Rui Leitão

Jornalista e escritor.

Geral

“Sozinho”


19/01/2014

Foto: autor desconhecido.

A música, “Sozinho” de Peninha, nasceu com o título feminino e foi gravada por Sandra de Sá em 1995. Na verdade, a letra teve como inspiração um diálogo ao telefone que o autor ouviu de sua filha com o namorado, cobrando sua presença, colocando para ele o quanto estava se sentindo sozinha. Em 1999 Caetano Veloso adaptou o título ao gênero masculino, e foi aí que estourou nas paradas de sucesso.

“Às vezes no silêncio da noite/Eu fico imaginando nós dois/Eu fico ali sonhando acordado/Juntando o antes, o agora e o depois”. A noite sempre foi a companhia dos solitários. Ela, no seu silêncio, provoca reminiscências, saudades, lembranças de algo que teima em não querer esquecer. O “eu lírico” vive essa situação, “sonha acordado” com a amada, reconstrói a história de amor que insiste em continuar protagonizando. As recordações do que viveu no passado recente, do que sente no presente e no que projeta para o futuro, nesse envolvimento amoroso.

“Porque você me deixa tão solto?/Porque você não cola em mim?/Tô me sentindo muito sozinho”. A insegurança faz com que adote um comportamento que normalmente seria diferente. Ora, todo mundo aspira pela liberdade, sem cobranças, sem pressões, sem “pegar no pé” como se diz na linguagem popular. O “eu lírico” prefere tê-la ali pertinho a todo instante, sem deixá-lo solto, “colada” permanentemente. Assim não se sentiria tão só. E essa sensação de solidão é para ele uma ameaça de perda daquele amor.

“Não sou e não quero ser o seu dono/É que um carinho às vezes cai bem/Eu tenho os meus desejos e planos secretos/Só conto pra você, mais ninguém”. O amor genuíno não morre porque o outro não está preso às suas vontades e às suas fantasias. Pelo contrário, quando alguém se sente sufocado, a primeira reação é o desejo de fugir, livre para voar. Nada mais incômodo do que se sentir propriedade de outro. Lógico que todo mundo, ao se sentir desacompanhado da pessoa amada, sente falta de carinhos e da oportunidade de falar dos sonhos e projetos para a vida a dois. São confidências que só os enamorados conseguem expressar reciprocamente. No entanto, isso não quer dizer que haja a necessidade de estarem juntos a todo o momento.

“Porque você me esquece e some?/E se eu me interessar por alguém?/E se ela de repente me ganha?”. Novamente a manifestação de insegurança. Ao imaginar o risco de perdê-la quando “some” e não lhe dá notícias, parte para o revide e questiona como ela reagiria se aparecesse outra pessoa na sua vida.

“Quando a gente gosta é claro que a gente cuida/Fala que me ama só que é da boca pra fora”. O cuidado, o zelo, a atenção, de um para o outro, não podem ser sinônimos de aprisionamento, de posse total. O “eu lírico” no seu sentimento de desamparo, passa a duvidar de que ela realmente o ame. Começa a enxergar falsidade nas declarações de amor, “fala que ama da boca pra fora”.

“Ou você me engana ou não está madura/Onde está você agora?”. Finaliza levantando suspeitas de que esteja sendo traído, enganado. Ou talvez ela não esteja suficientemente amadurecida para viver esse amor. Mas, mesmo assim, fica interessado em saber por onde ela anda.

• Integra a série de crônicas “PENSANDO ATRAVÉS DA MÚSICA”.

 


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