Educação

É preciso criar, não basta interagir

Mudança


08/05/2014



 Os jovens atuais já estão habituados a interagir com a tecnologia, mas poucos conseguem usá-la de maneira proativa, para criar e projetar, diz o especialista americano Mitchel Resnick, diretor do Lifelong Kindergarden Group do Laboratório de Mídia do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

E, segundo ele, habilidades de criação, design e criatividade se tornarão cada vez mais importantes para as sociedades futuras.

O grupo de Resnick pode ser traduzido literalmente como "Grupo de jardim de infância para a vida inteira", com o objetivo de replicar os métodos de ensino criativo que vivenciamos no jardim da infância nas outras fases da vida.

Entre os projetos dele estão um software gratuito de programação (http://scratch.mit.edu/) que visa estimular a criação (e compartilhamento) de histórias e jogos pelos usuários ao redor do mundo.

Ferramenta: Professor é chave para o sucesso no uso de tecnologia na sala de aula

Resnick esteve no Brasil nesta semana para uma palestra no evento educacional Transformar e conversou com a BBC Brasil por telefone:

BBC Brasil: A partir de seus estudos, que habilidades acha mais importantes para as profissões do futuro?

Mitchel Resnick: Em nossos projetos, colocamos ênfase em ajudar os jovens a pensarem de forma criativa, raciocinarem de forma sistemática e trabalharem de forma colaborativa. São todas habilidades essenciais para a sociedade atual e para obter sucesso.

E destaco especialmente o pensar de forma criativa, porque vivemos em um mundo em que as coisas mudam mais rapidamente do que nunca em nossa história. Sabemos que as crianças de hoje vão se deparar com muitas situações inesperadas em suas vidas e precisarão pensar e reagir criativamente a isso. E, para estimular essa criatividade, precisamos dar às crianças a chance de criar e desenvolver essa habilidade.

Como então, estimulá-las?

Mitch Resnick: Desenvolvemos tecnologia e estratégias para que os estudantes criem, experimentem e colaborem entre si. Uma dessas tecnologias é um kit robótico (desenvolvido com uma fabricante de brinquedos) para ser montado e programado pelas crianças.

O software de programação Scratch também permite que as crianças programem suas próprias histórias, jogos e animações interativos e as compartilhem entre si. Elas agora são parte de uma comunidade global, podem trocar experiências e aprender umas com as outras.

Nesse processo, elas aprendem a pensar de forma criativa, raciocinar de forma sistemática e trabalhar de forma colaborativa.

A maioria das coisas em que trabalhamos na vida são projetos. Então (também) é preciso aprender a gerenciar projetos – começar com uma ideia e levá-la até uma conclusão. E isso passa por agregar ideias das diversas disciplinas que aprendemos.

Fora do ambiente escolar, pais podem estimular os filhos a desenvolver essas habilidades?

Mitchel Resnick: Certamente. É importante que pais incentivem seus filhos a criar, projetar, experimentar, explorar e pensem nisso ao comprar brinquedos.

Mas esses brinquedos sequer precisam ser tecnológicos, como programas ou robôs. Blocos de montar, lápis de cor já estimulam a criatividade.

E, ao expor as crianças a novas tecnologias, os pais devem pensar: essa tecnologia está colocando meu filho em uma posição de comando? Porque não queremos que a tecnologia seja a força de comando, mas, sim, a criança. Para que a use de forma a desenvolver pensamento criativo, sistemático e colaborativo.

Em uma de suas entrevistas, o senhor falou que é como se conseguíssemos "ler", mas não "escrever" com a tecnologia.

Mitchel Resnick: Muitas crianças hoje têm acesso às novas tecnologias, estão muito à vontade com elas, usam de muitas formas diferentes. Mas em geral esse uso envolve navegar (na internet), conversar e jogar jogos.

Ou seja, elas interagem com a tecnologia, mas muitas vezes não sabem projetar, experimentar ou criar com ela.

E é correto dizer que mais empregos futuros dependerão dessas habilidades?

Mitchel Resnick: Sim, é correto, mas não se trata apenas disso. Isso é importante não apenas para empregos, mas também para (que a criança seja) um agente ativamente participante da sociedade futura, seja em seu ambiente de trabalho, em sua comunidade ou em sua vida pessoal.

Aprender a expressar suas ideias é muito importante. E usar as tecnologias para expressar suas ideias vai se tornar cada vez mais importante.

Além disso, ao aprender a programar, você aprende novas formas de articular, refinar e compartilhar essas ideias. Você se torna uma parte mais ativa da sociedade, pessoas que pensam melhor, inovam e são e capazes de articular suas ideias. E todo o mundo precisa disso.

No Brasil há dados indicando melhoras no ensino fundamental público, mas não tanto no ensino médio, que ainda tem taxas consideráveis de evasão escolar. Uma teoria é de que a escola é considerada pouco interessante e de pouco uso prático para jovens dessa idade. Como podemos estimular esses jovens a se interessar pela escola?

Mitchel Resnick: Precisamos estimular jovens a trabalhar em projetos que estimulem seu interesse e sua paixão. Vemos que quando jovens trabalham em coisas com as quais se importam, eles se dispõem a se esforçar e investir tempo, eles perseveram.

Infelizmente, a maioria das escolas não lhes oferece essa oportunidade.

 



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