Geral
“Vou festejar”
05/03/2014
Foto: autor desconhecido.
A letra dessa música, que faz sucesso na voz de Beth Carvalho, não trata apenas da traição em casos de amor, ela cabe perfeitamente nas situações de ruptura de velhas amizades ou de separações no contexto político. Expressa um sentimento de vingança a quem dedicou toda uma atenção de carinho e companheirismo e recebeu em troca a ingratidão. Se é doloroso esse sentimento, na música o “eu lírico” decide ir à forra e festejar o rompimento, admite que vai assistir de longe o sofrimento de quem causou a dissolução da aliança até então vivida.
“Chora!/Não vou ligar/Não vou ligar/Chegou a hora/Vais me pagar”. O sujeito da música faz um desabafo e, ao mesmo tempo, um prenúncio do que vai acontecer com a pessoa por quem foi abandonado. Imagina que vai chorar de arrependimento, lamentar-se pelo que fez. E ele, passado o efeito traumático do afastamento, não terá mais a mínima preocupação com o que possa estar sentindo a antiga amizade. Adverte que tudo tem seu retorno, como se diz no saber popular “aqui se faz, aqui se paga”. O “efeito bumerangue” do remorso é uma das contas a pagar pelo mal causado a alguém.
“Pode chorar/Pode chorar/Mas chora!”. E então manda o recado, não adiantam as manifestações de contrição, pode chorar. Sua dor foi curada, curta agora a sua auto reprovação pelo que fez. O choro de lamento não o sensibiliza, pelo contrário lhe dá um sentimento de prazer na desforra.
“É, o teu castigo/Brigou comigo/Sem ter por que”. É sempre assim, quem foi vítima de uma ingratidão acha sempre que não houve razão para tal atitude. E entende que sentir-se mal é o castigo adequado para quem não soube valorizar uma amizade ou parceria verdadeiras.
“Eu vou festejar/Vou festejar/O teu sofrer/O teu penar”. Pode não ser uma postura muito cristã, mas é como se fosse uma maneira de ir ao desforço pela ofensa recebida. Isso dá uma certa satisfação, um motivo para comemorar observando o outro sendo penalizado pelo que provocou.
“Você pagou com traição/A quem sempre/Lhe deu a mão”. E vem a cobrança, lembra-se de tudo o que um dia fez por essa pessoa que classifica como ingrata. Censura o comportamento e a falta de reconhecimento. No nosso cotidiano somos de vez em quando surpreendidos com fatos como esse, em qualquer que seja o relacionamento construído. Nem todo mundo sabe agradecer benefícios que lhe foram concedidos.
Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”
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