenageia personalidades com destaque na história do país.
Como líder camponês, João Pedro vivia sob ameaças constantes, que se tornaram mais presentes a partir de 1955, quando organizou o Encontro dos Camponeses de Sapé, já naquele momento com a presença de Nego Fuba (João Alfredo Dias) e Pedro Fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo).
Elizabeth Teixeira só ficou sabendo do assassinato do marido na manhã seguinte e, ao se deparar com o corpo de seu companheiro, falou a seguinte frase: “João Pedro por mais de uma vez me perguntou se eu daria continuidade à sua luta e eu nunca te dei minha resposta. Hoje eu te digo, com consciência ou sem consciência de luta, EU MARCHAREI NA SUA LUTA, JOÃO PEDRO, PRO QUE DER E VIER.”
Elizabeth Teixeira assumiu o comando das Ligas Camponesas de Sapé e, depois, do estado da Paraíba. Sua atuação política ampliou a participação de camponesas e camponeses na resistência, dobrando o número de associados, e reforçando a participação das mulheres na luta do campo, entre elas, Margarida Maria Alves e as que a sucederam.
Trajetória familiar torturante: Tendo seu marido assassinado em 1962, Elizabeth Teixeira passou a enfrentar intensa repressão aos camponeses neste período, e logo após, a situação foi agravada pelo golpe militar de 1964. Elizabeth Teixeira enfrentou perdas, como o suicídio de uma filha, deprimida com a morte do pai e as prisões da mãe; o assassinato de dois filhos (José Eudes Teixeira e João Pedro Teixeira Filho).
Vendo sua vida familiar sendo destruída e sem ter a quem recorrer contra toda essa violência, Elizabeth passou a viver na clandestinidade.
Saiu de Sapé, foi para São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, e adotou o nome de Marta Maria da Costa, onde permaneceu escondida por 17 anos, lavando roupa e dedicou-se à alfabetização de crianças mantendo viva a essência de sua luta. Em 1981, com ajuda de seus dois filhos, o cineasta Eduardo Coutinho reencontrou Elizabeth Teixeira, que retratou sua história no documentário Cabra Marcado para Morrer.
Em 2006 foi homenageada com o Diploma Bertha Lutz, também conhecido como Prêmio Bertha Lutz, foi instituído pelo Senado Federal do Brasil para agraciar mulheres que tenham oferecido relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no Brasil. Homenageia a bióloga brasileira e líder feminista Bertha Lutz.
Recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós de 2024 da Câmara dos Deputados. Elizabeth Teixeira é memória viva da história das Ligas Camponesas no estado da Paraíba. Desde o assassinato do seu companheiro, João Pedro Teixeira, militante das Ligas Camponesas e fundador da Liga de Sapé-PB, ela passou a ser a identidade e a força para a trajetória de milhares de famílias camponesas por esse país em busca de respeito, direitos garantidos e vida digna.
Nas palavras de Elizabeth Teixeira: “Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos aqueles que são oprimidos e explorados. Não pode parar.”
Comemorar o centenário de Elizabeth Teixeira é mais do que uma homenagem; é um compromisso coletivo com a memória e a história das lutas camponesas no Brasil. A ativista histórica na luta pela terra, Elizabeth Teixeira merece ter seu nome incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Criado em 1992, o livro reúne protagonistas da liberdade e da democracia, que dedicaram sua vida ao país em algum momento da história. A inscrição de um novo personagem depende de lei aprovada no Congresso.
Abdias Duque de Abrantes Advogado, jornalista, servidor público, graduado em Jornalismo e Direito pela UFPB e pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP), que integra a Laureate International Universities.
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