Cultura

Damião Ramos Cavalcanti debate toda a simbologia presente no brasão da APL


21/02/2025

Damião Ramos Cavalcanti

Precavido, desconfio que vaidosos se constranjam em se dizerem símbolos. Recorro ao Antigo Testamento, Livro do Gênesis, em que Jaweh modelou todos os animais e os pássaros dos céus, tornando-os coisas vivas, e coube ao animal humano nomeá-las, pôr nome a esses animais, para a eles nos referirmos e distingui-los, cada nome representando cada coisa. E dentre essas coisas, estamos nós: homem e mulher, preexistindo antes de sermos denominados. Como os outros bichos, cada um com o seu nome, o que nos reverte a animais simbólicos, objetos no universo da criação.

A Antropologia Filosófica, de Ernst Cassirer, explicitamente define o homem como animal simbólico, em toda sua concepção simbolizante. Isso é mais simples do que a definição aristotélica que nos considera um animal racional e político, o que prefeririam a ser chamados de coisa ou emblematicamente de animal simbólico, mesmo que fosse em toda plenitude simbolizante, isso seria mais simples e menos complexo. A coisa simbolizada pela respectiva palavra significante sinaliza seu conteúdo semântico, no seu mundo real e cultural.

Daí a riqueza, em todos os sentidos, da linguagem, sintetizada na palavra, ser a alma da nossa cultura. O próprio Deus quando se denomina de Verbum, eu “sou a Palavra”, propõe um verdadeiro e perfeito símbolo sobre o sentido e a profundidade desse termo. Enfim, Deus é um excelso criador de símbolos, inclusive dos homens e das mulheres, que se tornaram vaidosos ou soberbos entre si.

A ação humana da arte está bem presente no brasão Decus et Opus da Academia Paraibana de Letras, de autoria do Cônego Mathias Freire, principal articulador da criação da APL. A palavra Opus, como res ou coisa, representa o resultado do trabalho do homem ou da mulher, no caso, obra acadêmica. Desse modo, a ação humana, no que tem razão Protágoras, devém “(…) a medida de todas as coisas”, mas não deixa de ser uma produtora de símbolos, cuja ação simbolizante não cessa nas nossas ações. Enquanto se dá o nome à coisa, passamos a defini-la num conjunto lógico, a colocar-lhe limite e a trancá-la num símbolo. Opus é a coisa realizada pelo acadêmico, que se estende além dele próprio, ele assim a distingue das outras coisas também por um símbolo.

No brasão da APL, a ética não se esgota em Opus. A ação humana se embeleza pela simbologia da Decus, quando acontecem os valores transcendentes, que elevam o agir do homem. Isso é essencial como bússola da Opus. Os acadêmicos e as acadêmicas, também como produtores de símbolos, simbolizaram, no seu lema-brasão, a medida das suas coisas, a simbologia das suas ações, não cuidando apenas do trabalho como também da estética. Imortais, acima de qualquer vaidade, somos, sim, animais simbólicos.

Animais simbólicos, que se dedicaram em vida à palavra escrita ou falada, que se não bem dita, deve o silêncio aos que leem ou escutam. Contudo, o símbolo em si, por sua qualidade metonímica, é um sinal silencioso que se abrilhanta por isso. Porque seu silêncio é altamente significante, e sua força, mesmo no silêncio, fala mais alto do que qualquer voz alta ou brado, ou, mesmo no silêncio, reconduz o silêncio ao silêncio por causa do símbolo…



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