Política

Conheça o dono da JBS, que fez gravações de Temer


17/05/2017

Há pouco mais de uma década, o herdeiro do maior frigorífico brasileiro passaria despercebido no noticiário. Nos últimos meses, porém, seu nome tem estampado manchetes de jornais, por suspeitas de irregularidades nos negócios, que vão de pagamento de propina a favorecimento em aportes do BNDES. O executivo em questão é Joesley Batista, que preside a holding J&F, controladora de empresas tão distintas como a JBS (dona das marcas Friboi e Seara) e a Eldorado, do ramo de celulose.

Em público, ele nega as irregularidades. Mas Joesley, seu irmão Wesley Batista ou suas empresas se tornaram alvo de ao menos cinco operações da Polícia Federal em menos de um ano. Na mais recente delas, a Operação Bullish, deflagrada na semana passada, o empresário é investigado por transações envolvendo a JBS e o BNDES que teriam causado prejuízo de R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos. Wesley foi levado coercitivamente para depor.

Nascido em Formosa, pequena cidade de Goiás, Joesley acompanhava seu pai, José Batista Sobrinho (cujas iniciais dão nome à empresa), nos negócios desde jovem. A família fundou nos anos 50 a Casa de Carne Mineira, que, apesar do nome, era sediada em Anápolis, no interior goiano. O açougue pegou carona na construção de Brasília, época em que abastecia os refeitórios das grandes empreiteiras envolvidas nas obras da capital federal. Nas décadas seguintes, iniciou um processo de aquisição de frigoríficos, tornando-se uma companhia de atuação nacional.

 Mas foi na gestão de Joesley que a JBS avançou e se internacionalizou. Sua atuação na presidência executiva, entre 2006 e 2011, quando passou o bastão para Wesley, marca a consolidação do conglomerado como o maior processador de carne bovina do mundo. Foram várias as aquisições, entre elas a compra da americana Swift e da Pilgrim’s Pride, também dos Estados Unidos. No Brasil, Joesley capitaneou a compra de todas as unidades de abate e industrialização de carne bovina do grupo Bertin.
Boa parte das aquisições teve ajuda do BNDES, numa época em que criar multinacionais de bandeira verde e amareAo fazia parte da estratégia do banco, política que ficou conhecida como a da escolha dos “campeões nacionais”. Foram mais de R$ 5 bilhões em apoio financeiro, especialmente por meio de compras de participações ou subscrição de debêntures (títulos da dívida). Desde sua consolidação internacional, o JBS viu seu faturamento anual saltar de R$ 4 bilhões (2007) para mais de R$ 160 bilhões. Suas fábricas exportam para mais de 150 países.

Joesley também passou a ser conhecido fora dos limites do setor agropecuário. O conglomerado que preside é dono das marcas Havaianas, dos produtos de limpeza Minuano e do banco Original. E passou a circular com desenvoltura no meio político. Seu grupo foi um dos maiores doadores da campanha eleitoral de 2014. Apenas para a campanha de Dilma Roussef, foram mais de R$ 50 milhões.

A aproximação com o poder foi tamanha que fez Joesley sentir-se à vontade para tentar interferir na nomeação de ministros. No fim de 2014, quando o nome da senadora Kátia Abreu foi indicado para o Ministério da Agricultura, Joesley fez chegar aos ouvidos do então vice-presidente Michel Temer que ficara contrariado com a indicação. Em discurso na tribuna do Senado no ano anterior, Kátia havia criticado a JBS por prática monopolista. Foi preciso a então presidente Dilma Rousseff entrar em ação para apurar arestas.

O crescimento dos negócios fez a fortuna de Joesley e de seus irmãos aumentar. Com exceção de José Batista Sobrinho Júnior, que ensaiou carreira política e deixou a J&F, Joesley, Wesley e as três irmãs têm igual participação na holding, ao lado do pai. Mas, diferentemente deles — com exceção de Wesley, que também está no dia a dia das empresas do grupo e faz algumas aparições públicas, os demais são avessos à mídia —, Joesley se tornou figurinha fácil em eventos sociais.

Seu casamento com a ex-apresentadora da Band Ticiana Villas Boas teve show de Ivete Sangalo e da dupla Bruno e Marrone. A festa foi tema de reportagens das revistas “Caras” e “Inesquecível Casamento”, com destaque para o vestido Chanel de Ticiana, que nas semanas anteriores ao matrimônio viajou quatro vezes a Paris para fazer provas de roupa.

Com Ticiana, Joesley teve seu quarto filho, batizado com seu nome e que hoje tem dois anos. Os três primeiros, Murilo, Munir e Monize, são de um relacionamento anterior.

Ao lado da mulher, o empresário ampliou a lista de imóveis para passar o tempo com a família. Circulam informações de que ele teria comprado a ilha de Luciano Huck e Angélica, em Angra dos Reis, e o apartamento do publicitário Nizan Guanaes, em New York, no imponente Olimpic Tower, um edifício de 51 andares na tradicional Quinta Avenida, pagando US$ 15 milhões de dólares.

Com um jatinho à disposição, Joesley — que não costuma tirar férias — aproveita feriados prolongados para fazer viagens ao exterior a lazer. Em uma delas passou alguns dias no Caribe acompanhado de Fábio Cleto, ex-executivo da Caixa Econômica Federal, e do doleiro Lúcio Funaro, apontado como interlocutor do ex-deputado Eduardo Cunha. O passeio veio à tona na delação de Cleto, que acusa executivos da Eldorado (empresa do grupo de Joesley) de lhe terem pago propina para liberar recursos do FI FGTS, administrado pela Caixa.

Em entrevista ao GLOBO, em fevereiro, Joesley afirmou que mal conhecia Cleto e que o encontrara na Grécia, por acaso, quando o convidou para passar uns dias na casa de um amigo no Caribe. Perguntado se costumava levar para casa de amigos pessoas que não conhecia, disse que fazia isso de vez em quando e que não tinha qualquer conexão com o ex-executivo da Caixa.

As relações suspeitas com Cleto e outros nomes envolvidos em esquemas de corrupção fizeram Joesley ou suas empresas se tornarem alvo da Lava-Jato. Desde julho de 2016, o executivo é investigado pela PF em três operações — Sépsis, Greenfield e Cui Bono — que apuram suspeitas de pagamento de propina para liberação de recursos do FI FGTS e investimentos de fundos de pensão de estatais nas empresas do conglomerado. Este ano, mais duas entraram para o currículo do empresário: Carne Fraca, que apura irregularidades em frigoríficos, e Bullish.

Joesley — que viajava quando a Operação Bullish eclodiu — continua no exterior. Sua volta ao Brasil está prevista para o dia 22 de maio, quando prestará depoimento à Polícia Federal em Brasília.



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //