Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Uma triste constatação


19/04/2016

Foto: autor desconhecido.

 

Quero me abster de emitir comentários que envolvam a discussão do mérito em relação ao conteúdo da denúncia que provocou a instauração do processo de impedimento da presidente da República. No entanto, não consigo deixar de refletir sobre o espetáculo produzido pelos deputados federais domingo durante a votação da sua admissibilidade e o conseqüente encaminhamento ao Senado.

O Brasil teve a oportunidade de acompanhar todo o desenrolar do julgamento através da transmissão ao vivo pela televisão. E, para decepção de muitos, viu revelado o baixo nível qualitativo de boa parte da composição do atual parlamento, que se mostrou despreparado politicamente e sem a consciente responsabilidade de suas funções enquanto representantes do povo.

A população, independente das diferentes posições firmadas, postou-se diante da “telinha” na expectativa de testemunhar um acontecimento histórico, diante da seriedade de que se revestia a questão submetida à análise do poder legislativo. Afinal de contas, ali se definiria a permanência de uma mandatária alçada à chefia do poder executivo pelo voto popular. Esperava-se daqueles atores da vida política nacional uma postura de respeitabilidade e sensatez na emissão dos votos, proferidos na conformidade do juízo de valor construído por cada parlamentar, relativo à questão.

Lamentavelmente não foi isso que se observou. Poucos foram os que declararam seus votos apresentando argumentos relacionados ao conteúdo da denúncia. Preferiram, em sua maioria, viver os seus segundos de glória, protagonizando cenas em que expunham o completo desconhecimento de suas elevadas responsabilidades como construtores da nossa história. Excederam-se na dedicação de seus votos a familiares que nomeavam ao microfone, usaram exageradamente o nome de Deus e adotaram atitudes de pura hipocrisia ao se afirmarem combatentes da corrupção, mesmo sendo figuras já carimbadas em investigações por cometimentos de atos que atentam contra a moral, a ética e a probidade no trato da coisa pública. Teve inclusive quem ao votar fizesse homenagem a um torturador da ditadura militar.


Os brasileiros vivendo no momento uma desesperada busca de saída para a crise conjuntural, de repente concluíram que dificilmente essa solução será encontrada enquanto tivermos uma representação política tão desqualificada e tão descomprometida com as verdadeiras demandas da Nação.

Foi muito triste essa constatação. As esperanças na superação dos graves problemas que o país enfrenta, mínguam ao percebermos o despreparado nível de muitos que formam o parlamento brasileiro. Quando vemos vários deputados exercerem seus mandatos voltados para atendimento de interesses pessoais e pautados pela emoção, desprezando o raciocínio direcionado pela razão e consonante com o benefício público, concluímos que “a luz no final do túnel” fica cada vez mais difícil de ser visualizada.

O que poderia ser um evento que pudesse passar para a História como marca importante da consolidação da nossa democracia, transformou-se numa brincadeira que nos envergonhou, não pela decisão tomada porque faz parte do jogo político democrático, mas pelo comportamento dos que imaturamente estavam mais interessados em viverem seus momentos de glória do que efetivamente debaterem o tema em exame e julgamento.

Não podemos generalizar, existem parlamentares que compreendem a importância do mandato que o povo lhes conferiu, mas, naquela sessão extraordinária, a majoritária exposição dos deslumbrados, comprometeu o conceito daquela casa legislativa.
 


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