Economia
Com mais saques na poupança, BC estuda maneiras de viabilizar financiamentos imobiliários; economista avalia cenário como “conjuntural”
Desinteresse pela poupança pressiona o BC a criar alternativas para manter os financiamentos habitacionais. Economista vê cenário como temporário.
12/06/2025

(Foto: Sérgio Lima/Poder360)
Anna Barros
Desde 2021, a caderneta de poupança vêm registrando mais saques do que depósito, o que reflete um claro desinteresse da população neste tipo de aplicação. No entanto, esta é a principal fonte de recursos que viabilizam financiamentos para a compra da casa própria.
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Diante deste cenário, o Banco Central (BC), está discutindo com as instituições financeiras um modelo alternativo de financiamento para manter o setor imobiliário em pleno funcionamento.
Nesta terça-feira (10), o presidente do órgão, Gabriel Galípolo, afirmou que a nova proposta já está em desenvolvimento. “Estamos trabalhando nisso, conversando com os bancos, especialmente a Caixa, e pretendemos apresentar em breve um processo ponte que vai utilizar a captação de mercado para normalizar isso”, declarou.
Em entrevista ao Portal WSCOM, o economista e consultor financeiro Rafael Bernardino afirmou que a modernização do mercado financeiro interfere na atual forma que o brasileiro aplica o seu dinheiro, causando uma maior educação financeira. Outros recursos, como o Tesouro Direto, vêm sendo mais procurados.

“A poupança é uma forma tradicional de investimentos e o movimento atual de mais saques que depósitos é conjuntural e decorre dos aumentos significativos da Taxa SELIC e da relativa facilidade de se fazer aplicações em Títulos do Governo (Tesouro Direto) que tem taxa de remuneração maior que a poupança, não obstante o fato de que na remuneração do Tesouro Direto existe Imposto de Renda, enquanto que o rendimento da Poupança é isento desse tipo de imposto”, argumentou.
Apenas no mês passado, R$ 336,87 milhões de saques na poupança. No período de janeiro a maio, a diferença de saques e depósitos atingiu R$ 51,77 bilhões. Embora os números sejam alarmantes, Bernardino acredita que o mercado imobiliário conseguirá se reinventar suficientemente para não ser impactado negativamente.
“O impacto é significativo, mas o mercado é dinâmico e criativo e deverá criar mecanismos para obter novas formas de captação de recursos para financiar a construção civil que é um setor muito dinâmico na economia brasileira”, disse.
LCIs e LCAs
Nesta semana, o governo anunciou o novo pacote de mudanças para suprir a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Entre as medidas anunciadas, está o fim da isenção do Imposto de Renda para Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). A medida, que prevê uma taxa de 5% a partir de 2026, foi criticada por especialistas do mercado imobiliário pela possibilidade de interferência nos investimentos.
Para Bernardino, essa tributação pode impactar na volta dos depósitos na poupança. “A tributação das LCIs e LCAs pode gerar desestímulo para esse tipo de investimento e resultar num crescimento dos depósitos em poupança. Tudo vai depender dos níveis da Taxa SELIC que decorre da perspectiva de inflação e do desequilíbrio das finanças públicas”, disse.
Possíveis soluções
Embora o Banco Central ainda não tenha detalhado qual será a nova proposta para substituir a poupança como fonte de financiamento, esse diálogo com as instituições financeiras urge para a manutenção do mercado.
“Essa proposta do Banco Central, apesar de ainda não ter sido tecnicamente detalhada, é viável e necessária para o dinamismo do mercado para permitir que o segmento imobiliário continue se desenvolvendo, principalmente porque é um setor importante e é preciso reduzir o déficit de habitação na economia brasileira”, conluiu o economista.
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