Religião
Conclave em tempos digitais: cardeais usam redes sociais para evangelizar e ganhar visibilidade na eleição do novo papa
06/05/2025

Portal WSCOM
Às vésperas da escolha do novo líder da Igreja Católica, o Vaticano vive um momento que combina tradição centenária com estratégias contemporâneas: a crescente atuação de cardeais nas redes sociais. Plataformas como X (antigo Twitter), Instagram e Facebook passaram a ser ferramentas para evangelização, comunicação institucional e, indiretamente, para aumentar a visibilidade de nomes fortes ao papado.
A mudança de comportamento é visível. Segundo a consultoria italiana Arcadia, cardeais como Timothy Dolan, dos Estados Unidos, e Luis Antonio Tagle, das Filipinas, estão entre os mais ativos digitalmente. Dolan compartilha vídeos diários com reflexões e atividades religiosas, enquanto Tagle mistura mensagens de fé com conteúdos pessoais — como um vídeo em que canta Imagine, de John Lennon, gerando críticas e elogios.
No Brasil, Dom Odilo Scherer se destaca por seu engajamento no X, onde reúne mais de 150 mil seguidores e tem utilizado o espaço para explicar o funcionamento do conclave e compartilhar bastidores de sua participação em celebrações no Vaticano.
Curiosamente, mesmo aqueles que não mantêm perfis pessoais, como o italiano Pietro Parolin — apontado como um dos favoritos à sucessão —, têm forte presença digital. Parolin não posta diretamente, mas liderou o volume de interações nas redes entre abril e maio, com mais de 300 mil menções, segundo o levantamento da Arcadia.
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Outros cardeais, como Péter Erdõ, da Hungria, só passaram a usar as redes sociais após a morte do papa Francisco. Erdõ afirmou que o próximo líder da Igreja não deve agir como um CEO, mas como um guia espiritual para 1,3 bilhão de católicos ao redor do mundo.
Esse novo cenário reflete o legado de Francisco, considerado o pontífice mais conectado da história. Ainda em 2018, ele alertava sobre a importância da internet como “um dom de Deus e uma grande responsabilidade”. Agora, seus possíveis sucessores parecem levar a mensagem a sério.
Uma tradição de séculos adaptada aos tempos modernos
Enquanto os cardeais se movimentam online, o mundo católico volta os olhos para a realização do conclave — cerimônia fechada que definirá o novo papa. Com a atual sede vacante, cresce a expectativa de um processo ágil. Especialistas preveem uma escolha breve, dado o favoritismo já delineado de alguns nomes.
A história, no entanto, mostra que nem sempre foi assim. O conclave mais curto ocorreu em 1503 e levou apenas algumas horas para eleger o cardeal Giuliano della Rovere, que se tornou o papa Júlio II. Outro exemplo de agilidade foi em 2005, quando Joseph Ratzinger foi eleito em apenas dois dias como Bento XVI, após a morte de João Paulo II.
Na outra ponta da história, o conclave mais longo durou quase três anos, entre 1268 e 1271, marcado por intensas disputas internas entre cardeais e facções políticas. A eleição só aconteceu após a intervenção de autoridades externas, e Teobaldo Visconti foi então nomeado papa Gregório X.
Hoje, o cenário é outro: mais dinâmico, com cardeais digitalmente ativos e uma Igreja atenta à velocidade da informação e à necessidade de conexão com os fiéis do século XXI. Ainda que os votos continuem secretos e a tradição do conclave seja preservada, o mundo já assiste a uma prévia dessa eleição — em tempo real, pela internet.
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