Paulo Amilton

Doutor em Economia.

Economia

Tarifas de Trump e suas consequências para Brasil e EUA


15/07/2025

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala sobre cessar-fogo entre Israel e Irã e diz que 'precisa acalmar Israel' em 24 de junho de 2025. — Foto: REUTERS/Kevin Lamarque

Na semana passada o atual presidente dos EUA, Donald Trump, impôs via carta enviada ao governo brasileiro um tarifaço de 50% nas exportações brasileiras que tenham os EUA como destino. Em entrando em vigor as novas tarifas, produtos como carne bovina, açúcar, café, suco de laranja e calçados vão sofrer, no curto prazo, problemas de escoar sua produção. Mas não serão apenas os brasileiros que sofreram, o americanos também.

A indústria calçadista pode optar por diminuir a oferta de empregos, pois 6 em cada 10 pares de sapatos exportados tem os EUA como destino. Esses 6 pares são calçados que levam os gostos dos consumidores americanos de forma muito forte. Além do mais, 90% da produção brasileira já tem o mercado interno como destino, dificultando o escoamento dos excessos de produção que originalmente iria para o mercado americano. Poderá haver demissão neste setor por conta das tarifas.

Por outro lado, não será fácil encontrar substitutos para os calcados brasileiros sem implicar aumentos dos preços internos nos EUA. O maior produtor de calçado é a China com cerca de 11 a 13 bilhões de pares anuais, liderando tanto a fabricação quanto as exportações. Vietnã e Índia vêm em seguida, com aproximadamente 1 bilhão de pares cada, e estão crescendo rapidamente. Indonésia, Turquia e Itália também se destacam como polos importantes, com produção significativa cada um. Esses países também sofreram aumentos de suas tarifas de exportação. Aumento de preços internos nos EUA se aproximam por ai.

Os líderes do setor produtor de suco de laranja afirmam que as tarifas têm um potencial de abalo muito forte. O Brasil é o maior produtor de suco de laranja no mundo, mas apesar disto, o consumo interno é pequeno em relação ao volume produzido. O maior destino é justamente o mercado americano e aumentar sua oferta interna enquanto os produtores não encontrarem destinos alternativos no exterior para seus produtos vai ser um problema.

Neste setor o mercado americano também sofrerá, pois o Brasil é seu principal fornecedor. E as alternativas de novos fornecedores não apresentam boas perspectivas. Os outros grandes produtores de suco de laranja são a índia, a China e o México, que também enfrentam aumentos de tarifas de exportação.

O setor sucroalcoloeiro nordestino, segundo o Sindaçucar, tem perda estimada em US$ 90 milhões por ano-safra. Desde a década de 1960 existe uma rota consolidada entre os portos de Recife (PE) e Maceió (AL) para refinarias de açúcar na Florida (EUA). A operação envolve 150 mil toneladas ano e beneficia 37 usinas das regiões Norte e Nordeste.

Aqui também vai haver problema para a economia americana.  80% do açúcar consumido no mundo é de cana de açúcar. Os maiores produtores são Brasil e Índia, esta última também recebeu um aumento de tarifas e a produção americana é de açúcar de milho, que não se presta adequadamente para ser empregada na indústria alimentícia. Vai haver aumentos nos produtos que usam açúcar e são comercializados em supermercados americanos, impactando o bolso dos americanos

O volume exportado de café do Brasil para os EUA em 2024 foi de aproximadamente 8,13 milhões de sacas de 60 kg, o que representa cerca de 16 % do total das exportações brasileiras. Em termos de consumo relativo, isso constituiu cerca de 33 % do consumo total de café nos EUA em 2024.

Neste caso,  tarifas de Trump estão atingindo em cheio um dos produtos mais consumidos pelos americanos. O anúncio das tarifas desencadeou um aumento de 3,5% nos contratos futuros na Bolsa de Nova York, impactando a cadeia de abastecimento nos EUA, pois a maior parte das torrefadoras americanas depende do café brasileiro, especialmente do arábica de qualidade. Isto impactará diretamente cafeteiras, supermercados e, por fim, o bolso do consumidor.

No caso das carnes temos que o Brasil é o quinto maior fornecedor de carne bovina para os EUA, com 21% do mercado. A carne brasileira já enfrentava uma tarifa de 26,4% para entrar nos EUA, ou seja, aqui as consequências para as empresas brasileiras não serão tão dramáticas. Estimasse que a queda nas exportações seja de 3% ao ano.

Mas não será para o consumidor americano. Nossa carne é muito usada na preparação de Hamburgueres e a produção de carnes nos EUA está sofrendo uma retração de 2% até o final do ano. Tudo isto vai impactar o preço dos hamburguês e a associação de restaurantes do Texas já indicou que o aumento das tarifas elevará os custos dos alimentos e pressionará ainda mais os restaurantes e consumidores.

Somando tudo e misturando, não será apenas a economia do Brasil que vai sofrer não. O consumidor americano vai pagar o custo do aumento das tarifas também.


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