“Não há agonia maior do que aguentar uma história não contada e silenciada dentro de si” (Zora Neale Hurston)

Último dia 30 de março, recebemos numa solenidade virtual, 28 mulheres, o troféu Maria da Penha 2021. Troféu idealizado e criado em sua primeira edição no ano de 2008, pela jornalista Messina Palmeira, presidente da Associação Brasileira de Imprensa de Mídia Eletrônica seccional Paraíba – ABIME-PB. O Troféu leva o nome de Maria da Penha Maia Fernandes, vítima emblemática da violência contra a mulher que deu nome à Lei 11.340 sancionada em 7 de agosto de 2006. Esse Troféu homenageia mulheres que se destacam em ações que beneficiam, valorizam, protege mulheres e revelam a força do feminino em todos os âmbitos sociais, lítero-cultural, educacional, entre outros. Este ano, a homenagem ganhou a parceria com a Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba, entidade cultural presidida pela professora da UFPB, Bernardina Freire. E representa o reconhecimento das duas entidades pelos serviços prestados ao empoderamento feminino na sociedade atual, bem como sua capacidade de promover e estimular mudanças sociais.

Recebi a indicação com muita honra e alegria. Pela seleção em si de fazer a diferença na vida das mulheres, mas principalmente por estar ao lado de mulheres que tanto admiro, que cito representando todas as indicadas: Elizabeth Teixeira, pela sua luta; Maria Valéria Rezende, também pela sua luta na educação e pela literatura; Dos Anjos, mulher que acompanho a trajetória de trabalho incansável na educação e na espiritualidade ; Marília Arnaud – pela escrita; Maria Nazaré pelo trabalho nos Direitos Humanos; Fátima Bezerra e a sua vida política desde Nova Palmeira até o Governo do Rio Grande do Norte; Ângela Bezerra, pela sua intelectualidade; Rejane Pereira – e o seu trabalho no turismo de idosos; Janete Rodriguez e trajetória de vida; Celene, que acompanho a sua arte, desde os primórdios, e tantas outras homenageadas e seus lugares nas vidas de luta e resistência.

A violência contra a mulher é um tema que me embrulha o estômago sempre. Uma ferida aberta, e que o Movimento Feminista ou das Mulheres, não conseguiu dar conta. Avançamos tanto em tantas frentes. E essa própria Lei Maria da Penha é um avanço, um canal de denúncia, mas, enquanto precisarmos de uma lei desse tipo, significa que falhamos. Digo a humanidade falhou. Os homens falharam. Pois não se admite tais comportamentos como: pedofilia, estupro, assédios, abusos, e feminicídio, só para citar os mais violentos.

Eu comecei a escrever pelo tema da memória, mas foram as mulheres a minha grande inspiração. Em todos esses anos tenho escrito pra e por elas. Muitos temas me tocam: o cotidiano, a domesticidade, a transcendência, a maternidade, casamento, filhos, trabalho doméstico, e a violência que sofremos desde que o mundo é mundo, e em todas as culturas. Violência física e subjetiva/simbólica. A coragem feminina me transborda de solidariedade, sororidade, e amor.

Agradeço às minhas irmãs através das quais me deparei sempre com o feminino na minha vida; às minhas amigas, cotidianamente me pondo frente á adversidade e diversidade; às minhas alunas, com quem aprendi na troca; e às minhas leitoras, a quem pude/posso representar sempre. E que me alimentam.

O prêmio em si foi uma boneca de pano do artesanato paraibano. Uma arte que persigo desde menina e adolescente, dos tempos de A Nega Fulô (D. Silvia , no Recife), e da Feira de Caruaru. A boneca/bruxinha de pano, um amor que tenho pelas artesãs que fazem essas “mulherzinhas” mágicas. Quando os meus filhos, Lucas e Daniel, eram pequenos, sempre contava histórias das bonequinhas de pano que enfeitavam as minhas estantes.

E o meu prêmio em particular, ofereci à Luísa, a minha neta, tão pequenina ainda, para que ela, represente um futuro das mulheres do mundo. Uma vida plena, livre e sem violência.

Muito Obrigada!

“Não sou somente uma e simples, mas muitas e complexa” . Virginia Woolf

Ana Adelaide Peixoto – João Pessoa