Futebol

Decisões polêmicas deixam Gobbi ilhado na política do Corinthians

Disputa


21/10/2013



 No conturbado ambiente corintiano, Mário Gobbi tem dado munição aos seus detratores, que estão em número cada vez maior nos últimos tempos. Com o início das discussões para formação das chapas para eleição e crise no futebol, decisões polêmicas têm deixado o presidente do Corinthians ilhado em seu próprio grupo, que está sob influência cada vez maior de Andrés Sanchez.

A relação entre os dois principais cartolas do Corinthians não é o maior problema e até melhorou nos últimos dias, mas o fato de seus aliados imediatos tradicionalmente não se darem pesa bastante. Andrés tem mais influência no clube como um todo, mas é especialmente próximo de conselheiros mais antigos, ligados ao dia-a-dia do Parque São Jorge e com influência sobre a base de sócios.

De um lado está a "turma dos apelidos", referência à maneira como são conhecidos André Luiz de Oliveira, o "André Negão", e Manoel Evangelista, o "Mané da Carne", aliados próximos de Andrés. Do outro estão conselheiros com menos tempo de clube, formação acadêmica, e que ganharam importância pela ajuda que deram na modernização recente, especialmente no que diz respeito à confecção do estatuto. São os "letrados", como foram apelidados de forma pejorativa.

As duas tendências compõem a mesma chapa política, a Renovação & Transparência, que elegeu os dois últimos presidentes. Hoje, ambas fazem críticas a Gobbi.

Desde o início da gestão, o grupo de Andrés se incomoda nos bastidores por não ter sido incluído na formação da atual diretoria. As diferenças de estilo entre Gobbi e seu antecessor também pesam, e essa ala sabe que a força acumulada pelo atual presidente está diretamente relacionada às suas presenças na formação das chapas na próxima eleição.

Hoje, todos sabem que Roberto de Andrade, atual diretor de futebol, dificilmente perderá a indicação para a presidência. A disputa, portanto, se dá pelos cargos de vice e por algumas diretorias relevantes. Essa composição é fundamental para a manutenção da harmonia do clube, e é justamente neste aspecto que Gobbi angariou críticas.

No atual corpo diretivo, dois nomes se destacam. Ilmar Schiavenato é diretor social, mas compôs uma das chapas de oposição na última eleição. Já Max Reis é diretor administrativo sem sequer ser conselheiro, e incomoda na política interna por ser uma das vozes mais ouvidas por Gobbi na tomada de decisões.

O presidente defende que a consulta aos subordinados faz parte do processo democrático. Por costume, Gobbi sempre conversa com o diretor da área afetada antes de tomar qualquer decisão, o que incomoda os críticos de seus interlocutores. O estilo mais conservador do cartola também não passa despercebido.

Um dos motivos para o pedido de demissão de Ivan Marques, ex-diretor de marketing, foi justamente a dificuldade para a aprovação de projetos na área. Ao contrário de Andrés, Gobbi é cauteloso na tomada de decisões, o que também acirra os ânimos no Parque São Jorge.

Os diretores polêmicos, outras decisões menores e a frustração com a não aprovação da mudança do estatuto, barrado por Andrés e seus aliados no primeiro semestre, transformaram grupos que eram mais próximos de Gobbi em críticos. A discordância não representa um rompimento, já que as partes mantêm relação amigável, mas aumenta a confusão no cenário político.

Hoje, o atual presidente corintiano está ciente do cabo de guerra que toma conta do clube, que só se agrava por conta da má fase do futebol. As críticas a Gobbi e seus diretores mais próximos são tão grandes que deixam outros cartolas em situação delicada.

Roberto de Andrade; Duílio Monteiro, diretor-adjunto de futebol; Luiz Alberto Bussab, diretor jurídico; e Raul Corrêa da Silva, diretor financeiro, por exemplo, têm boa relação com o presidente, mas também são próximos de parte dos conselheiros que fazem críticas a ele. Diretores mais próximos de Gobbi já usaram a expressão "cercado por tubarões" para definir o cenário.

Em público, poucos manifestam sua real opinião. Os aliados de Andrés dizem defender o grupo político como um todo e fazem pouco caso da discussão sobre eleição. Já quem está próximo de Gobbi faz questão de reforçar que as críticas não abalam a boa relação com o presidente.

Ciente da força de Andrés, Gobbi nunca teve a intenção de decidir o rumo político que o grupo vai tomar, e sempre deixou a primazia a cargo do antecessor. A crise, porém, exacerbou esse cenário.

Nos próximos meses, caberá a Andrés a formação das chapas para o início de 2015. Em pouco tempo, ele terá de compor com a maior parte dos insatisfeitos, e deve fazer escolhas bem distintas de Gobbi. Quem ficar fora do cenário criado pelo cartola terá de aquiescer ou buscar espaço na oposição, que assiste à confusão animada com suas perspectivas.



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