Internacional
Uma nova Era disruptiva
10/04/2025

No dia 2 de abril do corrente ano o presidente americano Donald Trump estabeleceu um conjunto de tarifas comerciais retaliatórias para vários países, Brasil aí incluído. Já tinha estabelecido antes para o México e o Canadá, que por incrível que pareça são seus parceiros comerciais prioritários. Tal medida tem muito potencial de iniciar uma nova Era disruptiva, ou seja, um período que será marcado por mudanças profundas e imprevisíveis nos ambientes geopolíticos, econômicos e tecnológicos que terão muitas consequências sociais, sem saber, a princípio, se para melhor ou para pior, ou até para muito pior.
Me parece que esta Era se assemelha muito com outras que aconteceram em séculos passados. Do ponto de vista econômico, a primeira e a segunda revolução industrial criaram situações disruptivas. A primeira se deu entre 1760 e 1840, principalmente na Inglaterra. A segunda se deu entre 1850 e 1914, notadamente na Alemanha. Nesses períodos a produtividade do trabalho atingiu patamares nunca dantes vistos, aumentando a capacidade produtiva e a necessidade de novos mercados consumidores.
A segunda revolução industrial gestou um problema geopolítico grave e mortal. A Alemanha teve uma unificação tardia, não tendo conseguido estabelecer colônias para serem seus mercados consumidores cativos. Não aceitando a divisão do mundo como estava estabelecido, e com uma capacidade produtiva elevada, exigiu a concessão de mercados para seus produtos.
As potencias nas quais tinham mercados cativos, principalmente França e Inglaterra, não aceitaram ceder estes. Resultado, a razão econômica para a eclosão das 1ª e 2ª guerras mundiais estavam dadas. E estes foram eventos disruptivos porque as potencias econômicas, políticas e militares antes desses eventos cederam seus lugares para um novo líder, que foi os Estados Unidos da América (EUA).
Me parece que a situação econômica atual tem muitas semelhanças com aquele período. O processo de globalização e as mudanças tecnológicas levaram ao surgimento de novos players no mercado mundial, notadamente a China. Esta passou a dividir com os EUA as rédeas da economia mundial. A população dos EUA não gostou desta nova realidade, principalmente os habitantes de regiões cujas empresas se deslocaram para outros países, e elegeram Trump para tentar reverter a situação estabelecendo uma relação que se parece mais um novo colonialismo.
Porém, a China já fincou bases econômicas bem sólidas para ser desalojada apenas com ações econômicas como o estabelecendo de tarifas. E como todos sofreram aumentos de tarifas, pois ele mirou todos as economias no mundo, o potencial de ser estabelecidas novas alianças geopolíticas é enorme, dado que relações comerciais e cadeias produtivas estão com perspectiva bem real de serem desarticuladas. Esta é a razão para que as bolsas de valores no mundo todo estarem queimando volume considerável de riqueza.
O candidato a primeiro-ministro do Canadá que está a frente nas pesquisas eleitorais afirmou que a era de parceria prioritária com os EUA se encerrou, elegendo a Europa como futura prioridade para os estabelecimentos de parceiras comerciais e cadeias produtivas. A China está investindo volumes enormes de recursos nas economias da América Latina, dando prosseguimento a estratégia denominada de Nova Rota da Seda. O Brasil precisa entender o que está acontecendo nas cadeias produtivas e de suprimentos para que se insira nesta nova Era de forma vantajosa. E isto não apenas no agronegócio, mas no setor industrial também.
O atual governo dos EUA não está aprovando nada estes movimentos, dadas as novas ameaças do presidente Trump, pois taxou a China em mais 50%, elevando a tarifa para 105%. O resultado pode ser uma nova guerra por mercados, quiçá uma guerra de verdade, como no início do século passado, com potencial de ser instalada uma nova Era disruptiva, desta vez em detrimento dos EUA. Repetindo conselho dado em artigo passado, um lote maior de pipoca deve ser adquirido, pois este filme com certeza será bem mais emocionante.
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