Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Um novo pessoense


16/04/2015

Foto: autor desconhecido.

 

Nos primeiros dias de 1958 voltava a morar em João Pessoa, dessa vez de forma definitiva. Começava a viver minha história vinculada à cidade que me deu identidade pessoal, onde estudei, firmei relações sociais, trabalhei, constituí família, é o berço natal de todos os meus filhos e netos, e até hoje me incorporo a todos os seus movimentos de dinâmica urbana. Conseguimos firmar um pacto de amor que jamais se findará.

Ao chegarmos aqui, meu pai foi surpreendido com a desistência da proprietária do imóvel em manter o contrato de aluguel antes acertado. Nessa circunstância inesperada fomos obrigados a nos alojar na casa de uma tia de meu pai, Mercês, que morava na Praça do Bispo, exatamente no Casarão dos Azulejos, onde hoje funciona a Secretaria Estadual de Cultura. Portanto, minha condição de pessoense se iniciava conhecendo na intimidade um dos patrimônios culturais da cidade.

Lembro-me de que na varanda do prédio, encantado com a nova vida que me estava sendo oferecida, eu ouvia, de manhã cedo, os gazeteiros anunciando as manchetes dos jornais que circulavam naquele tempo. Não era costume adquiri-los em bancas de revistas. Nem sei se já existiam. Tudo era novo pra mim.

Interessante como, durante todo o curso de minha vida, fui me relacionando com locais, cargos e fatos, ligados ao mundo cultural. Os primeiros dias aqui vividos se situaram no centro histórico da cidade e no prédio que atualmente sedia o órgão público que define as políticas culturais do Estado.

A partir daquele janeiro de 1958 minha vida seria toda construída pelas oportunidades que a capital paraibana me ofereceria. João Pessoa ainda apresentava ares de cidade provinciana, mas já era encantadora, com suas ruas arborizadas e um povo acolhedor e simpático. Tratava-se então do marco zero de um novo tempo da minha vida. Passava a ser o mais novo pessoense.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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