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Contador de empresa de pai de Gil Rugai diz desconhecer desfalque


20/02/2013

 O terceiro dia de julgamento do ex-seminarista Gil Rugai começou por volta das 10h48 com o depoimento do contador Edson Tadeu de Moura, que prestou serviço para a Referência Filmes, empresa de Luis Rugai. Ele falou por quase uma hora e declarou que desconhece a acusação de que Gil Rugai desfalcou financeiramente a produtora do pai.

“A contabilidade estava em ordem como é até hoje”, disse Edson Tadeu de Moura ao ser questionado pela defesa do réu, que responde em liberdade pelo assassinato do seu pai e da madrastra, Alessandra Troitino, em 2004.

A Promotoria sustenta que os supostos desfalques na Referência teriam sido praticados por Gil Rugai e estão relacionados ao crime. Por isso, o réu também é julgado por estelionato. Segundo a tese da acusação, o ex-seminarista matou o casal após seu pai descobrir que ele desviou dinheiro da empresa, falsificando cheques. Ele teria receio de ser preso por conta do rombo de mais de R$ 100 mil que teria sido aplicado nos caixas da produtora.

Por causa do suposto desfalque, Luís Rugai teria expulsado o filho de casa e o afastado da função de contabilista da Referência. A defesa contesta essa versão de que o crime foi cometido por Gil Rugai após a descoberta do desfaque. Os defensores alegam que até agora a acusação não tem provas de que esse desvio de dinheiro.

Questionado pelos advogados Marcelo Feller e Thiago Anastácio, que defendem Gil Rugai, Edson Moura respondeu que também não teve conhecimento se cheques foram falsificados na empresa. “Não sei se algo foi falsificado ou não”, disse o contador.

Segundo Moura, “é quase uma praxe” em empresas que assinaturas do dono sejam falsificadas por terceiros autorizados pelo proprietário. Apesar disso, afirmou não ser de seu conhecimento de que Gil Rugai assinasse cheques pelo pai na empresa Referência Filmes.

Indagado pelo promotor Rogério Leão Zagallo, Moura disse que era possível descobrir um desfalque se fosse feita uma "perícia contábil", o que não ocorreu.“A questão da causa da morte não foi o desfalque financeiro, foi o contador”, retrucou Zagallo após encerrar às perguntas a Moura.

Para o advogado Ubirajara Pereira, assistente da acusação, Moura respondeu que é possível perceber o desfalque financeiro em qualquer empresa anos depois. Edson afirmou ainda que Gil era o filho do dono, e não registrado na empresa. Advogados de defesa apresentaram um documento que teria duas assinaturas de Rugai, uma verdadadeira, e outra falsificada. O contador avaliou que provavelmente o pai do réu assinou o documento com a outra assinatura, o que indicaria que isso seria uma prática comum na empresa.
Sobre o comportamento de Gil Rugai, Edson Moura falou que nas duas vezes em que conversou com Luis Rugai percebeu que seu filho o chamava de “papai”. A defesa também abriu mão de ouvir o depoimento de José Eugênio Moura, irmão de Edson Moura, que atuava ao seu lado como contador da Referência. Por volta das 12h começou o depoimento de Ana Lúcia Pastore Scheitzmeyer, antropóloga arrolada pela defesa.
Na dúvida, absolve-se o réu
A professora e advogada Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, do Departamento de Antropologia da USP, especialista em antropologia jurídica, foi a segunda a depor nesta quarta-feira, como testemunha de defesa. Em menos de uma hora de depoimento, ela afirmou que estudos mostram que, “na dúvida”, o aconselhado é “sempre absolver o réu”.
A declaração da antropóloga reforça a tática da defesa do réu, que desde o início do julgamento tenta mostrar para os jurados que Gil é inocente e que as provas apresentadas deixam várias dúvidas.
Ana Lúcia afirma ter lido um trabalho acadêmico que mostra que o caso de Gil é pautado em “estereótipos.” Ela foi questionada pelos advogados de defesa sobre objetos que foram encontrados no quarto de Gil, como um vídeo de um trabalho de escola sobre o nazismo. E ainda uma carta que ele recebeu de uma amiga e que teria a informação de que Gil é homossexual, o que segundo a defesa foi até temas de reportagens à época. Ela afirma que questões morais têm influenciado júris no Brasil e prevalecido sobre o princípio do “in dubio pro reo”. “Considerado homossexual, pode ter sido relevante. Pode ser usado como algo politicamente incorreto”.
A participação da antropóloga irritou o promotor Rogério Leão Zagallo, que perguntou se ela conhecia alguma prova do caso. Ela disse que não. Zagallo perguntou ainda se ela havia lido as 6 mil páginas dos autos do processo, e ela também respondeu que não, mas completou. “Os jurados também não leram.”
A terceira testemunha que seria ouvida nesta quarta, José Eugênio Moura, foi dispensada pela defesa. Ele é irmão da primeira testemunha ouvida na segunda-feira (18), Edson Tadeu de Moura, contador que prestava serviços para a Referência Filmes, empresa de Luis Rugai.
Terceiro dia
O julgamento de Gil Rugai está no terceiro dia nesta quarta-feira e recomeçou por volta das 10h48. O júri vai ouvir as testemunhas chamadas pela defesa do réu. Por volta das 9h50, Gil já estava no plenário do júri. Ele driblou a imprensa nesta quarta e entrou por um outro acesso do Fórum da Barra Funda.

Pereira diz que mãe de Alessandra tem direito a
R$ 11 milhões da herança deixada pelo
companheiro (Foto: Kleber Tomaz/G1)
O advogado de defesa do réu, Thiago Anastácio, afirmou nesta manhã, pouco antes do início do julgamento, que "o nome do suspeito de assassinar o casal será revelado pela defesa durante os debates". Segundo ele, por causa de uma mentira contada por essa pessoa, Gil passou a ser investigado.
Na terça-feira (19), o júri foi encerrado por volta das 21h30. Ao término deste segundo dia de julgamento, tanto acusação quanto a defesa de Gil Rugai deixaram o Fórum da Barra Funda comemorando os depoimentos prestados pelas testemunhas, duas de acusação e uma de defesa, nesta terça-feira.
No entender do promotor Rogério Leão Zagallo, os depoimentos do advogado Thiago Anastacio e do delegado Rodolfo Chiarelli, que presidiu o inquérito sobre o crime, contribuíram para apontar Gil Rugai como o autor dos assassinatos.
"A acusação sai hoje (terça-feira) extremamente feliz, uma vez que a primeira testemunha disse uma série de relações entre a vítima e o seu pai. E o delegado deixou claro que não havia nenhuma outra hipótese, possibilidade, de alguém, a não ser Gil Rugai, ter matado aquelas pessoas. Não existiu nenhum outro caminho que a investigação pudesse ter trilhado naquele momento" afirmou. A motivação para o crime, segundo o promotor, "foi a descoberta dos desfalques dos cheques que o Gil Rugai andava aplicando na empresa" do pai dele.
A defesa, por sua vez, afirmou que a polícia "só viu um lado". "A polícia só sabe dar explicações considerando Gil Rugai como suspeito. Quando se começa a se perguntar sobre outras possibilidades, não há explicação nenhuma”, afirmou o advogado Marcelo Feller. Para ele, os depoimentos foram favoráveis ao réu.

“A avaliação é excelente pela defesa. Acabaram de ser ouvidas todas as testemunhas de acusação. Por incrível que pareça, absolutamente todas elas favoreceram mais a defesa do que a acusação. Todas as falhas, todas as linhas que deixaram de ser investigadas, cada suspeito que deveria ter sido investigado e não foi”, concluiu.
Delegado
O depoimento mais longo dia foi o do delegado Rodolfo Chiarelli, que investigou o crime: começou às 13h30 e terminou às 19h15. Os advogados buscaram ressaltar que o policial não investigou pontos importantes do caso e não solicitou documentos que seriam importantes para elucidar a causa dos assassinatos. “Todas as provas incriminam o Gil Rugai”, afirmou Rodolfo Chiarelli.
O promotor Rogério Leão Zagallo se irritou com a forma como os dois advogados se dirigiam ao delegado e discutiu com os defensores. Este foi o segundo bate boca acalorado no dia.

Durante os questionamentos da defesa ao instrutor de voo Alberto Bazaia Neto, o promotor Rogério Leão Zagallo protestou, dizendo que a defesa estava insinuando que a família de Bazaia estava envolvida com o tráfico de drogas das Farc, grupo de guerrilheiros colombianos. Houve discussão entre advogados de defesa e de acusação. "Nojento, Nojento", bradou o advogado Ubirajara Mangini, assistente da acusação, para Thiago Anastácio, defensor de Gil Rugai. "Nojento é o senhor", respondeu Anastácio.
Perito
O último a ser ouvido nesta terça-feira foi o perito criminal Alberi Espindola. Convidado pelos advogados do réu, ele foi a primeira testemunha arrolada pela defesa. Por cerca de uma hora e meia, Espindola contestou o Instituto de Criminalística, apontando supostas falhas no procedimento dos peritos no caso.
Para o perito, por exemplo, a polícia tinha condições de recuperar as gravações de um sistema de segurança de um shopping no qual Gil Rugai teria ido no dia e na hora do crime. As imagens, que foram apagadas, serviriam de álibi para o réu. "Mesmo naquela época, seria possível recuperar essas imagens", afirmou.
Tráfico
Pela manhã, após o depoimento do instrutor de voo, os advogados de defesa de Gil Rugai reclamaram do fato de a polícia não ter apurado com afinco uma possível ligação do tráfico de drogas com o crime.

O advogado Thiago Anastácio afirmou que Luis Rugai fazia aulas de voo em um aeródromo em Itu, no interior paulista, e que o local é ponto de entradas de drogas no Brasil. Luis fazia filmagens da aula e, consequentemente, do local onde ocorreria o tráfico de drogas.

Gil Rugai chega ao fórum nesta terça (Foto: Adriano
Lima/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)
O promotor Rogério Leão Zagallo aproveitou o tema levantado pela defesa para questionar o policial sobre outras hipóteses na época do crime. Chiarelli respondeu que ninguém, entre os familiares de Gil ouvidos, apontou à época outra pessoa ou causa que indicassem outra linha de investigação para o crime.
O crime ocorreu em março de 2004. Durante as investigações, a polícia apontou apenas Gil Rugai como suspeito. Antes dos dois dias do julgamento, o réu negou ter sido o autor do duplo homicídio.
O advogado de defesa Macelo Feller também reforçou a hipótese de envolvimento de traficantes no crime e pediu investigações.

"Acredito que existem coisas importantes que aconteceram na época, como o próprio fato de ter tido aulas de voos em lugar bastante suspeito, um lugar que é citado pela CPI do Narcotráfico como um ponto de chegada e saída de drogas do Cartel de Cáli, o que causou espantos. Membros do Gaeco há anos têm essa informação", disse.

O julgamento
Desde segunda até a noite desta terça-feira, foram ouvidas as cinco testemunhas de acusação e uma de defesa. A previsão do juiz Adilson Paukoski Simoni é que o julgamento termine até sexta-feira (22).
Caberá a sete jurados – cinco homens e duas mulheres, escolhidos por sorteio – decidirem, a partir das provas da acusação e da defesa, se Gil Rugai matou ou não pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta Alessandra de Fátima Troitino. Além do homicídio, o réu também é acusado de estelionato.
O réu, que atualmente tem 29 anos de idade, responde ao processo em liberdade, mas já chegou a ficar preso por dois anos.
Crime
O casal foi morto com 11 tiros na residência em que morava na Rua Atibaia, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. No mesmo processo pelo homicídio, Gil Rugai responde ainda a acusação de ter dado um desfalque de mais de R$ 25 mil, em valores da época, à empresa do pai. Razão pela qual havia sido expulso do imóvel cinco dias antes do crime. Ele cuidava da contabilidade da ‘Referência Filmes’.
Contra o réu, a Promotoria diz ter como provas: a arma do crime, achada no prédio onde Gil Rugai mantinha um escritório e uma pegada na porta da casa das vítimas que foi arrombada pelo assassino. Quem acusa é o promotor do caso, Rogério Leão Zagallo.



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