Geral

Comer, Beber, Rezar


27/03/2012



 Estou aqui em pleno domingo enfadonho, sem saber se vá ao Leblon fazendo assim Fon Fon….; revendo as matérias com os personagens de Chico Anysio, Alberto Roberto, Bozó, Sr. Popó Pantaleão, hein Terta? E pensando na vida dos domingos. E entre as diversões ou hábitos de domingo, e enquanto pensava o que e como almoçar, fiquei brincando com as caraminholas na cabeça.

COMER: A vida toda de menina e depois, não existia o hábito por aqui de se almoçar fora. Se almoçava dentro! Uma aventura, quando se tinha visitas e íamos ao Badionaldo, comer todos os pirões. Adorava o amarelinho de camarão. Outro programa dos deuses, foi quando descobri a sopa de palmito do Cassino da Lagoa. Sem falar no Jurandir e seu Cachorro quente. E ponto. Não se comia fora. Jantar então??? Era sopa de feijão e cuscuz em casa mesmo. Chovesse ou fizesse sol. Hoje, sem necessariamente precisar ser Julia Roberts, adoro comer fora, experimentar pratos, fazer piquenique (se é que ainda existe isso), e mais que tudo, sentar à mesa para filosofar. Comer para mim é atividade sagrada. Sozinha inclusive. Mas, compartilhar a hora do alimento à mesa, ainda é algo que me motiva e me alegra. Mas sei que hoje, em tempos modernos, em tempos da tela à frente, em tempos do comer correndo, o meu tempo slow, já se faz (des)comedido .

BEBER: Descobri a Cuba Libra logo cedo. Aquela coca cola que dava barato. E dor de barriga aguda! Mas era o que tomava os teens do começo dos anos 70. Depois veio um Rosé garrafão, que comprávamos no supermercado, para brincarmos de enólogos fajutos. Cerveja e chope? Não conseguia gostar, e achava mais que libertador ver alguém pedir uma cerveja num bar. De tanto admirar e insistir, hoje adoro cerveja e chope. Para dar zonzeira? Tomávamos com Steinhaeger, e ai ai!! Continuo a achar transgressor pedir uma cerveja num bar, inda mais se estiver sozinha, e sonhos de cena de cinema. Destilada? Nunca fui muito chegada. Tinha trauma do cheiro. Coisas de Divã. Depois até que apreciei. Mas só tomava em festa. E puro, com gelo. Mas, minha antipatia por Whisky não impediu que provasse os puro maltes da Irlanda ou da Escócia. Tudo nacional! Agora, cachaça São Paulo, passei uns tempos in Love. Com caldinho de peixe ou caju. Caipirinha nunca achei graça: muito açúcar e a impressão errada de que estamos a tomar suco de limão. O resultado? Desastroso. O problema é que a danada da branquinha é fuerte, e logo logo perdemos o senso, o prumo, e ficamos à margem do Rio. Mas, quem já não se embriagou, que atire a primeira pedra. No Rio também. E ficar louca, nem que seja uma vez, é imprescindível nessa vida. Pequenas loucuras, digamos assim. Hoje, com o tal de espumante, encontramos uma forma de fugir dos destilados, e saborearmos essas champanhes multi multi sabores, que com cuidados e tomados geladíssimos, ficamos chiques e mais bem comportados. Quanto a vinho? Ah! Aí o caminho é longo. Amo de paixão, mas nesse calor, não consigo ser boa companhia. Estou sempre preferindo a Devassa! Mas um bom vinho tinto, uma boa massa e um pão de alho do lado, com queijos e frios salpicados, ainda é hors concours! Comer um bom prato e beber uma bebida boa…transcende qualquer conflito, e se estabelece um dos prazeres maiores. Tenho horror à restrições alimentares. E o jeito?

REZAR: Estudei em colégio de freiras, Lourdinas, e logo logo me atordoei em confessar pecados que não entendia, comungar solenemente, e rezar orai pro nobis….; primeira sexta feira do mês; primeira comunhão; retiro; semana santa; procissão; tudo estava lá, de terço na mão e véu rendado na cabeça. Mas sempre fui meio cética a todos os eventos, e questionava mais que me entregava à sublimação. Mas o meu ceticismo não me impede de rezar, agradecer, me consternar, e rezar mais, pedir, e me abstrair na imensidão do mistério. Passei muitos anos da vida fazendo oferendas pessoais, catando flores no caminho de casa, e jogando ao mar; imaginando Iemanjá e com respeito à Nossa Senhora; o movimento do ri e vir das ondas, me levava ao ciclo da vida, pedindo para meus entes queridos viajarem tranquilamente seus percursos de luz. Acho que sou mística e tenho religiosidade dentro de mim. Uma certa transcendência e também humildade diante do desconhecido. Mistério sempre há de pintar por aí! A natureza me assusta e me aterroriza, pela sua imensidão e beleza, mas é a arte que me faz esse diálogo com o sublime e sou capaz de me ajoelhar diante da dança de Pina Bausch; do cinema de Felinni e Almodóvar, da música de Chico,Caetano, Marisa,Tulipa ou Beatles ou Cole Porter, da poesia de Adélia Prado, Clarice e Virginia Woolf, ou de uma orquestra tocando desde as sonatas de Beethoven à dança cossaca. Uma bateria de Escola de Samba também faz tremer. Qualquer manifestação artística enfim, desde a mais erudita até D. Lindalva fazendo suas bonecas de pano, lá em Bayeux. Quando vi A Guernica em Nova York, nos anos 70´s exilada da sua terra por questões políticas, me ajoelhei ao rio sem ser Piedra, e chorei. Anos depois re-vi no seu habitat de direito, Museu Picasso, e mais lágrimas. Euforia mesmo. Êxtase! Que somente as músicas de George Harrison do álbum All things must pass, ou a trilha de Hair, deixariam meus ralos cabelos, literalmente em pé.

Por isso, quando vi o filme Comer Rezar e Amar, adaptação do livro homônimo, de Elizabeth Gilbert, com Julia Roberts, senti tanta empatia com os caminhos por ela percorridos, para fugir da dor e flertar com o auto-conhecimento; ficar provando Sardella e andando de lambreta na Toscana; tomando vinho e perambulando por lugarejos, para depois vestir um Sári na Índia (lugar que sempre quis ir e me perder nas cores e nos curries), e cantar Hare Hare!. Fiquei a pensar no meu percurso pessoal de transitar por esses três espaços religiosos ou não, mas que re-ligam, e fazem a interseção daquilo que temos de mais único e podermos conectá-lo com o outro. E se encontrar Javier Bardem pela frente, ah! Hare! Hare!

E porque hoje é domingo, vou ali no pé do cachimbo…

Em tempo: E temos concorrente na praça! Julio Rafael, estreiou nesse domingo passado, como colunista do Jornal da Paraíba. Dividiremos mais essa agora….Sucesso Juca! 

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa, 25 de Março, 2012



Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.