Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Política

Viva o povo brasileiro!


11/10/2022

Durante muitos anos, vivi as eleições intensamente. O marido candidato, participava das reuniões, das campanhas ativamente, depois perifericamente, mas adiante, ausentemente. Pensava em marketing, santinhos, frases. Tudo, uma loucura. Desgastante. No dia, o dia todo vestida a caráter. Camiseta, boné, broches, bunners, e plantada nas esquinas dos colégios fazendo boca de urna. Silenciosa ou ativamente. Não pode! ficava tensa. Mas tudo em nome da revolução! me dizia Juca. E eu, mesmo reticente, ia. Depois das 17 horas é que começava a agonia. Mas tinha cerveja e carne assada em casa. O terraço para um pouco de relaxamento. Como se fosse possível. A grande maioria dos anos era de tristeza, frustrações e – E agora D. Ana? Poucas vezes, uma alegria, uma celebração. Na sua eleição pra vereador, fomos andar na cidade no dia seguinte. Hoje, quando vou votar, não tem como não lembrar de Juca e toda a sua vida política. Sua entrega! Sua impregnação na vida política da cidade, do estado, do país. Aprendi muito. Absorvi mais. E mesmo afastada. Em casa. Acompanho pela TV, pela vida, os destinos políticos das nossas vidas. E fico a pensar – em que pé de estado estaria ele? Com certeza, rodando no meu cadilac pelos bairros e seções, sentindo o pulsar das eleições, como tanto gostava.

Durante anos não pude votar por conta da ditadura militar. Desde a redemocratização do país que votar para mim é uma festa. E uma emoção. Fico tensa, lágrimas aparecem e na hora daquela musiquinha algo dentro de mim se cristaliza. Votei. E por isso mesmo que prezo e respeito as forças democráticas.

Durante todo esse mês, observo dois homens em andaimes no prédio vizinho a rebocar suas paredes. Eu tomo café, almoço e lancho, na minha sala confortável, ou na minha varanda, observando a vida daqueles trabalhadores. De costas para o sol escaldante das tardes, ou do cansaço do perigo de se ver pendurado em cordas, e um tempo que não passa. Eu entro e saio. Eu faço a sesta e acordo. Eu como e tomo água. E aqueles homens ali. Afincados no ar. Senti tontura. Senti empatia. Pensei nos milhares que passam fome no Brasil, na volta da miséria, nos que não sabem o que vão comer, ou se vão comer. A tal da vulnerabilidade alimentar. Como posso comer e descansar com essa cena à minha frente?

Outra cena. O caminhão do lixo que passa com o fedor do seu carregamento. Para em frente ao meu prédio. Os trabalhadores cantam. Conversam alto. Deve ser para digerir melhor o cheiro forte, o trabalho incansável. Mas antes deles, um outro Senhor chega antes todos os dias de manhã cedo. E cascavia o lixão do prédio. Aqui fazemos separação do lixo, e ele com certeza, vem buscar o que dá. Latas, vidros, papelão. Ou quem sabe algum resto de comida. Algum iogurte vencido que nós, que podemos olhar as datas, aviamos fora. Não suporto essa cena. A fome tem pressa. E que tanta desigualdade! uns tem picanha e outros somente o lixo.

Domingo acabou. E o segundo turno está aí. A festa da democracia quer eleições pacíficas e respeitosas. Mas reconheçamos – está difícil. O mundo vira à direita. O Brasil tenta esse movimento extremado. Só se fala em Família, Tradição e Propriedade. Conheço esse mote. E me arrepio. O fascismo é uma pedra fundamental da sociedade brasileira. Mesmo diante de todo o horror promovido nos últimos anos, (consideremos a fome, a saúde (a tragédia da pandemia); a corrupção, as agressões às instituições); e torcemos para que, nesse novo momento tenhamos paz, e um acordar para uma retomada de um país moderno e justo. Não consigo entender a eleição de candidatos que “passaram a boiada”; que se omitiram no oxigênio de Manaus; que fala baboseira sobre ideologia de gênero (sem nem saber do que trata isso, e utilizando o termo equivocadamente), ou que riram com sarcasmo de quem morria com falta de ar. Mas, celebrei as forças transgressoras que se elegeram – negros, indígenas e trans. Outras pautas nos interessam

Eu desejo ao Brasil, aos trabalhadores rebocadores, aos lixeiros, aos famintos, às famílias tradicionais e progressistas, aos homens e mulheres que fazem esse país pulsar e crescer, um caminhar progressista. Legítimo. Que honre o nosso voto. Eu desejo um Brasil bonito.

Viva o Brasil!

Ana Adelaide Peixoto


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