Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

Um cajazeirado


08/04/2015

Foto: autor desconhecido.

As pessoas que adotam Cajazeiras como sendo sua segunda terra natal são chamadas de “cajazeirados”. Eu me tornei um deles. Nas andanças de meus pais durante a minha infância, percorrendo vários municípios paraibanos, onde faziam moradia temporária, teve uma pausa de alguns anos. Fixaram residência em Cajazeiras e lá ficaram até 1957.

Com a ajuda do meu tio/padrinho e outros parentes e amigos, conseguiram construir uma casa, o que, de certa forma, concorreu para que ali permanecessem por algum tempo. Era a terra em que nasceu meu pai e isso o deixava mais feliz. Afinal de contas voltava ao seu berço, cidade pela qual sempre se declarou um apaixonado. Embora a recíproca não tenha sido tão verdadeira. Não há no município uma rua ou escola com o seu nome, retribuição em forma de homenagem que merecia pelo muito que fez por Cajazeiras e pela Paraíba. Foi, sem dúvidas, um dos seus filhos mais ilustres, não só pela produção cultural que deixou como legado, mas pela biografia em que se destaca sempre uma postura de dignidade e honradez nos diversos cargos públicos que ocupou no Estado.

Cajazeiras teve na minha vida uma importância muito grande. Mesmo após virmos morar definitivamente em João Pessoa, ainda criança, sempre voltava lá para passar férias na casa dos meus tios/padrinhos. Lembro com saudades das “Semanas Universitárias”, eventos promovidos pelos estudantes universitários do município, durante o mês de junho, quando ocorria uma intensa programação festiva de cunho sociocultural. Essa convivência constante com a cidade produziu um sentimento afetivo que me fez considerá-la a segunda terra natal.

Em Cajazeiras frequentei os primeiros bancos escolares. Conhecida por ser a cidade que ensinou a Paraíba a ler, em razão da posição de vanguarda assumida com a instalação de uma escola por um dos seus fundadores o Padre Rolim, e que se tornou o centro de educação do Nordeste. Não poderia ser um local melhor para iniciar minha vida voltada ao conhecimento do saber.

Ainda hoje mantenho relações de intimidade com Cajazeiras. Voltar lá é sempre um motivo de muita satisfação. De minha família no lado paterno ali se firmaram profissionalmente alguns dos meus primos. O mais velho deles é o médico Francisco Deusdedit, entre nós conhecido por Detinho, um primo/irmão, padrinho de Vanessa, minha filha caçula, em cuja casa me hospedo sempre que visito a cidade. Alguns dos seus filhos estão dando continuidade aos serviços de assistência médica que ele há décadas vem oferecendo aos seus conterrâneos.

Por tudo isso posso me considerar então um “cajazeirado”.

• Integra a série de textos “INVENTÁRIO DO TEMPO II”.


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