Economia
Desigualdade regional persiste na Paraíba, apesar do avanço em João Pessoa e Campina Grande, segundo dados do IFDM
17/05/2025

Paulo Nascimento
João Pessoa e Campina Grande continuam à frente nos indicadores de desenvolvimento socioeconômico da Paraíba, segundo os dados mais recentes do IFDM (Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal) e do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal). No entanto, a distância entre essas duas cidades e os demais municípios do estado expõe um cenário de fortes desigualdades regionais.
Entre 2000 e 2022, João Pessoa teve um crescimento populacional de 39,4%, quase o dobro do registrado por Campina Grande (18,1%). A capital também lidera no componente de emprego e renda, com índice de 0,7778, ligeiramente acima do 0,7642 registrado por Campina Grande.
Já a Rainha da Borborema se sobressai nos indicadores de educação (0,6025) e saúde (0,6013), ambos classificados como de desenvolvimento moderado, enquanto João Pessoa ainda registra índices mais baixos nesses dois quesitos (educação: 0,5846; saúde: 0,5866). A análise revela que, embora ambas liderem o desenvolvimento no estado, enfrentam desafios distintos que exigem políticas específicas e ajustadas às suas realidades.
O economista Ecio Costa aponta que o desenvolvimento se concentra nas duas principais cidades do estado e que o recente crescimento do PIB paraibano também se reflete principalmente em João Pessoa, onde o Polo Turístico do Cabo Branco e o setor imobiliário têm impulsionado os investimentos. “A base de comparação desses índices de desenvolvimento humano e de desigualdades sociais mostra que ainda há muito o que avançar nos municípios”, afirmou.
Cidades médias ficam para trás
O avanço das duas maiores cidades contrasta com o desempenho de cidades médias paraibanas, que, mesmo com crescimento populacional expressivo, continuam com índices de desenvolvimento baixos ou estagnados.
Santa Rita, por exemplo, teve crescimento de 32,7% no período, mas permanece com um IFDM geral de apenas 0,4489, considerado baixo. O indicador de educação é particularmente preocupante: 0,3638, faixa crítica.
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Patos, apesar do menor crescimento populacional entre os municípios analisados (+10,9%), apresenta um IFDM de 0,6148, já classificado como desenvolvimento moderado. A cidade se destaca em saúde (0,6539) e educação (0,6096), embora ainda enfrente desafios em emprego e renda (0,5810).
Bayeux chama atenção por ser a única cidade com queda populacional (-7%). O IFDM é de 0,4852, também de desenvolvimento baixo, com todos os indicadores abaixo da média — inclusive educação (0,4063).
Cidades como Sousa, Guarabira e Cajazeiras mostram realidades semelhantes, com crescimento populacional entre 12% e 15%. Embora tenham IFDMs na faixa moderada, Sousa e Guarabira continuam com todos os indicadores classificados como desenvolvimento baixo. Cajazeiras se destaca na educação (0,6282) e saúde (0,6335), mas seu desempenho em emprego e renda (0,5375) ainda é limitado.
Sapé, mesmo com crescimento populacional de 14%, apresenta um dos piores resultados gerais. O IFDM é de apenas 0,4453, com todos os indicadores abaixo de 0,5 — o índice de emprego e renda (0,4119) está próximo da faixa crítica.
Cabedelo: fora do eixo, mas acima da média
Fora do eixo João Pessoa–Campina Grande, Cabedelo aparece como uma exceção positiva. Com crescimento populacional de 33% e um IFDM de 0,6478, o município se aproxima da capital em termos de desenvolvimento. O destaque é o índice de emprego e renda (0,8150), o mais alto entre todas as cidades analisadas. No entanto, educação (0,5174) ainda representa um desafio.
Interiorização dos investimentos exige planejamento e capacitação
Ecio Costa ressalta que, apesar de haver um movimento de interiorização dos investimentos, especialmente nas áreas de energias renováveis e mineração, esses recursos ainda se concentram em poucos municípios. “Os investimentos precisam ser tratados com mecanismos que possam atrair mais mão de obra regional, que, por sua vez, precisa ser capacitada para atender às demandas que irão surgir”, destaca.
O economista chama atenção ainda para a necessidade de planejamento estratégico diante dos novos investimentos. “É preciso pensar sobre o impacto desses investimentos nos próximos 5 a 10 anos. Que infraestrutura será necessária? Que tipos de produtos e serviços serão demandados? Como outros municípios poderão se integrar com a interiorização das atrações turísticas?”.
O quadro geral reforça a urgência de políticas públicas regionalizadas e de longo prazo que promovam um adensamento produtivo sustentável, com inclusão social e capacitação da mão de obra local. A desigualdade no desenvolvimento entre os municípios paraibanos mostra que o crescimento econômico precisa ser acompanhado de estratégias mais equitativas para gerar impacto em todo o estado.
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