Geral

DE CRIANÇA E DE PROFESSOR


18/10/2003



Na semana passada comemorou-se o dia das crianças e do professor. O primeiro foi comemorado na minha casa, com meu filho Daniel, da 6a série, fazendo pesquisa sobre trabalho e prostituição infantil, drogas, e doenças sexualmente transmissíveis. Que barra, pensei! Já não se fazem mais infâncias como antigamente! E olha, que me dava um pouco de aflição ver meu filho tão pré-adolescente, tão imbuído do lado sombrio da vida.

Precisava ver seu interesse e discernimento. Pesquisa para cá, discussão prá lá, internet, números, estatísticas, e aos poucos, ele próprio tirava suas conclusões, opinava e se indignava, com o seu português ainda precário nos acentos e ponto e vírgulas, a exigir providências do Governo e Instituições. O mais legal foi que o trabalho era de grupo, e o seu grupo era composto só de meninas, e no meio desses assuntos pesados, ele, Daniel, descobria as delícias das diferenças. Pronto! Pensei. Taí um dia das crianças politicamente correto. Será? Fiquei com nostalgia de um outro tempo mais para trás, quando do meu filho mais velho Lucas (20), que também no dia das crianças, deixei que convidasse os amigos/gangue da rua, para que nesse dia só seu, dessem margem à criatividade.

Disponibilizei o muro da casa e as paredes do terraço, para que pintassem o 7. Nossa casa ficou toda colorida de giz, ceras, vermelhos e amarelo-manga (!), e todos do bairro a pensar que uma nova escolinha infantil acabara de inaugurar. Ficamos anos com esse design/recreio na fachada da casa, até que um outro dia não mais das crianças, baldes de cal na mão, e tinta prá que te quero!

Ah! O professor! De presente só ganhei uma agendinha/propaganda do meu banco, acho que pelo fato da minha conta pedir Socorro! Quanto à profissão, acompanhei algumas reportagens do Jornal Nacional sobre esta força/tarefa no Brasil. E fiquei a pensar em quando a gente é pequeno e que as pessoas fazem a famosa pergunta: O que você quer ser quando crescer? Nunca soube muito bem responder à essa questão, e até hoje essa pergunta me persegue. Talvez Freud explique! Das duas uma: Ou ainda acho que vou crescer…o que acho pouco provável…ou ainda estou a ver navios! Gosto de várias coisas, e essa falta de foco, e dispersão, por muitos anos me perseguiu achando que não dava para nada…Então, virei professora!

Mas a sala de aula impõe disciplina e sistematização. E quando dei por mim, estava Professora! E uma das minhas preocupações interdisciplinares na sala de aula, é instigar os alunos, principalmente as alunas, a se perguntarem do que gostam de fazer, ao invés do que querem ser quando crescer. É tarefa do professor levar o aluno/a a olhar para dentro, descobrir-se, incluir-se e também excluir-se; o fator eliminação deve ser levado em conta – detesto matemática, portanto nada de cálculos e áreas afins. Nem sempre é tudo tão claro assim. Mas ter acesso a um bom filme, um livro, um personagem, uma paisagem, um país, uma hora especial, uma qualidade, um defeito, uma possibilidade…ajuda na hora da definição do que se quer trabalhar. E é nesse pensar através de uma janela, ou do simples comer pipoca nos corredores das aulas, que as vezes se vislumbra o que se quer na vida – SER.

`…Mas se você o indagasse sobre o que era o seu trabalho, lhe olharia aberto e candidamente, com seus olhos grandes e luminosos através do seu pince-nez dourado, e lhe responderia num tom quase inaudível de barítono suave e aveludado: – ‘Meu trabalho é Literatura’´. Anton Chekhov (tradução livre de minha autoria, dessa citação do Excellent People, presente do dia do Professor da minha amiga Profª Vilani Sousa)



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