Política
UM FANTASMA QUE INSISTE EM VOLTAR
13/07/2025

(Foto: Reprodução)
Por Rui Leitão
A revolução em Cuba, em 1959, acendeu um alerta permanente nos Estados Unidos. A partir de então, qualquer movimentação de esquerda na América Latina passou a ser vista como ameaça direta à segurança hemisférica. O Brasil, com um presidente que defendia reformas de base e dialogava com setores populares, rapidamente entrou no radar da Casa Branca.
Poucos dias antes do golpe militar de 1964, o coordenador da Aliança para o Progresso, Thomas C. Mann, convocou uma reunião com representantes do governo americano ligados à América Latina. Desse encontro surgiu a chamada Doutrina Mann, um documento que estabelecia o apoio dos EUA a qualquer governo latino-americano que fosse declaradamente anticomunista, independentemente de ser democrático ou ditatorial.
Durante a década de 1960, diversos países da América Latina que possuíam líderes com alguma aproximação com Moscou enfrentaram golpes militares. O Brasil seguiu essa rota. Prisões arbitrárias, repressão violenta e assassinatos políticos marcaram a nova ordem. Era o reflexo da chamada Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam influência global por meio de alianças, propaganda e intervenções diretas.
No caso brasileiro, havia a expectativa de que a crise política se aprofundasse, o que levou os EUA a planejarem uma operação militar de apoio ao golpe. No entanto, os generais brasileiros agiram com rapidez e removeram Goulart do poder antes que o plano precisasse ser executado.
Criada por John F. Kennedy em 1961, a Aliança para o Progresso pretendia ser um instrumento de desenvolvimento social, mas foi utilizada para barrar o avanço de governos considerados progressistas. No Brasil, foi fundado o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), responsável por produzir e difundir conteúdo anticomunista em rádios, televisões e jornais.
Em 1963, uma Comissão Parlamentar de Inquérito comprovou que o IBAD financiou campanhas eleitorais com recursos provenientes de empresas norte-americanas. As verbas eram destinadas a candidatos contrários às reformas de base defendidas por Goulart. Após a apuração, o presidente suspendeu as atividades do instituto, que acabou sendo dissolvido pela Justiça no final daquele ano.
Documentos revelaram mais tarde a gravação de uma conversa entre o presidente Kennedy e o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, em outubro de 1963. Na conversa, Kennedy perguntava se seria aconselhável uma intervenção militar no país. Gordon sugeria a articulação de forças políticas e militares capazes de conter ou afastar João Goulart da presidência.
Mesmo após o assassinato de Kennedy, seu sucessor, Lyndon Johnson, deu sequência à política de intervenção. Gordon conseguiu convencê-lo a preparar uma força-tarefa militar para entrar em ação caso houvesse resistência popular ao golpe. Os militares brasileiros agiram antes, sem necessidade de apoio direto.
Décadas depois, durante o governo de Donald Trump, os ecos dessa política intervencionista ressurgiram. Tentativas de interferência em processos internos de países latino-americanos voltaram à tona, inclusive no Brasil. A paranoia anticomunista permanece como justificativa para desestabilizar governos considerados progressistas, revelando que a luta por soberania e autodeterminação na América Latina ainda não terminou.
O Portal WSCOM não se responsabiliza pelo conteúdo opinativo publicado pelos seus colunistas e blogueiros.
Os comentários a seguir são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.