Ana Adelaide

Professora doutora pela UFPB.

Geral

SUSTO NO AR


14/09/2010

Foto: autor desconhecido.

 
Para Lucas, meu filho querido, que amanhã cantaremos Parabéns prá você!

Eu tenho pavor de avião. Mas nada que me impeça de viajar. Gracias a la vida nunca nada me aconteceu. Nada vírgula, pois alguns sustos já me fizeram ter mais medo ainda. Interessante é que esse medo, não acontece somente na hora da viagem. Ele já se estabelece alguns dias antes. Por exemplo, tento, deixar as coisas arrumadas, os segredos bem guardados, pois quem sabe, se acontecer alguma coisa….E mesmo tentando ser positiva, quando vejo me pego em flagrante e já estou deixando pistas dos meus guardados. Sim, e tenho superstição de me despedir bem bonitinho antes de partir. E também de dar beijos em quem vai embora, nem que seja até Campina Grande. Nunca se sabe…e tenho pavor de viajar sem por os pontos nos is da questão. Acho triste quando alguém morre brigado com outro. Eu, pelo menos não quero passar por isso. Nem por aquilo….

Dentre essas experiências desastrosas aerolinhas…, acho que a pior foi vindo de Londrina há alguns anos, e passamos por uma turbulência tão forte, que eu tive a certeza de que o avião caía. Pois ele caiu em três quedas mortais…e a aeromoça caiu quase no meu colo, aí aproveitei a providência divina e me agarrei com ela, que me acalmou e disse que ia passar. Como era hora do jantar, foi prato para todo lado, escuro, e terror entre os passageiros, que assim como eu, não acreditavam que fosse possível uma lataria se equilibrar novamente. O que mais me causou espanto, foi a minha reação, que de tanto pavor e medo concretizado, eu paralisei – não pensei em nada e não fiz nada. Mas essa paralisia, (e me lembrei muito do escritor irlandês James Joyce e seus personagens Dublinenses) foi tão forte no momento, que não consegui pensar nem que estava morrendo….mas ao chegar em casa, adoeci.

Em outro vôo, gente adoeceu: Uma senhora teve problemas do coração e um menino hemorragia no nariz junto de mim. E quando o comandante, pede pelo auto-falante a presença de um médico urgente, eu já penso que vamos cair nos Andes ou na Floresta Amazônica…

Também já fiquei presa por 3 horas dentro de uma aeronave, nos anos de chumbo em Portugal, esperando que prendessem um preso político, e como cheguei na hora do Golpe em 1975, assisti da poltrona , os militares tomarem o aeroporto. E eu, como uma turista aloprada, ficar sem mala, sem dinheiro, e sem espírito esportivo, por 5 dias flanando à beira do Tejo.

Semana passada, a Paraíba esteve nos noticiários nacionais por problemas de falhas técnicas…Inda bem que eu não estava nos vôos… Vejam as duas notícias:

Passageiro tenta abrir porta e obriga piloto a pousar
DE SÃO PAULO – Um passageiro da TAM teve um "surto", tentou abrir a porta de emergência durante o voo e obrigou o piloto da rota entre Guarulhos (SP) e João Pessoa (PB) a fazer pouso não programado em Confins (região metropolitana de Belo Horizonte).O passageiro foi levado a um hospital e aguarda liberação médica para embarcar em outro voo para João Pessoa.

Pássaro atinge avião da TAM após decolagem
Um avião da TAM foi atingido por um pássaro na madrugada de ontem após decolar do aeroporto de João Pessoa. A aeronave, que seguia para o Rio, precisou retornar para o aeroporto. O choque aconteceu na decolagem do voo JJ 3393.
Após retornar ao aeroporto, o avião passou por manutenção. Segundo nota da TAM, os "164 passageiros foram reacomodados em outra aeronave da companhia, que decolou da capital paraibana às 7h17 chegando ao Rio às 10h11".

Seja com surto, com pássaros, e depois de voar uma vida inteira, acho que, exatamente por esse cálculo de probabilidade e principalmente depois de ter sido mãe, o medo aumenta a cada viagem.

Ao entrar no avião, entro literalmente numa outra dimensão. Não consigo imaginar como aquela lata tão frágil pode fazer aquelas peripécias. Tudo para mim é motivo de alerta. Se o comandante fala com aquela voz aveludada: “Boa noite a todos, é o comandante que fala…”, eu já penso que ele vai dar notícia ruim. Se os comissários fazem uma cara mais fechada: Pronto! Estamos perdendo altitude! Se a aeronave fica silenciosa: Meu Deus! Tem algo de podre nesse reino dos pássaros! E assim vou. Para minimizar, encosto a cabeça na janela (fechada) e tento ficar grogue, sem Lexotan. Na decolagem e aterrissagem, rezo tudo que posso; freio com os pés; entrego a vida às Deusas; e fico horrorizada com a velocidade que aquele bichão consegue baixar e parar. E quando olho em volta, fico perplexa com a calma alheia. Um passageiro ronca, outro lê jornal calmamente, outro usa labtop, outro ainda come sem parar (antigamente, pois agora só barra de cereal), e uma outra estava enrolada num lençol , com cabeça e tudo acobertada, com certeza achando que estava na sua cama.

O certo é que, com toda a tecnologia e leis de segurança, vez por outra um pássaro gigante desses cai, e nunca se sabe se seremos nós que estaremos dentro. Eu só sei é que meu medo aumenta progressivamente aos números de viagens, e que quando boto os pés em solo paraibano, suspiro e venho para casa, exausta e feliz, por mais uma vez, ter escapado dos pássaros distraídos e dos surtos de gente como eu, que está sempre com os cintos afivelados….

Ana Adelaide Peixoto – 11 de setembro de 2010 – um dia triste para se falar de avião…!

 

 


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