Cultura

Dia Nacional do Livro Infantil: leitura deve ser estimulada desde cedo

Educadores mostram como incentivar hábito em casa e na escola


18/04/2021

(Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Agência Brasil



Neste domingo (18) comemora-se o Dia Nacional do Livro Infantil. A data foi escolhida porque, nesse dia, em 1882, nasceu o escritor Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil brasileira. A data celebra esse gênero literário e homenageia o escritor, autor de clássicos como Sítio do Pica-Pau AmareloO SaciFábulas de NarizinhoCaçadas de Hans Staden e Viagem ao Céu.

De acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, o número de crianças leitoras cresceu de 2015 a 2019, período em que 48% disseram que leem por gosto. A prática da leitura contribui para o desenvolvimento de capacidades como pensar, interpretar, falar, aprender e conviver.

Em tempos de uso de tantas telas, como tablets, celulares e televisão, e agora com o ensino remoto, os livros infantis ainda têm espaço na rotina das crianças? A doutora em educação pela Universidade de São Paulo Diva Albuquerque Maciel diz que sim.

 

Biblioteca Parque é reaberta com Salão Carioca do Livro
Telas têm de ser usadas em favor do livro, e não como concorrentes, diz especialista . (Foto: Tomaz Silva/Arquivo/Agência Brasil)

 

“As telas são grandes concorrentes do livro, mas temos que usar todos esses recursos em favor do livro, e não como concorrente. O livro tem um formato muito importante para a formação da língua escrita, temos que usar estratégias para aliar, já que a língua escrita precisa ser estimulada. Uma das estratégias é saber quais são as motivações das crianças, por exemplo, quais heróis e personagens elas buscam na internet, que possam estimular a leitura escrita de textos mais densos como gibis”. Diva é professora aposentada do departamento de psicologia escolar do desenvolvimento da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

A pedagoga Daniela Denise Batalha Santini, que atualmente é professora do 1º ano do ensino fundamental do Colégio Parque Sevilha, na zona leste de São Paulo, afirma que, mesmo com a habilidade que o aluno de hoje tem de manusear telas, o livro ajuda muito a melhorar o interesse pela aprendizagem e a capacidade de concentração.

“O livro físico tem seu valor e não pode ser deixado totalmente para trás. O livro físico precisa se fazer presente em sala de aula como instrumento palpável. O sentir o livro, o explorar, o virar de páginas fazem toda a diferença no dia a dia do aprendizado dos pequenos. Fora as experiências sensoriais, tem a visualização, o concreto. Aguçar a curiosidade, proporcionar momento de troca”, observa Daniela Denise.

Também pedagoga, Fernanda Gadelha de Freitas Miranda é professora na Escola Municipal de Educação Infantil 22 de Março e no Centro de Educação Infantil Bryan Biguinati Jardim. Para Fernanda, o hábito da leitura precisa ser estabelecido desde a infância para que se formem cidadãos autônomos, questionadores e protagonistas de sua conduta e pensamentos. “Assim, acredito que a leitura, os livros infantis, sejam facilitadores desse processo. Costumo, todos os dias, oferecer aos meus alunos oportunidades de ampliar a visão de mundo e seu repertório, com os livros que lemos.”

Fernanda destaca que muitas crianças, devido às condições sociais, não têm acesso às tecnologias. “O livro impresso ainda é uma ferramenta facilitadora nesse processo, pois permite que mais adultos e crianças sejam contemplados nesse universo. Para a criança, o concreto do livro impresso é mais atraente e aceitável, ao contrário do adulto, que tende buscar à praticidade do e-book, por exemplo.”

 

Dia Nacional do Livro Infantil
Fundamentais, livros permitem que crianças imaginem, criem e aprendam. (Foto: Marta Wave/Pexels)

 

Incentivo e diversidade temática

Diva Maciel considera fundamental o papel dos professores para estimular a leitura pelas crianças. “É preciso que os professores façam pesquisa dos livros que podem ser adotados em sala de aula, mesmo na sala remota. Ver o que elas estão buscando espontaneamente nas séries da TV, da internet. E, a partir daí, oferecer bons textos, ler com elas numa roda de leitura, ou estimulá-las a escrever e ler para turma na roda, por exemplo.”

É o que tem feito a professora Daniela, que trabalha os livros de forma descontraída, em de rodas de conversa. “Com momentos dirigidos e outros momentos livres, fazendo sempre um trabalho educativo, alinhando com o conteúdo desenvolvido, com temas atuais e muitas vezes trazendo discussões acerca de fatos do cotidiano. O momento da roda de conversa é mágico e encantador. É gratificante ver os pequenos interagindo com este universo da leitura, com seus colegas e professores.”

A professora Diva chama a atenção também para o estímulo à diversidade étnica e cultural na literatura infantil. “Lemos muito para os nossos filhos as histórias clássicas dos contos de fadas, mas, hoje em dia, temos que lembrar que são histórias que estão no formato de reis e rainhas brancos. Hoje sabemos que é importante trazer os contos em que os personagens são negros e têm outras etnias, e já existe muita coisa publicada. Nós somos um país miscigenado. No entanto, a cultura branca continua sendo dominante. É importante trazer outros tipos de livros infantis para ler para as nossas crianças”.

Diva indica a Afroteca Audiovisual Infantil, com livros com diversidade étnica e destaca que o Brasil é rico nessa diversidade cultural. “Nós temos uma oferta de grandes textos que envolvem a nossa cultura popular, nosso cancioneiro, nossos personagens. Monteiro Lobato foi um autor que utilizou bastante essas possibilidades.”

 

Nova tributação pode desestimular leitura

Apesar de pais e professores incentivarem a leitura, a proposta de nova tributação sobre os livros pode desestimular a compra deles. O governo federal propôs, em julho do ano passado, um projeto de lei para fusão do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) em um único tributo, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Entre as alterações estão o fim da isenção do PIS e da Cofins para o mercado de livros e a cobrança da CBS com alíquota de 12%. O Congresso Nacional estuda a proposta no âmbito da reforma tributária.

O presidente da Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional (Abrelivros), Ângelo Xavier, afirma que o livro impresso é uma ferramenta muito importante na formação da criança e defende a manutenção da imunidade tributária dos livros no país. Xavier considera “um equívoco” a proposta de reforma encaminhada pelo Ministério da Economia que tributa os livros.

“Seja para os livros infantis, seja para a literatura adulta, para livros escolares, qualquer que seja a categoria de livros, isso vai dificultar ainda mais o acesso. As famílias menos favorecidas vão sofrer ainda mais. Vai haver uma concentração muito grande e poucos lançamentos de novos autores pelas editoras. Tudo que temos de positivo no mercado de livro tende a cair por terra com essa tributação. E muitas empresas, editoras, livrarias e distribuidoras tendem a ter dificuldades e até podem quebrar com a nova política, que esperamos que não se concretize”, afirma.

 

Como escolher um bom livro infantil

A coordenadora de Engajamento Social e Leitura do Itaú Social, Dianne Melo, dá dicas de como escolher um bom livro infantil. A primeira é a qualidade textual: o registro linguístico deve ser literário, ou seja, a linguagem é conotativa, utiliza figuras, e há preocupação com a escolha das palavras. “A construção textual deve estimular uma boa leitura em voz alta por parte do mediador.”

O projeto gráfico deve ter também qualidade visual, ou seja, ter capacidade de motivar e enriquecer a interação do leitor com o livro; a fonte deve oferecer boa legibilidade e as ilustrações não devem reforçar estereótipos sociais, históricos, raciais e de gênero.

É preciso ainda ter qualidade temática: o conteúdo não deve ser “didatizante” e sim dialogar com o imaginário infantil. “É importante contemplar a diversidade de contextos culturais, sociais, históricos e econômicos, além de possibilitar a reflexão das crianças sobre si próprias, os outros e o mundo que as cerca”, completa a especialista.

 

Confira 10 livros que não podem faltar na estante:

 

Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado

Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado
R$ 40,04EmpresaCOMPRAR

 

 

Menininha negra “linda, linda”, com olhos de azeitona e cabelos de noite. A fada do luar encanta os leitores e também o coelho branco que não se cansa de perguntar qual o segredo para ela ser tão pretinha. Ana Maria Machado traz na obra a tradição oral, numa fala coloquial e familiar para ser facilmente entendida por crianças.

 

 

Mulheres Incríveis, por Ciranda Cultural

Mulheres Incríveis, por Ciranda Cultural
R$ 17,42EmpresaCOMPRAR

 

 

Em Mulheres Incríveis, há descobertas sobre por que Malala Yousafzai, Frida Kahlo, Anita Garibaldi e outras entraram para a história, literalmente. Um jogo de adivinhações “Quem Sou Eu?” acompanha o livro e diverte quem lê a obra.

 

 

 

 

 

O Menino Maluquinho, de Ziraldo Alves

O Menino Maluquinho, de Ziraldo Alves
R$ 27,49EmpresaCOMPRAR

 

 

Um menino traquinas? Anjinho? Saci? Sábio? Amigão? Tudo isso é revelado na história de um dos personagens mais amados de Ziraldo Alves.

 

 

 

 

 

 

Frida Kahlo: para meninas e meninos, de Nádia Fink

Frida Kahlo: para meninas e meninos, de Nádia Fink
R$ 18,22EmpresaCOMPRAR

 

 

Mostrou o corpo, embora fosse manca. Pintou em uma tela os momentos mais tristes e mais felizes de sua vida. Apesar de todos os sofrimentos físicos, procurou a arte. E, também, lutou pelo bem do mundo. Nádia Fink traz a vida da mexicana Frida Kahlo para que crianças saibam quem foi a pintora revolucionária.

 

 

 

Turma da Mônica – Lendas Brasileiras, de Maurício de Sousa

Turma da Mônica - Lendas Brasileiras, de Maurício de Sousa
R$ 59,43EmpresaCOMPRAR

 

Na obra, Maurício de Sousa reuniu algumas das lendas mais conhecidas que crianças adoram. A diferença, agora, é que elas são apresentadas pela Turma da Mônica, o que torna muito mais divertido.

 

 

 

 

 

Amoras, de Emicida

Amoras, de Emicida
R$ 21,52EmpresaCOMPRAR

 

 

A partir da música “Amoras”, o rapper Emicida cria o primeiro livro. Por meio do texto e das ilustrações de Aldo Fabrini, ele mostra a importância de se reconhecer no mundo e se orgulhar de quem é — desde criança e para sempre.

 

 

 

Coleção Monteiro Lobato

Coleção Monteiro Lobato
R$ 41,67EmpresaCOMPRAR

 

 

O box de Monteiro Lobato contém cinco livros do selo Tatu Bola: Fábulas, O Minotouro, Aventuras de Hans Standen, Histórias de tia Nastácia e Histórias Diversas.

 

 

 

 

 

 

Extraordinário, de R. J. Palacio

Extraordinário, de R. J. Palacio
R$ 22,89EmpresaCOMPRAR

 

 

Extraordinário consegue captar o impacto que o menino August Pullman, o Auggie, pode causar na vida e no comportamento da família, amigos e comunidade. Um impacto forte, comovente e, sem dúvida, extraordinariamente positivo. Ele nasceu com uma síndrome, cuja sequela é uma severa deformidade facial. Para espalhar a mensagem de Extraordinário, o autor iniciou uma campanha antibullying, da qual milhares de crianças já participaram.

 

 

 

Revolta robótica – Andy Griffiths

Revolta robótica - Andy Griffiths
R$ 22EmpresaCOMPRAR

 

 

Os alunos da Escola Noroeste Sudeste Central sempre têm aulas sensacionais. Mas agora eles conseguiram ficar pirados de vez. O dever do dia é: como impedir uma invasão de robôs? Como destruir robôs invasores? E como correr alucinadamente se não conseguir destruir os robôs invasores? A diversão da garotada está garantida com a obra.

 

Dom Quixote das Crianças, de Monteiro Lobato e André Simas

Dom Quixote das Crianças, de Monteiro Lobato e André Simas
R$ 28,40EmpresaCOMPRAR

 

 

Quem conta a história é Dona Benta. O livro traz, em quadrinhos, as incríveis aventuras do cavaleiro andante Dom Quixote de La Mancha. O volume é uma adaptação da obra de Monteiro Lobato, Dom Quixote das Crianças, lançada em 1936 e baseada no clássico da literatura mundial de Miguel de Cervantes.

 

 

 

 

 


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