Interessante a mensagem da letra dessa música lançada pelo grupo Skank, em 2004, “Vou deixar”. O “eu lírico” quer se libertar, por um tempo, do seu relacionamento. Talvez para poder refletir melhor, pensar a respeito desse amor que está vivendo. Na linguagem figurada, a noite representa esse período de afastamento, mas deixando a sinalização de que ao amanhecer do dia pode voltar.

“Vou deixar a vida me levar/Pra onde ela quiser/Estou no meu lugar/Você já sabe onde é…”. A decisão está tomada, vai se afastar e deixar que, livremente, possa seguir o caminho que o destino lhe indicar, sem planejamento, sem ficar preso a convenções e regras. Assim, imagina poder melhor avaliar sua vida sentimental. No entanto, sua palavra não é de adeus, a pessoa por quem manifesta seu amor sabe onde encontrá-lo, se for o seu desejo. Parece que a determinação em fugir tem a ver também com a situação da parceria amorosa. “Dar um tempo”, como se diz na linguagem popular, sem estabelecer um fim, apenas solicitando uma oportunidade para que ambos reflitam melhor sobre tudo que envolva a vida em comum.

“É, não conte o tempo por nós dois/Pois, a qualquer hora posso estar de volta/Depois que a noite terminar”. Pede que não se deixe dominar pela ansiedade, tenha paciência, acalme-se e aceite que o tempo flua naturalmente. Saiba que após esse período a que se determinou ficar sozinho, “quando a noite terminar”, poderá sim estar de volta.

“Vou deixar a vida me levar/Para onde ela quiser/Seguir a direção/De uma estrela qualquer”. Quer ir sem rumo pré-estabelecido, orientado pela intuição, pelos ocasos que a vida oferecer. Experimentar a sensação de liberdade, mesmo que ocasional, para poder compreender afinal o que realmente quer.

“É, não quero hora prá voltar não/Conheço bem a solidão me solta/E deixa a sorte me buscar”. Resolve não marcar data da volta. Nega-se a cumprir calendário. Não há motivo para preocupação, ele conhece bem as sensações amargas de uma solidão. Então, saberá enfrentá-las. O que quer realmente é se sentir solto, sem amarras. E como diz aquela expressão traduzida do latim: “a sorte está lançada”, vamos ver o que pode acontecer.

Eu já estou na sua estrada/Sozinho não enxergo nada/Mas vou ficar aqui/Até que o dia amanheça/Vou me esquecer de mim/E você, se puder não, me esqueça”. Já no cumprimento do seu isolamento, tem a comprovação de algo que nunca teve dúvidas, o encontro de almas, até então vivenciado, estava escrito nas estrelas. Não consegue ver a vida sem a sua ajuda. Tem consciência de uma dependência estabelecida. Mas mantém a resolução de continuar na ideia fixa de se colocar distante, até que o dia amanheça. Isto é, até que o período de reflexão a que se propõe se finde. Quer esquecer os sentimentos e emoções que conduzem o seu viver e implora que a pessoa amada, se puder, não delete de suas lembranças a sua imagem.

“Não, não, não quero hora pra voltar, não/Conheço bem a solidão, me solta/E deixa a sorte me buscar/Não, não, não tenho hora pra voltar, não/Eu agradeço tanto a sua escolha/Mas deixa a noite terminar”. Repete, com ênfase, que não deve ser criada expectativa quanto à hora que possa voltar. Está à mercê dos acontecimentos. Manifesta-se imensamente feliz por ter sido o alguém que seu coração escolheu, mas deixa que esse tempo se conclua.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.