Alberto Arcela

Publicitário e jornalista

Artes

Uma roupa que já não serve mais


02/03/2023

 

 

Ser ou não ser saudosista. Essa parece ser uma questão que vai muito além do bardo, ele mesmo um dramaturgo nunca superado muitos anos e séculos depois.

Possivelmente, esse conceito se desenvolve em dois tempos distintos – o da evolução e o da tradução do momento, que seria o somatório dos valores de uma geração, por exemplo.

Isso explica o sucesso de canções de gosto duvidoso num contexto muito particular de uma sociedade.

Por outro lado, fatores externos ou determinadas situações podem até unir esses dois extremos por um bem maior.

É o caso, por exemplo, do tropicalismo que foi beber na fonte da saudade para costurar um movimento político e de vanguarda.

Pensei nisso um dia desses quando pesquisei no YouTube áudios e vídeos de Isaurinha Garcia, a personalíssima. É dela a primeira gravação de Mensagem, aquela da carta de amor que poderia ser de alegria ou de tristeza.

A canção foi regravada anos mais tarde por Maria Bethânia e cantada entre versos de Fernando Pessoa num show antológico.

Não é uma grande canção, é bem verdade, como também não o é o coração materno, de Vicente Celestino, gravado por Caetano – ele próprio autor de Saudosismo- numa época em que o país estava ferido de morte.

Mas, é o que podemos chamar de um saudosismo de causa e efeito. A saudade enquanto um projeto maior de aprendizagem.

E, acima de tudo, sem comparações possíveis.

Conversei sobre isso com uma amiga que mora em Bonn, na Alemanha. Lá, na terra de Ludwig, a música de Beethoven é atual. E não estão todos surdos, como diz Roberto.

E também ninguém é velho e ultrapassado porque escuta suas sinfonias e sonha com suas Elises.

Muito pelo contrário.

É como se fossem todos eternamente jovens e cultos, num país onde nem todas as cartas de amor são ridículas.

E onde a saudade não é apenas uma palavra triste, quando se perde um grande amor.

É a própria essência da vida. A arte sem limites e sem fronteiras, sem dia e hora para acabar.


O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.
// //