Opinião
Todo dia é dia do amigo
27/07/2024
Dia desses foi comemorado o dia do amigo. Uma data que não aquece o comércio, porque não se trocam presentes, mas que aquece o coração de homens e mulheres que dividem experiências, compartilham separações e se aproximam umas das outras, algo incomum nos dias de hoje.
Pensei nisso ontem à noite, quando fui convidado por vizinhos do prédio onde moro para tomar umas e outras e jogar umas partidas de dominó.
Isso porque assim como a dama, o gamão, o botão, o carteado e até mesmo o xadrez, o dominó, até ele, tem sido vítima do etarismo porque remonta aos tempos antigos, quando não existiam streaming e, principalmente, os games cada vez mais reais.
Não conhecia todos os que ali estavam na mesa, mas eram amigos entre si, dividindo algumas matutas com limão e mel, vibrando a cada vitória e se retraindo a cada derrota de uma modalidade de jogo relegada ao esquecimento.
Foi o bastante para eu viajar de volta a um passado não tão longínquo assim, quando fiz amigos sinceros, muitos dos quais não estão mais entre nós.
Isso porque a amizade é um estado de espírito. Um bálsamo para os nossos males e um conforto para as nossas dores.
Também não necessita de uma contrapartida, uma compensação. E está sempre próxima nas ruas e quintais, presente na escola e no trabalho, com um sorriso quando mais se precisa dela e com uma lágrima quando o que mais importa é um ombro amigo.
É ela também a mais fiel companhia e a mais sagaz conselheira quando se perde um grande amor e a vida parece perder parte do seu sentido.
E o melhor de tudo é que o amigo não necessita estar sempre ao seu lado, porque diferentemente do amor, a amizade é sincera, não se deixa seduzir e também não seduz porque é um outro tipo de prazer. É mais uma satisfação, uma paz interior.
O único lado ruim da amizade é que, com o passar dos anos, muitos amigos vão ficando para trás, quase sempre os melhores, levando com eles o que de melhor a vida pôde nos oferecer.
Aqui e ali me pego pensando neles e descubro que hoje tenho mais conhecidos do que amigos, mais lembranças que presenças, mais histórias que momentos, mais solidão que expectativas.
É um caminho sem volta, uma roda sem freio, um carro desgovernado que não se consegue parar à beira de um precipício.
O segredo de cultivar a contento esse sentimento é entender a sua essência e os seus limites.
O limite tênue entre a amizade e o amor, por exemplo. Bons amigos dificilmente serão bons amantes, em se tratando de homens e mulheres, e ultrapassar essa fronteira é um erro fatal.
Além do que, o beijo do amigo é uma prova de carinho, de afeição. O abraço do amigo, por sua vez, é o compartilhamento de uma energia e de uma mútua admiração entre dois seres vivos
Por isso, preservar esses amigos de fato é como colecionar bons livros, com histórias muitas vezes lidas, e descobrir que nunca estamos sozinhos.
Mesmo que seja em meio a um campeonato de dominó ou numa partida de xadrez.
No final das contas, saber perder ou ganhar é o que importa.
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