José Nunes

Jornalista, escritor e integrante do IHGP.

Cultura

Somos nossa própria obra


24/05/2022

Nas minhas releituras para o corrente ano coloquei como referência inevitável alguns livros indispensáveis, aqueles onde estão a água, a semente e o fertilizante para a germinar proveitosa safra.

São leituras interrompidas no decorrer de três décadas, inicialmente por causa do choro dos filhos e, no entardecer da velhice, novamente adiadas devido à atenção dada aos netos que nos rodeiam. Mas recompensado no sorriso e nos abraços de cada um.

Na interrupção de minhas leituras magnânimas, iniciadas no fervor da consciência que trariam a transmutação de minha atividade de agricultor para escritor, sendo mais cronista do que poeta, afora outros livros não menos importantes, estão Guerra e Paz, A Montanha Mágica e O Corcunda de Notre Dame.

Estes três livros os coloquei como prioridade de leituras sem, contudo, deixar de lado outras obras que ajudarão na formação de minha proposta literária.

Parece-me de bom alvitre colocar na lista de leitura alguns livros sobre o modo de fermentação de um romance, coisa que venho perseguindo sem contar o tempo porque a distância dos acontecimentos e a idade são cada vez mais exigentes.

Tenho buscado lições junto aos mestres da arte do romance e cada vez mais as exigências vão dominando a ansiedade. Espero não demorar tanto na elaboração desse projeto. O entardecer da vida ainda não apresentou as luzes das estrelas que a noite antecipa, mas urge aproveitar a claridade do dia espalhada pela planície da vida.

As experiências colocadas no papel têm sido confissões autobiográficas românticas mesmo num caráter ficcional, lembranças do além-berço, daí tantas vezes recuando para encontrar o jeito de arrumar as palavras.

Sem a pretensão de Cervantes, Tolstói, Mann ou Machado de Assis o livro em processo de gestão seja um poema revelador de minha gente. Viventes históricos, poéticos e romanescos que povoaram Serraria e Arara. Calo-me para não expressar com palavras aquilo que desejo escrito no papel, recolhendo-me à solidão na espera dos frutos que andam em rebanhos. Rebanhos de personagens que desfilam na folha de papel em branco.

Acredito na literatura feita desse silêncio e dessa solidão. Fico com Miguel de Unamuno de que “somos nossa própria obra”. Sem conceptualismo, autor e obra, como pai e filho, não serão os mesmos.

Por José Nunes


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